irá refletirse, também, <strong>na</strong> dinâmica inter<strong>na</strong> do texto. A ruptura que se observa <strong>na</strong> <strong>de</strong>slinearida<strong>de</strong> dos capítulos instaura uma concepção <strong>de</strong> ord<strong>em</strong>, somente possível <strong>de</strong> ser observada <strong>na</strong> leitura do texto enquanto elaboração <strong>de</strong> sentido. O estabelecimento <strong>de</strong>sta lógica não exclui um diálogo com o conflito social vivido pela <strong>na</strong>rradora. Numa visão contrastiva com o romance Perto do coração selvag<strong>em</strong>, ainda no primeiro capítulo, vou procurar no monólogo interior da perso<strong>na</strong>g<strong>em</strong> Joa<strong>na</strong> os indícios da ence<strong>na</strong>ção <strong>de</strong> um drama que, longe <strong>de</strong> configurar uma falta <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, no meu entendimento, revelam a recusa da protagonista <strong>em</strong> corroborar com a extr<strong>em</strong>a racio<strong>na</strong>lida<strong>de</strong> do pensamento burguês incrustado no seio <strong>de</strong> sua família. Importante, nesta investigação, é o modo como a autora praticamente ressignifica a concepção <strong>de</strong> romance urbano. Aqui vamos observar como o dispositivo <strong>na</strong>rrativo do texto confere à abolição da distância estética, pressuposto teórico a que já nos referimos, uma elaboração artística até então inexistente <strong>na</strong> prosa ficcio<strong>na</strong>l brasileira. Nesse aspecto, dirseia que essa obra i<strong>na</strong>ugural <strong>de</strong> Lispector, ao probl<strong>em</strong>atizar o ba<strong>na</strong>l, o prosaico, fazendoo coexistir com um sofisticado processo enunciativo consegue os efeitos <strong>na</strong>rrativos, antes limitados a uma visão quase referencial no chamado romance <strong>de</strong> costumes. No Capítulo II – “A fantasmagoria alegórica”, ainda <strong>de</strong> acordo com o princípio da análise contrastiva, meu foco investigativo irá apoiarse no conceito benjaminiano <strong>de</strong> alegoria, o qual pressupõe a existência <strong>de</strong> uma linha tensa entre passado e presente, como também do velho no novo. Assim, estudarei a discursivida<strong>de</strong> da autora do ponto<strong>de</strong>vista alegórico, por enten<strong>de</strong>r que a perso<strong>na</strong>g<strong>em</strong><strong>na</strong>rradora, G.H., busca resgatar as raízes <strong>de</strong> sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> através do que restara subsumido <strong>na</strong> m<strong>em</strong>ória do seu “outro <strong>de</strong> classe”, a <strong>em</strong>pregada, ausente, mas presente <strong>na</strong> roti<strong>na</strong> do seu cotidiano. Nessa instância mediativa, a alusão à alegoria captura a concepção <strong>de</strong> aura. A primeira “traz o outro”, enquanto a segunda, “diz sobre esse outro”. De acordo com as reflexões <strong>de</strong> Benjamin, o princípio que move a alegoria no mo<strong>de</strong>rno mundo do capitalismo impele o hom<strong>em</strong> a relacio<strong>na</strong>rse com o “outro” – a realida<strong>de</strong> circundante, as pessoas, etc – <strong>de</strong> uma forma cada vez mais reificada, coisificada; leitura cuja referência encontrase <strong>na</strong> visão <strong>de</strong> Lukács (2003) acerca da “objetivação fantasmagórica”. Nesse contexto, incluirseia não ape<strong>na</strong>s as relações coisificadas pelo dinheiro, mas, <strong>em</strong> função <strong>de</strong>ste, também as relações interpessoais, 15
inserindose nestas os princípios morais e éticos. No âmago <strong>de</strong>sse probl<strong>em</strong>a, eu incorporo, dialogicamente, a leitura da obra A metamorfo se, <strong>de</strong> Kafka, dos contos A bela e a fera ou ferida gran<strong>de</strong> d<strong>em</strong>ais e Feliz Aniversário, além do romance A hora da estrela, que faz<strong>em</strong> parte do conjunto da obra <strong>de</strong> Lispector. Nesta análise, s<strong>em</strong>pre que possível, procurarei estabelecer um contraponto com A paixão segundo G.H., tentando obe<strong>de</strong>cer, conforme já assi<strong>na</strong>lei, ao processo <strong>de</strong> “distinção e indistinção”. 16
- Page 1 and 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
- Page 5 and 6: Para Káthia do Nascimento, minha c
- Page 7 and 8: RESUMO Neste estudo, o principal ob
- Page 9 and 10: RESUME Dans cet étude, le principa
- Page 11 and 12: INTRODUÇÃO A posição mais comum
- Page 13 and 14: intelectuais de esquerda, muitos de
- Page 15: sociologia positivista no trato com
- Page 19 and 20: omance em estudo. O seu relato, um
- Page 21 and 22: lança mão da técnica de montagem
- Page 23 and 24: Nos termos da lógica de mercado ca
- Page 25 and 26: marcantes da narrativa da autora: L
- Page 27 and 28: Reconstituindose sua manhã um ta
- Page 29 and 30: forma causal, passando ao largo das
- Page 31 and 32: propriamente literárias, da compos
- Page 33 and 34: ecaíam sobre o guardaroupa. Refe
- Page 35 and 36: finalmente não me escapa, pois enf
- Page 37 and 38: imaginação. Assim, o fluxo da nar
- Page 39 and 40: possibilidade. Analisada sob esse a
- Page 41 and 42: amorosas, cuja ambientação mantin
- Page 43 and 44: posto que destoava deste, principal
- Page 45 and 46: movimentos ininterruptos de uma con
- Page 47 and 48: ─ Como é o nome? Eu e o sol. S
- Page 49 and 50: A professora enrubesceu nunca se s
- Page 51 and 52: CAPÍTULO II - A FANTASMAGORIA ALEG
- Page 53 and 54: Ali estava eu boquiaberta e ofendid
- Page 55 and 56: ou ‘vender’, assim como os dive
- Page 57 and 58: [...] Foi preciso a barata me doer
- Page 59 and 60: nenhum gesto meu era indicativo de
- Page 61 and 62: diferente como seu igual. Embora tr
- Page 63 and 64: Como explicar esse “trânsito?”
- Page 65 and 66: impressão que os seus iguais de cl
- Page 67 and 68:
Avenida Copacabana tudo era possív
- Page 69 and 70:
torno dessa reflexão, jamais lhe p
- Page 71 and 72:
emergirem na cena to texto pertence
- Page 73 and 74:
falência dos preceitos éticos e m
- Page 75 and 76:
Da família, a reação de estranha
- Page 77 and 78:
fatos como se fossem as irremediáv
- Page 79 and 80:
A ambivalência do narrador corresp
- Page 81 and 82:
até agora eu não havia percebido
- Page 83 and 84:
de ir às compras e, no regresso ao
- Page 85 and 86:
as pesadas coisas, ela via com a ca
- Page 87 and 88:
do pensamento marxista. Nessa etapa
- Page 89 and 90:
Teórica e analítica: ADORNO, Theo
- Page 91 and 92:
______. A permanência da literatur
- Page 93 and 94:
CASTRO, Josué de. Homens e carangu
- Page 95 and 96:
HELENA, Lúcia. Nem musa, nem medus
- Page 97 and 98:
______. Para a crítica da economia
- Page 99:
SUSSEKIND, Flora. Literatura e vida