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35754-Revista FCDEF - Faculdade de Desporto da Universidade do ...

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26<br />

ORADORES CONVIDADOS<br />

Bénéfice e Cames, 1999) quer em crianças e jovens (Spurr e<br />

Reina, 1990; Bénéfice, 1993; Torun et al., 1996; Goran et al.,<br />

1998; Bénéfice, 1998; Bénéfice e Cames, 1999).<br />

A partir <strong>de</strong> 1990, em Moçambique, foi estabeleci<strong>da</strong> uma linha <strong>de</strong><br />

pesquisa on<strong>de</strong>, entre outros, a activi<strong>da</strong><strong>de</strong> física constitui vector<br />

<strong>de</strong> análise. Focaliza<strong>da</strong> em crianças e jovens <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar, a<br />

pesquisa tem-se <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> em torno <strong>da</strong>s seguintes questões:<br />

1º - Na caracterização <strong>da</strong> activi<strong>da</strong><strong>de</strong> habitual;<br />

2º - Na verificação <strong>do</strong>s níveis <strong>de</strong> dispêndio energético e sua associação<br />

com a prevalência <strong>de</strong> <strong>do</strong>enças associa<strong>da</strong> à inactivi<strong>da</strong><strong>de</strong>;<br />

3º - No estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> variabili<strong>da</strong><strong>de</strong> etária e sexual;<br />

4º - No estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> efeito <strong>do</strong> estatuto sócio-económico nos hábitos<br />

e consequência <strong>de</strong> activi<strong>da</strong><strong>de</strong>;<br />

5º - Na avaliação <strong>da</strong> evolução (tendência secular) na população<br />

moçambicana.<br />

O primeiro <strong>de</strong>safio foi o <strong>de</strong> encontrar um instrumento que<br />

pu<strong>de</strong>sse avaliar os diferentes aspectos <strong>da</strong> AF <strong>de</strong> forma váli<strong>da</strong>, fiável,<br />

não reactiva e aplicável a gran<strong>de</strong>s amostras. Esta tarefa<br />

enfrenta gran<strong>de</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s já que, por um la<strong>do</strong>, os instrumentos<br />

<strong>de</strong> avaliação <strong>da</strong> AF disponíveis não são suficientemente<br />

robustos para cumprir simultaneamente com to<strong>da</strong>s estas premissas<br />

e, por outro, eles apresentam gran<strong>de</strong>s constrangimentos <strong>do</strong><br />

ponto <strong>de</strong> vista <strong>da</strong> sua vali<strong>da</strong><strong>de</strong> transcultural. Não obstante as<br />

suas limitações, a opção disponível para estu<strong>do</strong>s epi<strong>de</strong>miológicos<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s amostras é a <strong>do</strong> questionário. Assim, foi conceptualiza<strong>do</strong><br />

um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> questionário, na procura <strong>de</strong> encontrar um<br />

instrumento aplicável à população infanto-juvenil <strong>de</strong><br />

Moçambique, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> um estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> vali<strong>da</strong>ção<br />

(Prista et al., 2000). O estu<strong>do</strong> incluiu a observação anedótica <strong>de</strong><br />

crianças e jovens, para inventariar activi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, a observação<br />

durante 24 horas <strong>de</strong> uma amostra <strong>de</strong> 24 crianças e jovens, no<br />

senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> testar a sua capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> reportar o que fazem, e a<br />

estimativa <strong>do</strong> dispêndio energético médio <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> activi<strong>da</strong><strong>de</strong> utilizan<strong>do</strong><br />

a monitorização <strong>da</strong> frequência cardíaca e tabelas publica<strong>da</strong>s<br />

na literatura. Dos resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong>ste estu<strong>do</strong> concluiu-se que o<br />

mo<strong>de</strong>lo não era váli<strong>do</strong> para estimar o dispêndio energético <strong>do</strong>s<br />

sujeitos ou populações, mas que apresentava consistência para<br />

hierarquizar sujeitos, classificar e comparar grupos e caracterizar<br />

os tipos <strong>de</strong> activi<strong>da</strong><strong>de</strong> pre<strong>do</strong>minante (Prista et al., 2000).<br />

