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35754-Revista FCDEF - Faculdade de Desporto da Universidade do ...

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28<br />

ORADORES CONVIDADOS<br />

mente <strong>do</strong>s membros inferiores, têm também si<strong>do</strong> associa<strong>da</strong>s ao<br />

maior risco <strong>de</strong> que<strong>da</strong>s (Carter et al., 2001), à diminuição <strong>da</strong><br />

<strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong> mineral óssea (DMO) e à maior probabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

fracturas (Carter et al., 2001), bem como, a outras alterações<br />

fisiológicas adversas, tais como, intolerância à glicose (Miller et<br />

al., 1994) e alterações no metabolismo energético e na capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

aeróbia (Fiatarone et al., 1994).<br />

Assim, <strong>da</strong>s várias alterações fisiológicas induzi<strong>da</strong>s pelo envelhecimento<br />

e/ou inactivi<strong>da</strong><strong>de</strong> física, as alterações sobre o sistema<br />

muscular esquelético revelam-se <strong>de</strong> especial importância<br />

<strong>da</strong><strong>da</strong> a sua relação com a saú<strong>de</strong>, mobili<strong>da</strong><strong>de</strong>, funcionali<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />

autonomia <strong>do</strong> i<strong>do</strong>so.<br />

De acor<strong>do</strong> com diferentes autores, a força muscular máxima é<br />

alcança<strong>do</strong> por volta <strong>do</strong>s 30 anos, mantém-se mais ou menos<br />

estável até à 5ª déca<strong>da</strong>, i<strong>da</strong><strong>de</strong> a partir <strong>da</strong> qual inicia o seu <strong>de</strong>clínio.<br />

Entre os 50 e os 70 anos existe uma per<strong>da</strong> <strong>de</strong> aproxima<strong>da</strong>mente<br />

15% por déca<strong>da</strong>, após o que a redução <strong>da</strong> força muscular<br />

aumenta para 30% em ca<strong>da</strong> 10 anos (Rogers e Evans, 1993).<br />

Este <strong>de</strong>clínio generaliza<strong>do</strong> <strong>da</strong> força muscular tem implicações<br />

significativas na capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> funcional <strong>do</strong> i<strong>do</strong>so. Vários estu<strong>do</strong>s<br />

têm <strong>de</strong>monstra<strong>do</strong> uma correlação positiva <strong>da</strong> força muscular,<br />

particularmente a força <strong>do</strong>s extensores <strong>do</strong> joelho, com a veloci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> marcha, com a subi<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>graus, com a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

se levantar <strong>de</strong> uma ca<strong>de</strong>ira e com a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar diferentes<br />

activi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>do</strong> dia a dia (para refs ver Brill et al., 2000).<br />

Para além <strong>de</strong>ste facto, a literatura sugere que os baixos índices<br />

<strong>de</strong> força estão relaciona<strong>do</strong>s com a maior susceptibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

ocorrência <strong>de</strong> que<strong>da</strong>s e consequentes fracturas, facilita<strong>da</strong>s pela<br />

<strong>de</strong>smineralização óssea comum neste escalão etário (Carter et<br />

al., 2001). As que<strong>da</strong>s são hoje consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s um problema <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> pública, pois, para além <strong>do</strong>s custos sociais que lhes estão<br />

inerentes, implicam, na sua maioria, o recurso à situação <strong>de</strong><br />

acamamento e, <strong>de</strong>ste mo<strong>do</strong>, a uma aceleração <strong>da</strong> senescência<br />

<strong>do</strong> i<strong>do</strong>so (Carter et al., 2001).<br />

A diminuição <strong>da</strong> força é atribuí<strong>da</strong> maioritariamente à per<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

massa muscular, seja pela atrofia, seja pela redução <strong>do</strong> número<br />

<strong>de</strong> fibras musculares (Proctor et al., 1995).<br />

A atrofia <strong>da</strong>s fibras observa<strong>da</strong> no músculo envelheci<strong>do</strong> inicia-se<br />

por volta <strong>do</strong>s 25 anos com uma diminuição progressiva <strong>da</strong> área<br />

em cerca <strong>de</strong> 10% até perto <strong>do</strong>s 50 anos. Após esta i<strong>da</strong><strong>de</strong>, ocorre<br />

uma atrofia mais pronuncia<strong>da</strong>, <strong>de</strong> tal mo<strong>do</strong> que aos 80 anos o<br />

i<strong>do</strong>so sofre uma per<strong>da</strong> <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 50% na área <strong>de</strong> secção transversal<br />

