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35754-Revista FCDEF - Faculdade de Desporto da Universidade do ...

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40<br />

ORADORES CONVIDADOS<br />

verifica<strong>do</strong> que o reconhecimento (apelo à memória <strong>de</strong> longo<br />

termo) <strong>do</strong> padrão <strong>de</strong> jogo estrutura<strong>do</strong> tinha um po<strong>de</strong>r preditivo<br />

maior que a i<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Conhecer quais os factores que diferenciam os experts <strong>do</strong>s principiantes<br />

é importante para <strong>de</strong>finir estratégias <strong>de</strong> aprendizagem<br />

a implementar no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong>s skills motores subjacentes<br />

à performance motora numa <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>. No<br />

entanto, Albernethy (2002) aponta alguma limitação a este tipo<br />

<strong>de</strong> conhecimento, no que se refere à compreensão <strong>do</strong> “que é”<br />

aprendi<strong>do</strong>, isto é, <strong>do</strong>s mecanismos subjacentes à performance<br />

motora numa tarefa motora específica e “como” é aprendi<strong>da</strong>, e,<br />

em consequência como <strong>de</strong>ve ser ensina<strong>do</strong>.<br />

É aceite no meio científico que os skills perceptivos no <strong>de</strong>sporto,<br />

se <strong>de</strong>senvolvem como resulta<strong>do</strong> <strong>da</strong> prática específica <strong>de</strong> uma<br />

tarefa, mais que através <strong>da</strong> maturação e crescimento (Ward e<br />

Williams, 2003). A superiori<strong>da</strong><strong>de</strong> ao nível perceptivo <strong>do</strong>s<br />

experts sobre os principiantes é resultante <strong>do</strong> aumento <strong>da</strong>s<br />

estruturas <strong>do</strong> conhecimento cognitivo específico <strong>do</strong> <strong>de</strong>sporto<br />

adquiri<strong>do</strong> ao longo <strong>do</strong>s anos <strong>de</strong> prática intencional (Williams e<br />

Ward, 2003). O expert possui um conhecimento base superior e<br />

acesso facilita<strong>do</strong> à memória <strong>do</strong> longo termo, como resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

uma melhor estratégia <strong>de</strong> processamento <strong>da</strong> informação relevante<br />

relativa à tarefa.<br />

Em género <strong>de</strong> síntese, os factores que a investigação tem i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong><br />

com capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> para <strong>de</strong>scriminar experts <strong>de</strong> principiantes<br />

são: (a) superior recor<strong>da</strong>ção e reconhecimento <strong>do</strong>s padrões<br />

específicos <strong>do</strong> jogo (memória) (Go<strong>de</strong>t e Simom, 1996, cit in<br />

Willians, 2002; Williams e Ward, 2003); (b) mais rápi<strong>da</strong> <strong>de</strong>tecção<br />

e reconhecimento <strong>de</strong> objectos no meio envolvente. Alves,<br />

Brito e Proteau (1994) e Alves e Martins (2003) verificaram,<br />

que as fases <strong>do</strong> processamento <strong>de</strong> informação que eram<br />

influencia<strong>da</strong>s pela inteligência <strong>de</strong> forma muito significativa<br />

eram as fases preceptiva e associativa, ou seja, a i<strong>de</strong>ntificação<br />

<strong>do</strong> estímulo e a escolha <strong>da</strong> resposta, e que esta relação é tanto<br />

maior quanto maior a quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> estímulos e respostas. Por<br />

sua vez, Alves (1985) refere que os atletas mais experientes<br />

são mais eficazes que os menos experientes no processamento<br />

<strong>da</strong> informação, em situações <strong>de</strong> maior complexi<strong>da</strong><strong>de</strong>, em tarefas<br />

<strong>de</strong> tempo <strong>de</strong> reacção; (c) mais eficientes e a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s estratégias<br />

