35754-Revista FCDEF - Faculdade de Desporto da Universidade do ...
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32<br />
ORADORES CONVIDADOS<br />
1. Introdução<br />
As melhorias sociais e os gran<strong>de</strong>s avanços científicos contribuíram<br />
para o alcance <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s melhorias <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> vi<strong>da</strong> que,<br />
por sua vez, resulta no incremento <strong>da</strong> esperança média <strong>de</strong> vi<strong>da</strong><br />
<strong>da</strong> população em geral. Este aspecto, uni<strong>do</strong> à gran<strong>de</strong> diminuição<br />
<strong>da</strong> natali<strong>da</strong><strong>de</strong>, produz o envelhecimento geral <strong>da</strong> população.<br />
Entre os anos 1950 e 2025 a população terá triplica<strong>do</strong>, mas a<br />
população <strong>de</strong> 65 anos terá aumenta<strong>do</strong> 5 vezes no mesmo perío<strong>do</strong>,<br />
segun<strong>do</strong> os <strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>da</strong> ONU sobre o envelhecimento <strong>da</strong><br />
população durante o ano 1998. Espanha ocupa o 4º lugar <strong>do</strong><br />
mun<strong>do</strong> em população i<strong>do</strong>sa e, segun<strong>do</strong> as previsões, no ano <strong>de</strong><br />
2050 será relativamente o país com maior número <strong>de</strong> pessoas<br />
<strong>de</strong> 60 anos, com 3,6 pessoas <strong>de</strong> 60 por ca<strong>da</strong> jovem <strong>de</strong> 15 anos.<br />
A mesma informação confirma que aumenta a ca<strong>da</strong> ano a proporção<br />
<strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong> 80 anos e mais.<br />
A principal consequência <strong>de</strong>ste facto é que os ci<strong>da</strong>dãos i<strong>do</strong>sos<br />
constituem uma carga substancial para a economia nacional, já<br />
que gran<strong>de</strong> parte <strong>do</strong>s recursos médicos lhes são <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s. É<br />
mesmo sugeri<strong>do</strong> que os gastos médicos são 5 vezes maiores<br />
nas pessoas com mais <strong>de</strong> 65 anos.<br />
Para solucionar este gran<strong>de</strong> problema económico, os esta<strong>do</strong>s<br />
<strong>de</strong>verão procurar programas <strong>de</strong> intervenção para manter,<br />
durante o máximo <strong>de</strong> tempo possível ao longo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, as quali<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
físicas suficientes para permitir à pessoa i<strong>do</strong>sa não per<strong>de</strong>r<br />
a sua in<strong>de</strong>pendência funcional (in<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> familiares<br />
ou <strong>do</strong> sistema público <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>).<br />
Os principais investiga<strong>do</strong>res mundiais chegaram à conclusão<br />
que muitos <strong>do</strong>s efeitos <strong>do</strong> <strong>de</strong>clínio <strong>da</strong>s quali<strong>da</strong><strong>de</strong>s físicas atribuí<strong>do</strong>s<br />
ao envelhecimento em si, são <strong>de</strong>vi<strong>do</strong>s à inactivi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
física (se<strong>de</strong>ntarismo) que normalmente acompanha a velhice.<br />
Com o incremento <strong>da</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>, o indivíduo torna-se menos activo<br />
e, como consequência, as suas capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s físicas diminuem.<br />
Começa assim a aparecer o sentimento <strong>de</strong> velhice, que po<strong>de</strong><br />
por sua vez causar stress, <strong>de</strong>pressão e levar à diminuição <strong>da</strong><br />
activi<strong>da</strong><strong>de</strong> física e, consequentemente, à aparição <strong>de</strong> uma <strong>do</strong>ença<br />
crónica, que, por si só, contribui para o envelhecimento.<br />
Mas está <strong>de</strong>mostra<strong>do</strong> que mais que as <strong>do</strong>enças crónicas ou o<br />
próprio envelhecimento, é o <strong>de</strong>suso <strong>da</strong>s funções fisiológicas<br />
que po<strong>de</strong> causar mais problemas, isto é, a maioria <strong>do</strong>s efeitos<br />
<strong>do</strong> <strong>de</strong>clínio associa<strong>do</strong>s ao envelhecimento são produzi<strong>do</strong>s pela<br />
inactivi<strong>da</strong><strong>de</strong> física.<br />
Numerosos trabalhos científicos <strong>de</strong>monstram o benefício <strong>do</strong><br />