<strong>do</strong> músculo (Proctor et al., 1995). Para além <strong>de</strong> uma<br />

atrofia preferencial <strong>da</strong>s fibras II relativamente às fibras I, com<br />

uma redução média <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 26% entre os 20 e os 80 anos,<br />

quan<strong>do</strong> analisa<strong>do</strong>s os sub-tipos <strong>de</strong> fibras rápi<strong>da</strong>s (IIa e IIb),<br />

esta atrofia é mais evi<strong>de</strong>nte nas fibras IIb comparativamente às<br />

IIa (Proctor et al., 1995).<br />

No que se refere ao número <strong>de</strong> fibras musculares, embora exista<br />

consenso relativamente à hipoplasia muscular com o envelhecimento,<br />

o mesmo não acontece no que respeita ao tipo <strong>de</strong><br />

fibras que são perdi<strong>da</strong>s. Três hipóteses têm si<strong>do</strong> coloca<strong>da</strong>s no<br />

senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> explicar o efeito <strong>da</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong> na composição <strong>do</strong> músculo,<br />

mas nenhuma reúne consenso presentemente (Klitgaard et<br />

al., 1990; Lexell et al., 1998). Uma <strong>da</strong>s hipóteses é que a proporção<br />

<strong>do</strong>s tipos <strong>de</strong> fibras musculares se mantém relativamente<br />

constante ao longo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, com per<strong>da</strong> indiferencia<strong>da</strong> <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s<br />

os tipos <strong>de</strong> células musculares. Uma outra hipótese é a <strong>de</strong> que<br />

existe uma per<strong>da</strong> selectiva <strong>da</strong>s fibras rápi<strong>da</strong>s, resultante <strong>da</strong><br />

necrose progressiva e selectiva <strong>do</strong>s gran<strong>de</strong>s motoneurónios que<br />

activam as uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s motoras (UM) rápi<strong>da</strong>s. A terceira hipótese<br />

refere-se à possível transformação, pelo <strong>de</strong>suso, <strong>da</strong>s UM rápi-<br />

<strong>Revista</strong> Portuguesa <strong>de</strong> Ciências <strong>do</strong> <strong>Desporto</strong>, 2004, vol. 4, nº 2 (suplemento) [15–102]<br />

<strong>da</strong>s em UM lentas, com consequente alteração <strong>da</strong> relação fibras<br />

rápi<strong>da</strong>s/lentas.<br />

Para além <strong>da</strong> atrofia e <strong>da</strong> hipoplasia, vários trabalhos têm sugeri<strong>do</strong><br />

existir, com o avançar <strong>da</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>, reduções <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

recrutamento neural, mecanismo que po<strong>de</strong>rá também contribuir<br />

<strong>de</strong> forma significativa para as alterações funcionais observa<strong>da</strong>s<br />

nos i<strong>do</strong>sos (Urbanchek et al., 2001).<br />

Como resulta<strong>do</strong> <strong>da</strong> per<strong>da</strong> <strong>de</strong> motoneurónios e <strong>de</strong> lesões irreversíveis<br />

<strong>do</strong>s axónios motores periféricos associa<strong>do</strong>s ao envelhecimento,<br />

as fibras musculares experimentam vários ciclos <strong>de</strong> <strong>de</strong>snervação<br />

segui<strong>do</strong>s <strong>de</strong> reinervação. Lexell e Downham (1991),<br />

ao analisarem a disposição <strong>do</strong> tipo <strong>de</strong> fibras no m. vastus lateralis<br />

em diferentes grupos etários, observaram no grupo mais<br />

i<strong>do</strong>so um aumento <strong>do</strong> agrupamento por tipo <strong>de</strong> fibras, o que se<br />

constitui como um sinal indirecto <strong>da</strong> ocorrência <strong>de</strong> ciclos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>snervação/reinervação. A inervação colateral (“colateral<br />

sprouting”) ocorre como resposta à progressiva per<strong>da</strong> <strong>de</strong> motoneurónios<br />

(Urbanchek et al., 2001).<br />

Uma segun<strong>da</strong> consequência <strong>da</strong> reinervação muscular é a per<strong>da</strong><br />

<strong>de</strong> distribuição tipo mosaico on<strong>de</strong> as fibras musculares inerva<strong>da</strong>s<br />

por diferentes tipos <strong>de</strong> motoneurónios são interdigita<strong>da</strong>s<br />

