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Cartas Do Brasil - Brasiliana USP

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VIDA DE NOBREGA<br />

sinava com o exemplo. Em cousas graves esperava, quanto era<br />

possível, resposta de Roma ou Portugal, ainda que lhe parecesse<br />

que as podia determinar por si. Quando, depois de muito tempo<br />

encommendar o negocio a Deus, se resolveu de ir ao rio da Prata<br />

por terra, estava tão dependurado de querer saber a vontade de<br />

nosso padre S. Ignacio de Loyola, que esperava lhe seria clara<br />

como o parecer do padre Luiz da Grã, seu collateral, que estava<br />

ausente, que tinha promettido 20 missas de alviçaras a quem lhe<br />

desse, novas de sua chegada a S. Vicente, e posto que estava já<br />

para se partir, por não perder a occasião boa, que então tinha da 1 -<br />

quella gente castelhana, principalmente para que com sua presença<br />

e autoridade que tinha com os índios, os ajudar a passar para<br />

suas terras a salvamento, comtudo deixava ordenado que si chegasse<br />

o padre Luiz da Grã o fossem chamar a muita pressa, ainda que<br />

fosse muitas léguas pelo sertão a dentro.<br />

Como Nosso Senhor ordenou que no mesmo dia que estava<br />

para partir lhe chegasse a nova, logo desistiu de tudo, até se ver<br />

com elle. E chegando-lhe o recado a Piratininga ás 9 ou 10 horas<br />

antes do meio dia, logo no mesmo dia se partiu para o mar, sem<br />

querer deixar descansar o Irmão, que lh'o levava, e chegando a<br />

uma villa dahi a três léguas a pousar, lhe mandou fazer a doutrina<br />

aos índios da terra. Ao seguinte dia andou mui grande e áspero<br />

caminho a pé e mais do que pareciam soffrer suas forças e chegando<br />

quasi noite ao mar se embarcou em uma pequena canoa de<br />

casca, para passar umas três léguas que havia até a villa. Sobreveiu<br />

a noite com grande escuridade, lormentas e chuva e foi forçado<br />

recolher-se á terra.<br />

Estava alli um homem poderoso pouco bem affecto ao padre<br />

Nobrega e que então de fresco estava mui indignado contra elle;<br />

á casa deste se recolheu, atinando com a porta ás apalpadellas,<br />

confiando em Deus de o ganhar com isto e tornal-o a reconciliar<br />

e disse ao Irmão seu companheiro: Ide vós adiante e dizei-lhe que<br />

estou aqui e faça elle o que quizer. O homem, ouvindo o recado,<br />

esquecido de seus aggravos, sahiu logo acompanhado de seus escravos<br />

com muito lume e levou o Padre nos braços e o vestiu com<br />

seus próprios vestidos e o mesmo fez ao Irmão, agasalhando-os com<br />

muita charidade e queixando-se por querer passar o Padre com tal<br />

tempo, estando alli sua casa, e dalli por diante ficou grande amigo<br />

do Padre e da Companhia, na qual depois o mesmo Padre lhe recebeu<br />

um filho. Finalmente não descansou até o outro dia se ver<br />

com o padre Grã e tratando com elle o negocio desfez logo toda a<br />

traça de sua ida ao rio da Prata, deixando seu próprio parecer e<br />

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