Vali<strong>da</strong><strong>do</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong>s limites <strong>de</strong>scritos, o questionário foi utiliza<strong>do</strong><br />

num primeiro trabalho, realiza<strong>do</strong> em 1992, com uma população<br />

<strong>de</strong> 593 estu<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong>s escolas <strong>de</strong> Maputo, <strong>de</strong> ambos os<br />

sexos, com i<strong>da</strong><strong>de</strong>s compreendi<strong>da</strong>s entre os 8 e 15 anos. Sen<strong>do</strong><br />

realiza<strong>do</strong> em diferentes estratos sócio-económicos, este estu<strong>do</strong><br />

permitiu constatar que: (i) Relativamente às socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s industrializa<strong>da</strong>s,<br />

a ausência <strong>de</strong> mecanização tornava as tarefas <strong>de</strong><br />

sobrevivência mais intensas; (ii) Os jogos eram fun<strong>da</strong>mentalmente<br />

<strong>de</strong> ar livre e relativamente intensos; (iii) A prática <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sporto formal tem pouca expressão, mas o futebol não<br />

enquadra<strong>do</strong>, entre os rapazes, era muito pratica<strong>do</strong>; (iv) O<br />

tempo <strong>de</strong>spendi<strong>do</strong> diariamente a an<strong>da</strong>r foi muito eleva<strong>do</strong>; (v)<br />

As raparigas <strong>de</strong>spen<strong>de</strong>m mais energia que os rapazes <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao<br />

carácter intenso <strong>da</strong>s tarefas <strong>do</strong>mésticas.<br />

Porque o mesmo estu<strong>do</strong> incluía variáveis <strong>de</strong> crescimento,<br />

maturação, aptidão física e factores <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> <strong>do</strong>ença cardiovascular<br />

(DCV), foi possível ensaiar a procura <strong>de</strong> associações<br />

entre os níveis <strong>de</strong> AF e aquelas variáveis. Os resulta<strong>do</strong>s sugeriram<br />

a existência <strong>de</strong> associações entre a AF e a performance em<br />

alguns testes <strong>de</strong> aptidão física, bem como a ausência <strong>de</strong> níveis<br />

eleva<strong>do</strong>s <strong>de</strong> prevalência <strong>de</strong> factores <strong>de</strong> risco DCV.<br />

O estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1992 versou sobre uma população cujo crescimento<br />

se tinha processa<strong>do</strong> totalmente num perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> guerra, que<br />

se caracterizou por gran<strong>de</strong>s carências alimentares, entre outros<br />

factores ambientais. Com um acor<strong>do</strong> <strong>de</strong> paz e a abertura <strong>do</strong><br />

país a uma economia <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>, gran<strong>de</strong>s alterações sóciopolíticas<br />

e económicas foram observa<strong>da</strong>s. Estas alterações,<br />

<strong>Revista</strong> Portuguesa <strong>de</strong> Ciências <strong>do</strong> <strong>Desporto</strong>, 2004, vol. 4, nº 2 (suplemento) [15–102]<br />

geraram a passagem <strong>de</strong> uma situação caracteriza<strong>da</strong> por restrições<br />

e falta <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong> primeira necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>, para um crescimento<br />

rápi<strong>do</strong> <strong>da</strong> urbanização, <strong>da</strong>s ocupações se<strong>de</strong>ntárias, <strong>do</strong><br />

transporte motoriza<strong>do</strong> e <strong>do</strong> consumo <strong>de</strong> “fast food”.<br />

No âmbito <strong>da</strong> monitorização <strong>da</strong>s populações, e no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

avaliar as repercussões <strong>de</strong>stas alterações na AF, foi realiza<strong>do</strong>,<br />

em 1999, um estu<strong>do</strong> idêntico ao <strong>de</strong> 1992 que envolveu as mesmas<br />

regiões e abrangeu uma amostra <strong>de</strong> 2503 rapazes e raparigas<br />