exercício físico e a sua contribuição para alcançar uma melhor<br />
quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pessoas i<strong>do</strong>sas. O exercício físico prescreve-se<br />
como um recurso mitiga<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s <strong>de</strong>sajustes produzi<strong>do</strong>s<br />
pela velhice, que tornam a vi<strong>da</strong> ca<strong>da</strong> vez mais incómo<strong>da</strong> para<br />
estas pessoas. Então, este facto constitui uma gran<strong>de</strong> aju<strong>da</strong> na<br />
superação <strong>do</strong> isolamento e <strong>do</strong>s <strong>de</strong>sajustes emocionais, produto<br />
<strong>da</strong> velhice.<br />
A activi<strong>da</strong><strong>de</strong> física permite que as pessoas i<strong>do</strong>sas obtenham um<br />
esta<strong>do</strong> físico que lhes possibilite a auto-suficiência (in<strong>de</strong>pendência)<br />
em to<strong>do</strong>s os campos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> quotidiana, a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>sfrutar <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> lúdico e recreativo <strong>do</strong> tempo livre, e o<br />
meio para manter e ampliar o círculo <strong>da</strong>s relações sociais.<br />
Até agora os gran<strong>de</strong>s programas <strong>de</strong> intervenção em activi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
fisico-<strong>de</strong>sportivas têm-se <strong>de</strong>dica<strong>do</strong> à população infantil, juvenil<br />
e adulta, começan<strong>do</strong> <strong>de</strong> maneira progressiva a incluir a população<br />
i<strong>do</strong>sa <strong>de</strong>s<strong>de</strong> há alguns anos.<br />
Para as pessoas <strong>de</strong> 65 e 75 anos, a activi<strong>da</strong><strong>de</strong> física constante<br />
po<strong>de</strong> melhorar notavelmente a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, permitin<strong>do</strong>lhes<br />
participar na maioria <strong>da</strong>s experiências enriquece<strong>do</strong>ras <strong>do</strong><br />
seu meio. Os efeitos <strong>de</strong> conservar a saú<strong>de</strong> aparecem, possivel-<br />
<strong>Revista</strong> Portuguesa <strong>de</strong> Ciências <strong>do</strong> <strong>Desporto</strong>, 2004, vol. 4, nº 2 (suplemento) [15–102]<br />
mente, mais associa<strong>do</strong>s à quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>do</strong> que à quanti<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> vi<strong>da</strong>. A saú<strong>de</strong> e a condição física aos 70 anos proporciona<br />
a vitali<strong>da</strong><strong>de</strong> para <strong>da</strong>r uma caminha<strong>da</strong>, na<strong>da</strong>r, esquiar, ir numa<br />
excursão, e dirigir um negócio ou exercer uma profissão em<br />
que lhe seja exigi<strong>do</strong> uma condição física tal, que permita gerir<br />
uma empresa, <strong>da</strong>r aulas, viajar, ou relacionar-se com outras<br />
pessoas. A capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> física nos i<strong>do</strong>sos <strong>de</strong> 85 anos é a diferença<br />
entre a mobili<strong>da</strong><strong>de</strong> e a incapaci<strong>da</strong><strong>de</strong>, entre manter-se in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />
e ser <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> outros e, às vezes, a diferença entre<br />
a vi<strong>da</strong> e a morte.<br />
Mas não apenas se melhora a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população<br />
i<strong>do</strong>sa mediante os próprios programas <strong>de</strong> activi<strong>da</strong><strong>de</strong> física,<br />
como também, na actuali<strong>da</strong><strong>de</strong>, se aceita que realizar exercício<br />
físico sistemático ao longo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e manter bons hábitos <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong>, aumenta a esperança <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>. Muitos têm si<strong>do</strong> os autores<br />
que têm <strong>de</strong>monstra<strong>do</strong> nos seus trabalhos o incremento <strong>da</strong><br />
longevi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s pessoas que realizam exercício em relação aos<br />
se<strong>de</strong>ntários. Segun<strong>do</strong> estes estu<strong>do</strong>s, o exercício permite diminuir<br />
os efeitos malignos <strong>de</strong> uma vi<strong>da</strong> se<strong>de</strong>ntária combina<strong>da</strong><br />