<strong>de</strong> procura visual (Bard e Fleury, 1976; Bard, Guezennec.<br />

& Papin, 1981; Williams, 2002); (d) maior habili<strong>da</strong><strong>de</strong> para captar<br />

informações que potencialmente favoreçam a antecipação<br />

(Albernethy, 2002; Williams, 2002; Hagemann e Stantze,<br />

2003); (e) mais expectativas correctas, relativas a acontecimentos<br />

semelhantes, basea<strong>da</strong>s no uso <strong>da</strong>s probabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> situação;<br />

e (f) processos perceptivos mais resistentes à influência<br />

<strong>da</strong>s emoções (Tenenbaum, 2003).<br />

3. Desenvolvimento <strong>do</strong>s skills preceptivo-cognitivos<br />

As <strong>de</strong>scobertas acaba<strong>da</strong>s <strong>de</strong> referir levam-nos a consi<strong>de</strong>rar que<br />

intervenções cognitivas com o objectivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver o conhecimento<br />

base relativo ao <strong>de</strong>sporto específico, que está subjacente<br />

a uma percepção eficaz, são mais úteis na facilitação <strong>de</strong> aquisição<br />

<strong>da</strong> excelência que qualquer outro tipo <strong>de</strong> intervenção.<br />

Os méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong> treino <strong>do</strong>s skills perceptivos têm-se basea<strong>do</strong>,<br />

fun<strong>da</strong>mentalmente, nas novas tecnologias <strong>da</strong> informação (processamento<br />

<strong>de</strong> imagem, reali<strong>da</strong><strong>de</strong> virtual) e nas tecnologias <strong>da</strong><br />

imagem (sli<strong>de</strong>, ví<strong>de</strong>o, ví<strong>de</strong>o digital). A evolução acentua<strong>da</strong> que<br />

se tem verifica<strong>do</strong>, nos últimos anos, neste <strong>do</strong>mínio (tecnologia),<br />

permite-nos pensar que a sua utilização vai se intensificar,<br />

tanto no estu<strong>do</strong> como no treino <strong>do</strong>s atletas (Ripoll, 2003), e <strong>de</strong><br />

forma privilegia<strong>da</strong> na percepção e toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão.<br />

<strong>Revista</strong> Portuguesa <strong>de</strong> Ciências <strong>do</strong> <strong>Desporto</strong>, 2004, vol. 4, nº 2 (suplemento) [15–102]<br />

Os estu<strong>do</strong>s utilizan<strong>do</strong>, como treino, situações simula<strong>da</strong>s em<br />

ví<strong>de</strong>o (ex: antecipação <strong>da</strong> <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong> penalty no futebol) têm<br />

revela<strong>do</strong> melhoria significativa na performance <strong>do</strong>s atletas<br />

(Williams e Ward, 2003). A utilização <strong>de</strong> situações simula<strong>da</strong>s<br />

terá, necessariamente, <strong>de</strong> ser acompanha<strong>da</strong> <strong>de</strong> instruções e feedback<br />

a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s por parte <strong>do</strong>s treina<strong>do</strong>res. As situações simula<strong>da</strong>s<br />

produzem melhoria nas habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s perceptivas, mesmo<br />

não sen<strong>do</strong> simulações realísticas (filme) mas sim, esquemas<br />

abstractos (esquemas 3D) (Poplu e Baratgin, 2003).<br />

Assim, para além <strong>da</strong>s intervenções <strong>do</strong> tipo cognitivo que estão<br />

presentes no local <strong>da</strong> prática, também intervenções, <strong>do</strong> mesmo<br />

tipo cognitivo, em situações simula<strong>da</strong>s em ví<strong>de</strong>o ou outra tecnologia<br />

produzem aumentos importantes na percepção que são<br />

relevantes para a prática. Williams (2000), numa revisão <strong>da</strong><br />

literatura sobre a utilização <strong>da</strong>s tecnologias ví<strong>de</strong>o, refere que a<br />

investigação evi<strong>de</strong>ncia a eficácia <strong>de</strong>sta técnica quan<strong>do</strong> acompanha<strong>da</strong><br />

