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a consciência em crise na narrativa de clarice lispector

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marcantes da <strong>na</strong>rrativa da autora: Lucrécia Neves, <strong>de</strong> A cida<strong>de</strong> sitiada; G.H.,<br />

perso<strong>na</strong>g<strong>em</strong>­<strong>na</strong>rradora do romance objeto <strong>de</strong>ste estudo; e Martim, protagonista <strong>de</strong> A<br />

maçã no escuro. Assim, através <strong>de</strong> um artifício metonímico, t<strong>em</strong>os uma configuração<br />

simultânea do perfil introspectivo que vai nortear o percurso <strong>na</strong>rrativo <strong>de</strong> cada uma<br />

das obras <strong>de</strong> Lispector. Em seguida, a análise <strong>de</strong> Nunes r<strong>em</strong>ete os estados <strong>de</strong> <strong>crise</strong><br />

das perso<strong>na</strong>gens <strong>clarice</strong>a<strong>na</strong>s para o contexto da “refletorização da <strong>consciência</strong>”,<br />

(1973) ao assi<strong>na</strong>lar o espelho como uma espécie <strong>de</strong> mediador do processo da perda<br />

<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>na</strong>rradores como Joa<strong>na</strong>, <strong>de</strong> Perto do coração selvag<strong>em</strong>. Conforme<br />

o estudioso, a imag<strong>em</strong> espelhada refrataria o estado <strong>de</strong> ambigüida<strong>de</strong> dos sujeitos<br />

<strong>em</strong> <strong>crise</strong> pelas potencialida<strong>de</strong>s que o caracterizam como objeto “refletente” e<br />

“refletido” do universo interior para o qual se voltam os <strong>na</strong>rradores. Tais<br />

argumentações alcançam <strong>em</strong> cheio o primado da “Fenomenologia do espírito<br />

absoluto” <strong>de</strong> Hegel. Nesta relação, ambas as <strong>consciência</strong>s coexist<strong>em</strong>. Sobre A<br />

paixão segundo G.H., ele registra:<br />

[...] O olhar no espelho já assi<strong>na</strong>la o <strong>de</strong>sdobramento do sujeito, que<br />

se vê como um Outro, objetivo e impessoal. Antes <strong>de</strong> sua<br />

experiência <strong>de</strong> confronto com a barata, G.H. sentia­se, convém<br />

recordá­lo, vigiada por um olho, como se vivesse <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um<br />

espelho. (PSGH, 27). O seu modo <strong>de</strong> ser era então um modo<br />

exteriorizado <strong>de</strong> ver­se e <strong>de</strong> ser vista pelos outros. Um rosto no<br />

espelho e as iniciais <strong>de</strong> seu nome, eis tudo o que <strong>de</strong> si mesma<br />

aprendia. [...] (NUNES: 1973, 103­104)<br />

No mesmo rastro da opinião <strong>de</strong> Nunes, Solange Ribeiro <strong>de</strong> Oliveira (1985)<br />

irá referir­se ao universo metafísico <strong>de</strong> Lispector <strong>em</strong> um estudo que, segundo a<br />

autora, se propõe a a<strong>na</strong>lisar o romance A paixão segundo G.H. no âmbito da luta­<br />

<strong>de</strong>­classes, contudo, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do viés histórico ou sociológico:<br />

Tentar<strong>em</strong>os agora estudar a metáfora da barata no aspecto<br />

referente à indagação metafísica. Pois, como tantos gran<strong>de</strong>s<br />

ficcionistas, Clarice Lispector centra sua obra <strong>em</strong> duas ou três idéias<br />

filosóficas básicas. [...]<br />

No universo <strong>de</strong> Clarice Lispector os conceitos filosóficos centrais, <strong>de</strong><br />

que está impreg<strong>na</strong>da toda a sua obra, são os da imanência e da<br />

transcendência. Na agonia <strong>de</strong> sua ‘paixão’, a <strong>na</strong>rradora oscila entre<br />

esses dois pólos. Sua angústia existencial manifesta­se sobretudo<br />

sob a forma <strong>de</strong>sse conflito [...] (OLIVEIRA: 1985, 71).<br />

De volta ao foco <strong>de</strong> minha abordag<strong>em</strong>, <strong>de</strong>ver­se­ia acrescentar que, <strong>em</strong> si<br />

mesma, essa realida<strong>de</strong> (a metafísica) além <strong>de</strong> muito complexa é probl<strong>em</strong>ática, e não<br />

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