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Cartas Do Brasil - Brasiliana USP

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VIDA DE NOBREGA<br />

guez. Trazia este bravo Tamoyo 10 canoas, todas a ponto de guerra.<br />

Em chegando tomou por melhor assaltar de noite os Padres, matal-os<br />

e tomar o barco que os trouxera, o qual ainda não era partido.<br />

Estando o bárbaro neste pensamento, se ajuntaram os Principaes<br />

da terra a tratar das pazes. Pareceu bem entrar no conselho<br />

Ambiré. Assistiu á junta com muitos índios armados. Bem viram<br />

os Padres seu perigo, porém estavam mui confiados em Deus. Indo<br />

correndo os votos, o de Ambiré foi em primeiro logar que lhe haviam<br />

os nossos de entregar três índios seus, para os matar e comer,<br />

porque lhe tinham feito guerra com os christãos.<br />

Depois de vários dares e tomares, se acabou com Ambiré, que<br />

este ponto dos três que queria fossem entregues, se propuzesse<br />

aos Principaes da capitania de S. Vicente. Vindo elle neste partido,<br />

quiz ser o embaixador da proposta. Tomaram os Padres este<br />

conselho para metter tempo, o qual costuma em negócios intrincados<br />

desfazer grandes embaraços e descobrir novos caminhos. Os<br />

Padres escreveram aos Principaes de S. Vicente, que por nenhum<br />

caso fizessem o que Ambiré requeria, ainda que elles houvessem<br />

por isso de ser comidos dos Tamoyos, em cujo poder estavam. Fizeram-se<br />

em S. Vicente tão boas passagens a Ambiré, que depoz<br />

sua fereza e se contentou com as razões que lá se lhe deram.<br />

Após este perigo, veiu outro mais apertado. Andando ambos<br />

na praia viram que vinha voando com trinta remeiros uma canoa<br />

e nella certo índio, filho do Principal da aldeia, em que estavam<br />

os Padres; ficavam atraz outras oito canoas desta sua esquadra.<br />

Os intentos eram matar os Padres por serem, como dizia, perniciosos<br />

ao bem commum com as pazes que intentavam. Dera ordem aos<br />

seus que em chegando lançassem mão dos Padres, que elle os mataria.<br />

Vendo os Padres o fio que trazia a canoa, suspeitaram o que<br />

poderia ser. A toda a pressa se foram recolhendo para a aldeia.<br />

Apressou-se o padre Nobrega quanto poude e mais do que poude<br />

até passar a praia; no fim da qual havia um ribeiro que dava pela<br />

cinta. Não tendo o padre Nobrega tempo para descalçar as botas<br />

que trazia por causa de muitas chagas, o irmão Joseph de Anchieta<br />

o tomou ás costas, mas como ellas eram fracas, não o podendo<br />

acabar de passar, deu o Padre comsigo no meio do ribeiro e passou<br />

todo ensopado em água. Apenas houve tempo de se encobrirem no<br />

matto.<br />

Como a aldeia estava em um oiteiro alto e o Padre não podia<br />

ir por deante, tirou todo o fato, descalçou-se, até ficar em camisa.<br />

O Irmão que todo estava molhado, tomou ás costas o fato do padre<br />

Nobrega e começaram a andar: mas nem com isso o Padre podia ir,<br />

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