<strong>do</strong>s 6 aos 18 anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong> (Prista et al., 2002). As comparações<br />

realiza<strong>da</strong>s por tipos <strong>de</strong> activi<strong>da</strong><strong>de</strong> (activi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>do</strong>mésticas,<br />

jogos recreativos, <strong>de</strong>sportos formais e tempo a an<strong>da</strong>r), são<br />

sumaria<strong>da</strong>s na tabela 1.<br />

Tabela 1: Resulta<strong>do</strong> <strong>da</strong> comparação <strong>do</strong>s Coeficientes <strong>de</strong> Activi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

(CA) produzi<strong>do</strong>s pelo questionário entre os estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> 1992 e 1999<br />

(a<strong>da</strong>pta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Prista e Maia, 2001).<br />

Ø - Diminuição significativa <strong>de</strong> 92 para 99; ≠ - Subi<strong>da</strong> significativa<br />

92 to 99; NS – Não significativa<br />

AD=Activi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong>mésticas; Jogos = Jogos recreativos <strong>de</strong> ar livre;<br />

Desp= <strong>Desporto</strong>s; CA= Coeficiente <strong>de</strong> activi<strong>da</strong><strong>de</strong> total.<br />

Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que, quer o questionário utiliza<strong>do</strong>, quer as<br />

regiões abrangi<strong>da</strong>s pelo estu<strong>do</strong> foram os mesmos, os resulta<strong>do</strong>s<br />

evi<strong>de</strong>nciam alterações consistentes nos hábitos <strong>de</strong> activi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

física. Assim, verificou-se que a população infantil e juvenil<br />

diminuiu o nível <strong>de</strong> activi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>do</strong>mésticas, jogos ao ar livre e<br />

tempo a an<strong>da</strong>r, o que sugere uma redução consi<strong>de</strong>rável no dispêndio<br />

energético. Esta redução po<strong>de</strong> estar na origem <strong>da</strong>s alterações<br />

significativas nos níveis <strong>de</strong> aptidão física (Saranga et al.,<br />

2002) e no aumento <strong>da</strong> prevalência <strong>de</strong> indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> risco <strong>de</strong><br />

<strong>do</strong>ença cardiovascular (Damasceno et al., 2002), observa<strong>da</strong>s na<br />

mesma população pelo mesmo estu<strong>do</strong>.<br />

A observação pormenoriza<strong>da</strong> <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s <strong>da</strong> “tendência<br />

secular” na activi<strong>da</strong><strong>de</strong> física sugere uma i<strong>de</strong>ia distinta <strong>da</strong> que se<br />

observa na aptidão física, no crescimento e outros indica<strong>do</strong>res<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Enquanto que naqueles as gran<strong>de</strong>s diferenças entre<br />

os estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> 92 e 99 se encontra nas i<strong>da</strong><strong>de</strong>s mais jovens, evi<strong>de</strong>ncian<strong>do</strong><br />

que a geração <strong>do</strong>s mais velhos manteve as sequelas<br />

<strong>do</strong> tempo <strong>de</strong> guerra on<strong>de</strong> cresceu, a AF parece ter reduzi<strong>do</strong> em<br />

to<strong>do</strong>s os escalões etários. A título <strong>de</strong> exemplo, a figura 1 mostra<br />

a evolução <strong>do</strong>s coeficientes <strong>de</strong> activi<strong>da</strong><strong>de</strong> comparan<strong>do</strong> as<br />

duas amostras ao longo <strong>da</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong> on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>nota uma relativa<br />

similari<strong>da</strong><strong>de</strong> no afastamento.<br />

Figura 1: Valores médios <strong>do</strong> Coeficiente <strong>de</strong> Activi<strong>da</strong><strong>de</strong> compara<strong>do</strong>s<br />

entre os estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> 1992 e <strong>de</strong> 1999 por grupo etário e género; valores<br />

<strong>de</strong> F e p resultantes <strong>da</strong> ANOVA factorial.

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