<strong>de</strong> instruções técnicas a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s. No entanto, um bom<br />

programa <strong>de</strong> treino <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s perceptivas tem por base<br />

um conhecimento e compreensão, <strong>de</strong>talha<strong>do</strong>s, <strong>da</strong>s fontes <strong>de</strong><br />

informação específicas <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> <strong>de</strong>sporto que levem à eficácia <strong>da</strong><br />

percepção.<br />

Araújo e Serpa (2000), num estu<strong>do</strong> com 30 veleja<strong>do</strong>res, dividi<strong>do</strong>s<br />

em três grupos <strong>de</strong> nível <strong>de</strong> habili<strong>da</strong><strong>de</strong> (eleva<strong>da</strong>, média e<br />

baixa), numa regata simula<strong>da</strong>, referem que os três grupos se<br />

diferenciam na procura (a) <strong>da</strong> informação e (b) nas acções. Na<br />

primeira, os experts (habili<strong>da</strong><strong>de</strong> eleva<strong>da</strong>) focalizam a sua procura<br />

<strong>de</strong> informação, durante a larga<strong>da</strong>, no vento. Os <strong>de</strong> nível<br />

médio procuram, também durante a larga<strong>da</strong>, mais informações<br />

espaciais. Os <strong>de</strong> nível baixo preocupam-se mais com as manobras,<br />

em to<strong>da</strong>s as fases <strong>da</strong> regata. Na segun<strong>da</strong>, os experts realizam<br />

significativamente menos acções que o grupo <strong>de</strong> baixo<br />

nível. A análise <strong>de</strong> regressão realiza<strong>da</strong> permitiu i<strong>de</strong>ntificar que<br />

as melhores performances <strong>do</strong>s veleja<strong>do</strong>res eram resultantes <strong>de</strong>:<br />

(a) redução <strong>do</strong>s ajustamentos durante a larga<strong>da</strong>; (b) redução <strong>do</strong><br />

processamento <strong>da</strong> informação espacial; (c) redução <strong>da</strong>s acções<br />

técnicas na ron<strong>da</strong>gem <strong>da</strong> primeira bóia; e (d) redução <strong>da</strong> procura<br />

<strong>do</strong> vento na fase <strong>de</strong> vento favorável.<br />

No processo <strong>de</strong> toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão (que é contínuo) há aspectos<br />

que são mais conscientes e verbalizáveis e outros em que a<br />

verbalização é quase impossível. Os primeiros são <strong>de</strong>signa<strong>do</strong>s<br />

na literatura como “conhecimento <strong>de</strong>clarativo” e os segun<strong>do</strong>s<br />

por “conhecimento procedimental”. O conhecimento <strong>de</strong>clarativo<br />

resulta <strong>do</strong> conhecimento base relativo ao <strong>de</strong>sporto específico.<br />

O conhecimento procedimental, inconsciente e automático,<br />

é utiliza<strong>do</strong> em situações <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> constrangimento temporal e<br />

manifesta-se nas acções que o atleta realiza com base em informações<br />

que vai recolhen<strong>do</strong> no meio envolvente, e que, em função<br />

<strong>de</strong>ssa informação, “sabe” que tem que realizar aquelas<br />

acções específicas. Se lhe perguntarem porque actuou <strong>da</strong>quela<br />

forma, provavelmente respon<strong>de</strong> “porque tinha que ser”.<br />

Este conhecimento só se adquire ao longo <strong>de</strong> muitas horas <strong>de</strong><br />

prática intencional. A literatura refere cerca <strong>de</strong> 10 anos ou 10<br />

000 horas <strong>de</strong> prática (20 horas por semana, 50 semanas por<br />

ano) para que um atleta se torne um expert. No entanto, esta<br />

prática intencional, além <strong>de</strong> quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> horas, tem que ter,<br />

igualmente, em atenção a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> prática. A investigação<br />

sobre a quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> e quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> prática tem <strong>de</strong>monstra<strong>do</strong><br />

que as duas vertentes são preditores <strong>de</strong>terminantes <strong>do</strong> sucesso<br />

(Baker & al., 2003). A prática <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> estrutura-se <strong>de</strong><br />

forma a que haja gran<strong>de</strong> variabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e exigência eleva<strong>da</strong> (o<br />

mais próximo possível <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>). A variabili<strong>da</strong><strong>de</strong> po<strong>de</strong><br />

enten<strong>de</strong>r-se em termos <strong>de</strong> situação problema, <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s uti-

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