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Cartas Do Brasil - Brasiliana USP

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VIDA DE NOBREGA<br />

Janeiro e lançar de todo fora os Francezes. Nada mais desejava<br />

Men de Sá. Aviou com presteza o sobrinho e o despediu para o Rio<br />

nos principios do anno de 1564, com regimento que em tudo se regesse<br />

pelo conselho do padre Nobrega e lhe obedecesse como a elle<br />

em pessoa, tendo para si, que pelo grande ser que reconhecia no padre<br />

Nobrega, teriam as cousas o desejado acerto, como em verdade<br />

o tiveram.<br />

Em chegando Estacio de Sá ao Rio, despediu um barco a São<br />

Vicente a chamar o padre Nobrega. Logo se embarcou com dous<br />

companheiros e chegou ao Rio em Abril, sexta-feira da Semana Santa<br />

(10), á meia-noite, com grande tempestade, onde correu evidente<br />

perigo de ser tomado dos Tamoyos, que tinham já quebrado as<br />

pazes. Acudiu Deus neste aperto, porque amanhecendo viu entrar<br />

no porto a armada de Estacio de Sá, que o padre Nobrega imaginara<br />

estar dentro. Fora o caso que Estacio de Sá cuidando pelo<br />

que lhe dissera um Tamoyo, que a capitania de S. Vicente estava<br />

em guerra e que esta era a causa da tardança do padre Nobrega, se<br />

resolvera o dia antes a partir para ella e quiz Deus que o mesmo<br />

vento tempestuoso que metteu ao padre Nobrega dentro no rio,<br />

obrigou os galeões a nella se recolherem. Em que bem se viu o favor<br />

que Deus fizera a todos, pois o Padre por não poder sahir para<br />

fora, seria tomado dos Tamoyos e Estacio de Sá faria a jornada<br />

debalde, porque nem S. Vicente estava em guerra nem lá acharia<br />

ao padre Nobrega.<br />

Em dia de Paschoa (11) se disse missa na ilha dos Francezes,<br />

onde o padre Nobrega fez uma pratica a todos, em que procurou<br />

tirar-lhes o grande medo que tinham dos Tamoyos, pelo que delles<br />

tinha experimentado. Exhortou-os a confiar em Deus, cuja vontade<br />

era que se povoasse o Rio. Ficaram todos mui animados.<br />

Houve comtudo muitas-difficuldades em continuar a empresa, assim<br />

por falta de canoas sem as quaes nada si podia obrar, como<br />

de mantimentos; e de tudo estava o inimigo mui pujante como em<br />

paiz próprio. Portanto, assentaram ir-se refazer a S. Vicente, para<br />

onde se partiram com boa viagem.<br />

Estava a capitania por causa das guerras passadas, falta de<br />

mantimentos; por isso foi necessário mais tempo do que se cuidava,<br />

para refazer a armada. Como os mais delia tinham pouca vontade<br />

de tornar ao Rio e muitos de ir para suas casas, não cessavam<br />

requerimentos e inquietações dissuadindo ao Capitão-mór a em-<br />

(10) 31 de Março, segundo o calendário Juliano; 11 de Abril, segundo<br />

o calendário Gregoriano.<br />

(11) 2/12 de Abril.<br />

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