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a consciência em crise na narrativa de clarice lispector

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irá refletir­se, também, <strong>na</strong> dinâmica inter<strong>na</strong> do texto. A ruptura que se observa <strong>na</strong><br />

<strong>de</strong>slinearida<strong>de</strong> dos capítulos instaura uma concepção <strong>de</strong> ord<strong>em</strong>, somente possível<br />

<strong>de</strong> ser observada <strong>na</strong> leitura do texto enquanto elaboração <strong>de</strong> sentido. O<br />

estabelecimento <strong>de</strong>sta lógica não exclui um diálogo com o conflito social vivido pela<br />

<strong>na</strong>rradora.<br />

Numa visão contrastiva com o romance Perto do coração selvag<strong>em</strong>, ainda<br />

no primeiro capítulo, vou procurar no monólogo interior da perso<strong>na</strong>g<strong>em</strong> Joa<strong>na</strong> os<br />

indícios da ence<strong>na</strong>ção <strong>de</strong> um drama que, longe <strong>de</strong> configurar uma falta <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, no meu entendimento, revelam a recusa da protagonista <strong>em</strong> corroborar<br />

com a extr<strong>em</strong>a racio<strong>na</strong>lida<strong>de</strong> do pensamento burguês incrustado no seio <strong>de</strong> sua<br />

família. Importante, nesta investigação, é o modo como a autora praticamente<br />

ressignifica a concepção <strong>de</strong> romance urbano. Aqui vamos observar como o<br />

dispositivo <strong>na</strong>rrativo do texto confere à abolição da distância estética, pressuposto<br />

teórico a que já nos referimos, uma elaboração artística até então inexistente <strong>na</strong><br />

prosa ficcio<strong>na</strong>l brasileira. Nesse aspecto, dir­se­ia que essa obra i<strong>na</strong>ugural <strong>de</strong><br />

Lispector, ao probl<strong>em</strong>atizar o ba<strong>na</strong>l, o prosaico, fazendo­o coexistir com um<br />

sofisticado processo enunciativo consegue os efeitos <strong>na</strong>rrativos, antes limitados a<br />

uma visão quase referencial no chamado romance <strong>de</strong> costumes.<br />

No Capítulo II – “A fantasmagoria alegórica”, ainda <strong>de</strong> acordo com o<br />

princípio da análise contrastiva, meu foco investigativo irá apoiar­se no conceito<br />

benjaminiano <strong>de</strong> alegoria, o qual pressupõe a existência <strong>de</strong> uma linha tensa entre<br />

passado e presente, como também do velho no novo. Assim, estudarei a<br />

discursivida<strong>de</strong> da autora do ponto­<strong>de</strong>­vista alegórico, por enten<strong>de</strong>r que a<br />

perso<strong>na</strong>g<strong>em</strong>­<strong>na</strong>rradora, G.H., busca resgatar as raízes <strong>de</strong> sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> através do<br />

que restara subsumido <strong>na</strong> m<strong>em</strong>ória do seu “outro <strong>de</strong> classe”, a <strong>em</strong>pregada, ausente,<br />

mas presente <strong>na</strong> roti<strong>na</strong> do seu cotidiano. Nessa instância mediativa, a alusão à<br />

alegoria captura a concepção <strong>de</strong> aura. A primeira “traz o outro”, enquanto a<br />

segunda, “diz sobre esse outro”.<br />

De acordo com as reflexões <strong>de</strong> Benjamin, o princípio que move a alegoria<br />

no mo<strong>de</strong>rno mundo do capitalismo impele o hom<strong>em</strong> a relacio<strong>na</strong>r­se com o “outro” –<br />

a realida<strong>de</strong> circundante, as pessoas, etc – <strong>de</strong> uma forma cada vez mais reificada,<br />

coisificada; leitura cuja referência encontra­se <strong>na</strong> visão <strong>de</strong> Lukács (2003) acerca da<br />

“objetivação fantasmagórica”. Nesse contexto, incluir­se­ia não ape<strong>na</strong>s as relações<br />

coisificadas pelo dinheiro, mas, <strong>em</strong> função <strong>de</strong>ste, também as relações interpessoais,<br />

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