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a consciência em crise na narrativa de clarice lispector

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ou ‘ven<strong>de</strong>r’, assim como os diversos objetos do mundo exterior. E<br />

não há nenhuma forma <strong>na</strong>tural <strong>de</strong> relação huma<strong>na</strong>, tampouco<br />

possibilida<strong>de</strong> para o hom<strong>em</strong> fazer valer suas ‘proprieda<strong>de</strong>s’ físicas e<br />

psicológicas que não se submetam, numa proporção crescente, a<br />

essa forma <strong>de</strong> objetivação [...] (LUKÁCS: 2003, 222­223).<br />

Movido pela compulsivida<strong>de</strong>, a qual ele não t<strong>em</strong> condições <strong>de</strong> avaliar,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que aquela é produto do fetiche, o indivíduo tor<strong>na</strong>­se um consumidor voraz <strong>de</strong><br />

objetos <strong>de</strong>stituídos <strong>de</strong> valor <strong>de</strong> uso. Invariavelmente, estes possu<strong>em</strong> ape<strong>na</strong>s o<br />

atributo <strong>de</strong> se constituír<strong>em</strong> <strong>em</strong> mo<strong>de</strong>ladores <strong>de</strong> aparência. No caso da perso<strong>na</strong>g<strong>em</strong>,<br />

retomar<strong>em</strong>os uma <strong>de</strong> suas falas: “Quando essa elegância se vulgarizar, eu, s<strong>em</strong><br />

sequer saber por que, me mudarei para outra elegância?”<br />

Veja­se este comentário <strong>de</strong> Muricy:<br />

Na produção capitalista <strong>de</strong> mercadorias, diferentes valores <strong>de</strong> uso<br />

se tor<strong>na</strong>m idênticos no valor­preço. Esvaziados <strong>de</strong> seus conteúdos<br />

concretos, tor<strong>na</strong>m­se fetiches <strong>em</strong> um processo on<strong>de</strong> a novida<strong>de</strong> do<br />

produto adquire uma inusitada importância, só comparável à<br />

exigência <strong>de</strong> sua repetição <strong>em</strong> uma produção <strong>de</strong> massa. Diversos<br />

fenômenos da vida mo<strong>de</strong>r<strong>na</strong> se estruturam da mesma forma, <strong>na</strong><br />

mesma repetição do idêntico. A ‘massa’ ou a ‘multidão’,<br />

acontecimento mo<strong>de</strong>rno que correspon<strong>de</strong> ao <strong>de</strong>saparecimento<br />

histórico do indivíduo diferenciado, é um ex<strong>em</strong>plo. A compreensão<br />

mo<strong>de</strong>r<strong>na</strong> <strong>de</strong> indivíduo resulta mais da atomização da massa pelas<br />

técnicas <strong>de</strong> controle: o indivíduo que se constitui aí é o número do<br />

documento <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, <strong>na</strong> ord<strong>em</strong> do mesmo (MURICY: 1998,<br />

203).<br />

Dentre tantas análises elaboradas por Walter Benjamin acerca do po<strong>em</strong>a<br />

“Parque central”, <strong>de</strong> Bau<strong>de</strong>laire, a m<strong>em</strong>ória enquanto texto que não se <strong>de</strong>ixa<br />

petrificar, portanto, uma m<strong>em</strong>ória ruinosa para utilizarmos uma expressão do autor<br />

é a que aparece sublinhada <strong>na</strong> sequência a seguir:<br />

A l<strong>em</strong>brança é a relíquia secularizada.<br />

A l<strong>em</strong>brança é o compl<strong>em</strong>ento da ‘vivência’, nela se sedimenta a<br />

crescente auto­alie<strong>na</strong>ção do ser humano que inventariou seu<br />

passado como proprieda<strong>de</strong> morta. No século XIX, a alegoria saiu do<br />

mundo exterior para se estabelecer no mundo interior. A relíquia<br />

provém do cadáver, a l<strong>em</strong>brança, da experiência morta, que,<br />

euf<strong>em</strong>isticamente, se intitula vivência. [...] (BENJAMIN: 1989, 172).<br />

De acordo com o ponto­<strong>de</strong>­vista que apreendo <strong>de</strong>sse excerto, a m<strong>em</strong>ória<br />

não se reduz a refletir os acontecimentos <strong>de</strong> modo a obe<strong>de</strong>cer a uma cronologia,<br />

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