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a consciência em crise na narrativa de clarice lispector

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intelectuais <strong>de</strong> esquerda, muitos <strong>de</strong>les cassados nos seus direitos civis, além <strong>de</strong><br />

ter<strong>em</strong> sido vítimas <strong>de</strong> torturas e <strong>de</strong> prisões. Nádia Gotlib (1988) surpreen<strong>de</strong> <strong>na</strong><br />

elaboração artística <strong>de</strong> Lispector, escrita ou não <strong>na</strong> vigência do golpe, a<br />

preocupação da autora <strong>em</strong> fazer com que sua <strong>na</strong>rrativa pu<strong>de</strong>sse refletir os dil<strong>em</strong>as<br />

<strong>de</strong> um povo às voltas com a auto­afirmação da subjetivida<strong>de</strong>, aspecto<br />

probl<strong>em</strong>atizado no leque <strong>de</strong> uma produção que cont<strong>em</strong>pla os anos 40 até o apagar<br />

dos anos 70. O foco do comentário da autora investe <strong>na</strong> possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que se<br />

perceba Clarice como uma escritora capaz <strong>de</strong> dissimular sob o escopo da palavra a<br />

intencio<strong>na</strong>lida<strong>de</strong> represada <strong>de</strong> um discurso engajado <strong>em</strong> prol não estritamente dos<br />

que foram politicamente martirizados, como também daqueles para os quais a<br />

condição huma<strong>na</strong> soa como algo que beira à indigência. No mesmo artigo, a autora<br />

sublinha o pensamento <strong>de</strong> Galvão, o qual se reveste das mesmas aspirações<br />

i<strong>de</strong>ológicas já expressas anteriormente:<br />

‘Foi­se a utopia. Desfaleceu a fé <strong>na</strong> capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criar o novo e a<br />

dimensão do coletivo. Em seu lugar, t<strong>em</strong>­se um país mais rico, <strong>de</strong><br />

capitalismo selvag<strong>em</strong> e mo<strong>de</strong>rnizador, a cultura recolhida a seus<br />

poucos bastiões e a televisão para todos, numa socieda<strong>de</strong> com o<br />

consumo fetichizado – e com a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> maximizada’ (<br />

GOTLIB: 1988, 5­6)<br />

Na tentativa <strong>de</strong> tor<strong>na</strong>r mais elástico o comentário <strong>de</strong> Galvão, é muito<br />

comum as análises que <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>m o contexto histórico e social <strong>de</strong> uma obra<br />

resvalar<strong>em</strong> simplesmente para o lugar comum da historiografia apartada da visão<br />

mediativa que <strong>de</strong>ve, necessariamente, coexistir <strong>na</strong> leitura do objeto a ser<br />

investigado. O estudo das mediações é <strong>de</strong> fundamental importância para que se<br />

compreenda, <strong>de</strong>ntre outros aspectos, <strong>em</strong> quais circunstâncias político­i<strong>de</strong>ológicas a<br />

intencio<strong>na</strong>lida<strong>de</strong> do criador <strong>de</strong> um produto cultural, seja ele ou não escritor, <strong>de</strong><br />

alguma forma se faz presente <strong>na</strong> sua elaboração artística. Nessa perspectiva, como<br />

não associar, por ex<strong>em</strong>plo, as vozes contrapontísticas no romance <strong>de</strong> Dostoiévski<br />

com as condições sociais geradas pelo ainda incipiente capitalismo russo? O que<br />

representam as vozes <strong>em</strong> uma <strong>consciência</strong> monovocal quando comparadas ao<br />

discurso polifônico?<br />

[...] As contradições extr<strong>em</strong>amente exacerbadas do jov<strong>em</strong><br />

capitalismo russo, o <strong>de</strong>sdobramento <strong>de</strong> Dostoievski enquanto<br />

indivíduo social e sua incapacida<strong>de</strong> pessoal <strong>de</strong> adotar <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>da<br />

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