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Cartas Do Brasil - Brasiliana USP

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CARTA DO BRASIL (1549)<br />

Depois que partimos de Portugal, o que foi em I o de Fevereiro<br />

de 1549, toda a armada trouxe-a Deus a salvamento; sempre<br />

com ventos prósperos e de tal arte que chegamos á Bahia de Todos<br />

os Santos dentro de 56 dias (22), sem que sobreviesse nenhum contratempo<br />

e antes com muitos outros favores e graças de Deus, que<br />

bem mostrava ser sua a obra que -agora se principiou.<br />

Desde logo se fez a paz com o Gentio da terra e se tomou conselho<br />

sobre onde se fundaria a nova cidade, chamada do Salvador (*),<br />

onde muito ainda ©brou o Senhor, deparando logo muito bom áltio<br />

sobre a praia em local de muitas fontes, entre mar e terra e circumdado<br />

das águas em torno aos novos muros. Os mesmos índios<br />

da terra ajudam a fazer as casas e as outras cousas em que se queira<br />

empregal-os; pode-se já contar umas cem casas e se começa a plantar<br />

cannas de assucar e muitas outras cousas para o mister da vida,<br />

porque a terra é fértil de tudo, ainda que algumas, por demasiado<br />

pingues, só produzam a planta e não o fructo. E' muito salubre<br />

e de bons ares, de sorte que sendo muita a nossa gente e mui<br />

grandes as fadigas, e mudando da alimentação com que se nutriam,<br />

são poucos os que enfermam e estes depressa se curam. A região<br />

é tão grande que, dizem, de três partes em que se dividisse o<br />

mundo, occuparia duas; é muito fresca e mais ou menos temperada,<br />

não se sentindo muito o calor do estio; tem muitos fructos de<br />

diversas qualidades e mui saborosos; no mar egualmente muito<br />

peixe e bom. Similham os montes grandes jardins e pomares, que<br />

não me lembra ter visto panno de raz tão bello. Nos ditos montes<br />

ha animaes de muitas diversas feituras, quaes nunca conheceu Plínio,<br />

nem delles deu noticia, e hervas de differentes cheiros, mui-<br />

(22) O Visconde de Porto Seguro (Hist. Ger., pg. 237), diz que sendo<br />

assim Thomé de Sousa chegaria a Bahia a 26 de Março. Esqueceu-se que<br />

Fevereiro tem 28 dias e que o anno não era bissexto. Nobrega na primeira<br />

carta diz que gastaram na viagem 8 semanas, que são exaetamente 56 dias.<br />

(*) <strong>Do</strong> que se infere de Jaboatão, Novo Orbe Serafico <strong>Brasil</strong>ico, I, 124,<br />

Rio, 1858, Thomé de Sousa trazia ordens reaes para dar o titulo do Salvador<br />

á cidade que fundasse. Uma provisão de 7 de Janeiro de 1549, anterior â partida<br />

do primeiro governador geral para o <strong>Brasil</strong>, mandava dar 72$000 a Luis<br />

Dias, "que Ma por mestre das obras da fortaleza do Salvador." — Conf. <strong>Cartas</strong>,<br />

Alvarás e Provisões, na Bibl. Nacional, 11-30, 27, 42. — G.<br />

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