Cartas Do Brasil - Brasiliana USP
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ANTÔNIO FRANCO<br />
seguindo o do Padre, que logo se persuadiu seria mais conforme á<br />
vontade de nosso padre Santo Ignacio.<br />
Ao padre Luiz da Grã, seu collateral, tratava com tanto respeito<br />
e reverencia como si fora seu superior, não fazendo cousa de importância<br />
sem seu parecer e conselho, o qual facilmente tomava e<br />
seguia. Depois que o Padre foi provincial, a todos dava exemplo de<br />
obediência. Para elle bastava a minima significação da vontade do<br />
padre Luiz da Grã, provincial. Desejou muito e procurou que um<br />
Irmão pregasse em portuguez: o Irmão excusava-se; finalmente vendo-se<br />
apertado, lhe respondeu: O padre Luiz da Grã me disse á<br />
sua partida que não era nada dos Irmãos pregarem sem ordens por<br />
falta de autoridade. Com isto se calou o padre Nobrega, sem insistir<br />
mais, como que fora obediência expressa, posto que tinha para<br />
si que nada faltava ao Irmão para isso. Dahi a algum tempo foi<br />
necessário acudir o mesmo Irmão a pregar uma paixão, ao qual<br />
depois de a pregar, disse o Padre: Vós haveis de dar conta a Deus,<br />
porque não quizestes pregar até agora. E comtudo nunca mais o<br />
convidou para isso, pelo que tinha dito do padre Luiz da Grã.<br />
Não era muito ter elle esta obediência aos superiores, porque<br />
era tão humilde que aos mesmos subditos se sujeitava facilmente,<br />
seguindo o parecer delles, quando lhe davam boa razão, e deixando<br />
o próprio. Estava elle muito determinado, quando se começou a<br />
povoação do Rio de Janeiro, de mandar um Padre e com elle um<br />
Irmão por superior; dissimulou o Irmão com isso por alguns dias<br />
e depois de encommendar a cousa a Deus, disse ao padre Nobrega<br />
que não devia mandal-o por superior por algumas razões que lhe<br />
deu. Ouviu-o o Padre e cuidando nisso mudou logo o parecer despachando-os<br />
para aquella missão, juntos os mais de casa, disse: 0<br />
Padre, por ser sacerdote será superior; mas lembror-se-á, pois o<br />
Irmão foi seu mestre, do respeito e reverencia que se lhe deve ter<br />
e de tomar seus conselhos (*).<br />
Tomava muito bem e folgava que os Irmãos fossem avisados<br />
de outros Padres e Irmãos, que lhe parecia o podiam fazer ainda<br />
que fosse deante delle mesmo. Uma vez, queixando-se o Irmão<br />
mestre da grammatica de si mesmo, porque diante delle os reprehendia<br />
algumas vezes, respondeu-lhe o Padre: Fazei-o assim, Irmão,<br />
fazei, folgo muito que nisso me ajudais. Quando se achava<br />
alguns tempos só sem sacerdote, confessava-se com algum Irmão,<br />
desejando descobrir suas faltas e ser reprehendido e recebia delia<br />
a absolvição geral da missa. Uma vez com este espirito de humil-<br />
(*) O irmão era Anchieta e o padre Gonçalo de Oliveira, que já era sacerdote,<br />
quando entrou para a Companhia. — G.<br />
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