<strong>de</strong> forma mais ou menos heterogénea (Booth et al., 1994). No<br />

músculo envelheci<strong>do</strong> é frequente encontrarem-se fibras encapsula<strong>da</strong>s,<br />

ou seja, fibras <strong>de</strong>snerva<strong>da</strong>s que são envolvi<strong>da</strong>s por<br />

fibras <strong>do</strong> mesmo tipo, fenómeno vulgarmente <strong>de</strong>signa<strong>do</strong> por<br />

“clumping” e que origina uma composição mais homogénea <strong>do</strong><br />

músculo <strong>do</strong> i<strong>do</strong>so (Lexell et al., 1998). Assim, em ca<strong>da</strong> ciclo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>snervação-reinervação, e porque a síntese proteica está negativamente<br />

afecta<strong>da</strong> pela i<strong>da</strong><strong>de</strong> (Marks, 1992), os motoneurónios<br />

sobreviventes po<strong>de</strong>m apresentar uma reduzi<strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> reinervar as fibras <strong>de</strong>snerva<strong>da</strong>s, forman<strong>do</strong> uma região não<br />

contráctil intramuscular on<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser visível a infiltração <strong>de</strong><br />

teci<strong>do</strong> conjuntivo e/ou gordura, originan<strong>do</strong> assim uma per<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> função contráctil. De acor<strong>do</strong> com o estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> Uranchek et<br />

al. (2001), 11.3% <strong>do</strong> défice específico <strong>de</strong> força encontra<strong>do</strong><br />

entre os animais jovens e velhos é explica<strong>do</strong> pela existência <strong>de</strong><br />

fibras <strong>de</strong>snerva<strong>da</strong>s. Por outro la<strong>do</strong>, e porque as estruturas nervosas<br />

influenciam as proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s contrácteis <strong>da</strong>s fibras, a possível<br />

reinervação <strong>de</strong> fibras II por motoneurónios tipo I, torna o<br />

músculo mais fraco, ou seja, com menos capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gerar<br />

força (Uranchek et al., 2001).<br />

Da<strong>do</strong> que, tal como referi<strong>do</strong> anteriormente, a fraqueza muscular<br />

contribui para alterações na mobili<strong>da</strong><strong>de</strong>, autonomia, bem como<br />

para o maior risco <strong>de</strong> que<strong>da</strong>s e fracturas nos i<strong>do</strong>sos, um a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong><br />

programa <strong>de</strong> treino <strong>de</strong> força po<strong>de</strong> constituir-se como um<br />

meio importante para a vi<strong>da</strong> diária <strong>do</strong> i<strong>do</strong>so (Brill et al., 2000).<br />

Numerosos estu<strong>do</strong>s têm <strong>de</strong>monstra<strong>do</strong> que, com estímulos a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong> força, i<strong>do</strong>sos <strong>de</strong> ambos os sexos apresentam ganhos<br />

na força muscular semelhantes, ou até relativamente superiores,<br />

àqueles encontra<strong>do</strong>s nos jovens (para refs ver. Porter e<br />

Van<strong>de</strong>rvoort, 1995).<br />

Mesmo em sujeitos mais <strong>de</strong>bilita<strong>do</strong>s têm si<strong>do</strong> encontra<strong>do</strong>s<br />

aumentos <strong>de</strong> força e <strong>da</strong> área muscular com consequente melhoria<br />

funcional. Por exemplo, Fiatarone et al. (1994) observaram em<br />

i<strong>do</strong>sos resi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> lares entre os 72 e 98 anos aumentos <strong>de</strong><br />

cerca <strong>de</strong> 100% (1RM) após treino <strong>de</strong> força, acompanha<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

alterações positivas na mobili<strong>da</strong><strong>de</strong> (veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> marcha e veloci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> subir/<strong>de</strong>scer <strong>de</strong>graus) e na activi<strong>da</strong><strong>de</strong> física espontânea.<br />

São vários os mecanismos que po<strong>de</strong>m explicar os ganhos <strong>da</strong><br />

força com treino intenso, incluin<strong>do</strong> alterações bioquímicas e<br />

morfológicas musculares, alterações na biomecânica <strong>do</strong> teci<strong>do</strong><br />

muscular e conjuntivo, activação <strong>do</strong> sistema nervoso central,

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