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a consciência em crise na narrativa de clarice lispector

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Como se observa, Otávio, o advogado com qu<strong>em</strong> Joa<strong>na</strong> é casada; transpira<br />

pragmatismo por todos os poros. A estreiteza do seu pensamento, ele mesmo<br />

consente, resume­se àquilo que é dado, ensi<strong>na</strong>do. Logo, sua visão <strong>de</strong> mundo segue<br />

o mesmo traçado dos d<strong>em</strong>ais. Disso resulta que a ord<strong>em</strong> racio<strong>na</strong>l assim se <strong>de</strong>fine<br />

<strong>em</strong> oposição à sua face contra­heg<strong>em</strong>ônica. Esta, assim se constitui por não<br />

ren<strong>de</strong>r­se àquela. Portanto, a coexistência que se estabelece entre essas duas<br />

formas <strong>de</strong> pensamento se dá <strong>de</strong> forma tensa, conflituosa.<br />

Nessa perspectiva, eu não chegaria a afirmar que as perso<strong>na</strong>gens<br />

<strong>clarice</strong>a<strong>na</strong>s seriam reféns da falta <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, atributos incompatíveis tanto à G.H.<br />

quanto à Joa<strong>na</strong>. Ambas, à sua maneira, <strong>de</strong>veriam ser a<strong>na</strong>lisadas <strong>na</strong> condição <strong>de</strong><br />

sujeitos autoquestio<strong>na</strong>dores da ord<strong>em</strong> extr<strong>em</strong>amente conservadora do pensamento<br />

racio<strong>na</strong>l s<strong>em</strong>, contudo, esboçar<strong>em</strong> qualquer tipo <strong>de</strong> reação que implique numa<br />

mudança abrupta <strong>de</strong>ssa lógica. Assim, ao invés da ord<strong>em</strong> inquestio<strong>na</strong>velmente<br />

positiva, a <strong>na</strong>rrativa da autora propõe a leitura do seu lado anverso, a negativida<strong>de</strong>.<br />

Isto v<strong>em</strong> a significar a proposição <strong>de</strong> uma nova ord<strong>em</strong> s<strong>em</strong> exclusão da primeira.<br />

Indo­se mais além, dir­se­ia que,<br />

Se a dialética negativa reclama a autoreflexão do pensamento,<br />

então isso implica manifestamente que o pensamento também<br />

precisa, para ser verda<strong>de</strong>iro, hoje <strong>em</strong> todo caso, pensar contra si<br />

mesmo. Se ele não se me<strong>de</strong> pelo que há <strong>de</strong> mais exterior e que<br />

escapa ao conceito, então ele é <strong>de</strong> ant<strong>em</strong>ão marcado pela música<br />

<strong>de</strong> acompanhamento com a qual os SS adoravam encobrir os<br />

gritos <strong>de</strong> suas vítimas (ADORNO: 2009, 302).<br />

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