com a sobrealimentação.<br />
2. Activi<strong>da</strong><strong>de</strong> física e envelhecimento<br />
As transformações que levam ao envelhecimento - fun<strong>da</strong>mentalmente<br />
<strong>de</strong>vi<strong>da</strong>s à inactivi<strong>da</strong><strong>de</strong> própria <strong>do</strong>s i<strong>do</strong>sos - influenciam<br />
to<strong>do</strong> o organismo, mas fun<strong>da</strong>mentalmente o aparelho<br />
locomotor. Os músculos per<strong>de</strong>m força, tónus e volume, as articulações<br />
tornam-se preguiçosas per<strong>de</strong>n<strong>do</strong> flexibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e os<br />
ossos tornam-se mais frágeis. Como consequência <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> isto,<br />
produzem-se <strong>do</strong>res musculares e articulares que incitam a pessoa<br />
i<strong>do</strong>sa a mover-se ca<strong>da</strong> vez menos, levan<strong>do</strong> inclusive em<br />
alguns casos à imobili<strong>da</strong><strong>de</strong> total e, como consequência <strong>de</strong>sta<br />
falta <strong>de</strong> activi<strong>da</strong><strong>de</strong>, quan<strong>do</strong> o i<strong>do</strong>so se move e por algum motivo<br />
realiza um gesto estranho, um tropeção ou um esforço ina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong><br />
à sua condição física, po<strong>de</strong> produzir-se uma lesão<br />
muscular, articular ou óssea.<br />
O envelhecimento produz a involução física, que leva a modificações<br />
negativas em órgãos e sistemas, atribuí<strong>do</strong>s geralmente<br />
ao processo <strong>de</strong> envelhecimento. Estas modificações negativas,<br />
segun<strong>do</strong> os especialistas, não se produzem tanto pelo envelhecimento,<br />
mas pela falta <strong>de</strong> activi<strong>da</strong><strong>de</strong> física. Esta inactivi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
física é responsável, numa percentagem muito eleva<strong>da</strong>, pelos<br />
sintomas atribuí<strong>do</strong>s à velhice. Segun<strong>do</strong> diferentes autores <strong>de</strong><br />
prestígio internacional, se os i<strong>do</strong>sos continuassem com uma<br />
activi<strong>da</strong><strong>de</strong> física a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> ao longo <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a sua vi<strong>da</strong>, a <strong>de</strong>pendência<br />
relativamente a terceiros seria reduzi<strong>da</strong> em gran<strong>de</strong><br />
medi<strong>da</strong>, levan<strong>do</strong> a que o i<strong>do</strong>so mantivesse a sua in<strong>de</strong>pendência<br />
e a sua quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> em índices mais eleva<strong>do</strong>s e durante<br />
mais anos.<br />
As pretensões <strong>do</strong>s que trabalham e investigam com a activi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
física para os i<strong>do</strong>sos, não são tanto as <strong>de</strong> prolongar a vi<strong>da</strong><br />
in<strong>de</strong>fini<strong>da</strong>mente - objectivo impossível o <strong>de</strong> conseguir a juventu<strong>de</strong><br />
eterna, procura<strong>da</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a antigui<strong>da</strong><strong>de</strong> por uma infini<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> méto<strong>do</strong>s - mas sim a <strong>de</strong> acrescentar vigor e vi<strong>da</strong> aos anos<br />
que vamos viver, conseguin<strong>do</strong> manter a vitali<strong>da</strong><strong>de</strong> e a quali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> vi<strong>da</strong> o maior número <strong>de</strong> anos <strong>da</strong>s nossas vi<strong>da</strong>s. Ten<strong>do</strong> assim<br />
uma vi<strong>da</strong> cheia <strong>de</strong> vitali<strong>da</strong><strong>de</strong> e in<strong>de</strong>pendência, sem <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r<br />
<strong>do</strong>s <strong>de</strong>mais e com o menor consumo <strong>de</strong> fármacos possível.<br />
2.1. Prescrição <strong>de</strong> exercício para as pessoas <strong>da</strong> 3ª i<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
Ao planearmos um programa <strong>de</strong> exercício para este grupo <strong>de</strong><br />
i<strong>da</strong><strong>de</strong>, o nosso objectivo não vai ser o rendimento <strong>de</strong>sportivo<br />
nem a competição. O objectivo fun<strong>da</strong>mental que se persegue