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Cartas Do Brasil - Brasiliana USP

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MANUEL DA NOBREGA<br />

tinuo têm guerras civis entre si, que pouco a pouco se consumem,<br />

e permittiu a Justiça Divina, a qual faz seu officio (86).<br />

Esta capitania da Bahia me parece que tem o segundo logar<br />

na maldade e os peccados d'esta se parecem mais com os daquella,<br />

porque aqui ha menos Gentio que em nenhuma, e esse se dividiu<br />

em tempo de Vossa Mercê entre si; mas, porque nella havia os peccados<br />

que bem sabe, foi destruída, e seu capitão Francisco Pereira<br />

(87) comido dos índios; e depois que El-Rei, que está em Gloria,<br />

a tornou a povoar com tanto zelo e com tanto custo, mandando<br />

a Vossa Mercê a lançar bons fundamentos na terra e Bispo e Clérigos<br />

e Religiosos para fazerem serviço a Nosso Senhor, e para que<br />

todos entendêssemos em curar esta Babylonia; mas ella não ficou<br />

curada, mas permittiu o Senhor que fosse uma nau que levava o<br />

Bispo e a principal gente da terra (88), e fosse toda comida dos<br />

índios (89). Alli acabaram clérigos e leigos, casados e solteiros,<br />

mulheres e meninos. Ainda escrevendo isto, se me renova a dôr que<br />

(86) Com effeito, Vasco Fernandes Coutinho foi desafortunado nesta<br />

sua donatária. Delle esereve Gabriel Soares (pg. 74): "No povoar desta capitania<br />

gastou Vasco Fernandes Coutinho muitos mil cruzados que adquiriu<br />

na índia e todo patrimônio que tinha em Portugal, que todo para isso vendeu,<br />

o qual acabou nella tão pobremente, que chegou a darem-lhe de comer por amor<br />

de Deus e não sei si teve um lençol seu, em que o amortalhassem."<br />

(87) Coutinho. A seu respeito veja-se o que diz Capistrano de Abreu<br />

nos Mat. e Aeh., I, pg. 77. — [Francisco Coutinho foi morto "por mão de<br />

hum irmão do moço que elle mandara matar, de edade até de 5 annos, que p<br />

ajudarão a ter a espada, e segundo dizem o não comerão" — De algumas cousas<br />

notáveis ão <strong>Brasil</strong>, in Bevista ão Instituto, XCIV, 374] — G.<br />

(88) A Queixa dos moradores da Bahia contra D. Duarte feita a 18<br />

de Dezembro de 1556 dá a seguinte relação: "Antônio Cardoso de Barros, Lázaro<br />

Pereira, Francisco Mendes da Costa, Sebastião Ferreira, que ia por procurador<br />

da cidade, marido de Clemência <strong>Do</strong>ria, a sogra de Rodrigo de Freitas,<br />

a mulher de Braz Fernandes, seu pae Antônio Pinheiro, a velha que veiu<br />

com as orphãs, o capitão Boas, o Deão e outros dois Conegos, os quaes todos<br />

iam com assás aggravos a queixar-se a Vossa Alteza e fazendo muita falta na<br />

terra e todos morreram com outros muitos innocentes." — [Conf. Varnhagen,<br />

Hist. Geral, I, 366/367, 4 a ed.] — G.<br />

(89) Blasques (Carta de 10 de Junho de 1557) diz que escaparam 10<br />

pessoas. Fr. Vieente do Salvador (Hist., 1. 3 o , c. 3 o ) escreve que apenas<br />

escaparam "dois índios que iam da Bahia e um Portuguez que sabia a lingua."<br />

Jaboatão (Orbe Ser., Dig. II, Est. III) também observa que foram<br />

mortos todos e comidos, "menos dous índios üiansos da Bahia e um Portuguez,.<br />

por serem linguas."<br />

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