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a consciência em crise na narrativa de clarice lispector

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solução i<strong>de</strong>ológica, tomados <strong>em</strong> si mesmos, são algo negativo e<br />

historicamente transitório mas, não obstante, constituíram as<br />

condições i<strong>de</strong>ais para a criação do romance polifônico, ‘daquela<br />

i<strong>na</strong>udita liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ‘vozes’ <strong>na</strong> polifonia <strong>de</strong> Dostoiévski’ que é, s<strong>em</strong><br />

qualquer sombra <strong>de</strong> dúvida, um passo adiante <strong>na</strong> evolução do<br />

romance russo e europeu [...] (BAKHTIN: 1981, 29).<br />

Indo­se mais adiante neste raciocínio, o <strong>em</strong>prego do conceito <strong>de</strong><br />

“contradição”, costumeiramente interpretado como a formulação <strong>de</strong> um pensamento<br />

que se opõe a outro, configurando uma situação incoerente <strong>em</strong> que um dos pontos­<br />

<strong>de</strong>­vista não alcança seus objetivos quando se trata <strong>de</strong> esclarecer alguma idéia <strong>em</strong><br />

discussão. Casos como esses, levam <strong>em</strong> conta ape<strong>na</strong>s o sentido referencial daquilo<br />

que é contraditório. Entretanto, o viés a<strong>na</strong>lítico jamesiano (1992) vai além <strong>de</strong>sses<br />

limites, pois confere a esta expressão o papel <strong>de</strong> mediadora das situações histórico­<br />

sociais, convergindo para aquilo que o autor conceitua como contexto.<br />

Reconhecidamente aceito como um texto, o referente não se basta, caso se exclua<br />

<strong>de</strong>ste a ca<strong>de</strong>ia elocutiva que <strong>de</strong>termi<strong>na</strong> o seu significado. Esta possibilida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rá<br />

vir a concretizar­se, tomando­se como ex<strong>em</strong>plo uma aparent<strong>em</strong>ente <strong>de</strong>spretensiosa<br />

notícia veiculada <strong>na</strong> mídia impressa ou televisiva. Veja­se este registro:<br />

[...] Um artigo da gran<strong>de</strong> imprensa ou uma notícia <strong>de</strong> telejor<strong>na</strong>l<br />

apresenta como verda<strong>de</strong> objetiva a soma aritmética <strong>de</strong> duas<br />

opiniões, que, a rigor, ape<strong>na</strong>s mencio<strong>na</strong>m aspectos díspares <strong>de</strong><br />

uma dada situação. O princípio <strong>em</strong> si razoável, <strong>de</strong> que é preciso<br />

conhecer mais <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong>grada­se quando se conce<strong>de</strong><br />

o mesmo peso à versão do criminoso e á da vítima, ou à palavra do<br />

cúmplice e à do queixoso. O interesse bruto das partes é aceito,<br />

s<strong>em</strong> mediações, como test<strong>em</strong>unho válido a ser entregue à massa<br />

inerme dos leitores e espectadores. Barateia­se o juízo <strong>de</strong> verda<strong>de</strong><br />

confundindo­o com o pinçamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes inflados e subtraídos<br />

ao seu contexto <strong>de</strong> significação. A pressa <strong>de</strong> informar <strong>de</strong> qualquer<br />

modo impele o jor<strong>na</strong>lista a <strong>de</strong>sistir precoc<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> achar um<br />

critério que faça justiça à trama dos fatos e das palavras, operação<br />

que d<strong>em</strong>andaria trabalho e paciência (BOSI: 2006, 353­354).<br />

Por conseguinte, a análise <strong>de</strong>sse processo está subordi<strong>na</strong>da a uma trama<br />

dos fatos, consoante com o árido “chão social” que os originou. A urdidura <strong>de</strong> seu<br />

procedimento, o modo <strong>de</strong> ser refratário <strong>de</strong> sua ca<strong>de</strong>ia subtextualmente significativa<br />

mais do que a recuperação dos significados contextuais é o que está inscrito <strong>na</strong>quilo<br />

que refiro como mediação <strong>na</strong> reescritura do factual que se insere nesta <strong>na</strong>rrativa,<br />

como é minha intenção investigar. Nesse sentido, afirmar­se­ia que o erro básico da<br />

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