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Cartas Do Brasil - Brasiliana USP

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VIDA DE NOBREGA<br />

manas. Achamos a terra de paz e quarenta ou cincoenta moradores<br />

na povoação que antes era. Receberam-n'os com alegria.<br />

Achamos uma maneira de igreja, juncto da qual logo nos aposen-^<br />

tamos os Padres e Irmãos em umas casas a par delia, que não foi<br />

pouca consolação para nós, para dizermos missas e confessarmos.<br />

E nisto nos occupamos agora. Confessa-se toda a gente da armada,<br />

digo, a que vinha nos outros navios; porque os nossos determinamos<br />

de os confessar na nau. O primeiro domingo que dissemos<br />

missa, foi a quarta dominga da Quadragesima. Disse eu missa<br />

cedo e todos os Padres e Irmãos confirmaram os votos que tinhamos<br />

feitos e outros de novo com muita devoção e conhecimento de<br />

Nosso Senhor, segundo pelo exterior é licito conhecer. Eu prego<br />

ao Governador e a sua gente na nova cidade que se começa, e o<br />

padre Navarro á gente da terra. Espero em Nosso Senhor fazerse<br />

fructo, posto que a gente da terra vive toda em peccado mortal.<br />

E não ha nenhum que deixe de ter muitas negras, das quaes<br />

estão cheios de filhos e é grande mal: nenhum delles se vem confessar<br />

ainda; queira Nosso Senhor que o façam depois." (1) Estas<br />

suas palavras, e vai dando conta dos índios e do que em seu<br />

bem podia obrar.<br />

Entrou o Padre Nobrega neste novo mundo com os padres Leonardo<br />

Nunes, João de Aspicuelta Navarro, Antônio Pires e com os<br />

Irmãos Vicente Rodrigues e Diogo Jacome, todos elles homens de<br />

singular virtude e dignos fundadores de uma tão santa e dilatada<br />

província. No que toca ao sitio da terra do <strong>Brasil</strong>, costumes dos<br />

naturaes, ainda que aqui pareciam pedir alguma noticia, por serem<br />

cousas, que andam escriptas de muitos, não ha, porque deter<br />

nisto. Só quero dizer de Santo Thomé a noticia que tem o Padre<br />

Nobrega; são suas palavras: "Dizem elles que Santo Thomé, a<br />

quem elles chamam Zome, passou por aqui. E isto lhes ficou por<br />

dito de seus passados e que suas pisadas estão signaladas junto de<br />

um rio, as quaes eu fui ver por ter mais certeza da verdade e vi<br />

com os próprios olhos quatro pisadas mui signaladas com seus dedos,<br />

as quaes algumas vezes cobre o rio quando enche. Dizem também<br />

que quando deixou estas pisadas, ia fugindo dos índios, que<br />

o queriam frechar, e chegando alli se abrira o rio e passara pelo<br />

meio á outra parte sem se molhar e dalli foi para a índia. Assim<br />

mesmo contam que quando o queriam frechar os índios, as frechas<br />

se tornavam para elles e os matos lhe faziam caminho por<br />

onde passasse. Dizia também que lhes prometteu que havia de<br />

(1) Este trecho e todos os mais reproduzidos adeante por Franco, achamse<br />

nas cartas da presente collecção.<br />

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