35754-Revista FCDEF - Faculdade de Desporto da Universidade do ...
35754-Revista FCDEF - Faculdade de Desporto da Universidade do ...
35754-Revista FCDEF - Faculdade de Desporto da Universidade do ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
lização ou a atrofia atribuível à i<strong>da</strong><strong>de</strong>, são disso bons exemplos.<br />
Neste senti<strong>do</strong>, o estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> estrutura e função <strong>do</strong> músculo<br />
esquelético tem vin<strong>do</strong> a reunir um interesse crescente na<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> científica. To<strong>da</strong>via, existe ain<strong>da</strong> um certo <strong>de</strong>sfasamento<br />
entre o conhecimento básico e a prática clínica, sen<strong>do</strong><br />
que a aplicação <strong>de</strong> conhecimentos empíricos, com base na<br />
experiência, tem gera<strong>do</strong> resulta<strong>do</strong>s controversos e <strong>de</strong> justificação<br />
experimental duvi<strong>do</strong>sa.<br />
Particularmente no <strong>de</strong>sporto, o músculo esquelético é submeti<strong>do</strong><br />
a cargas, <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m mecânica e metabólica que promovem<br />
uma cascata <strong>de</strong> a<strong>da</strong>ptações, agu<strong>da</strong>s e crónicas, que em última<br />
análise preten<strong>de</strong>m aumentar a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> funcional <strong>de</strong>ste teci<strong>do</strong>.<br />
O músculo ao longo <strong>do</strong>s diferentes tipos <strong>de</strong> treino vai<br />
adquirin<strong>do</strong> uma expressão fenotípica diferencia<strong>da</strong>, expressan<strong>do</strong><br />
diferentes capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s e aptidões funcionais. A capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong><br />
músculo alterar a sua expressão fenotípica em resposta à activi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
é media<strong>da</strong> por um processo que envolve alterações quantitativas<br />
e qualitativas <strong>de</strong> expressão genética, incluin<strong>do</strong> os isogenes<br />
<strong>da</strong>s ca<strong>de</strong>ias pesa<strong>da</strong>s <strong>de</strong> miosina que codificam diferentes<br />
tipos <strong>de</strong> moléculas motoras (Goldspink, 2002). Adicionan<strong>do</strong> a<br />
este facto a expressão <strong>de</strong> genes metabólicos, resulta na maior<br />
ou menor capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong> músculo resistir à fadiga <strong>de</strong> um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong><br />
tipo <strong>de</strong> exercício físico.<br />
Para além <strong>da</strong> notável capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> plástica <strong>do</strong> músculo, i.e., <strong>da</strong><br />
aptidão tecidular para se a<strong>da</strong>ptar aos estímulos externos, é hoje<br />
reconheci<strong>do</strong> o músculo esquelético como um teci<strong>do</strong> secretor,<br />
chegan<strong>do</strong> mais recentemente a ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> um teci<strong>do</strong> endócrino<br />
capaz <strong>de</strong> expressar inúmeros factores autócrinos e factores<br />
sistémicos (Sheffield-Moore e Urban, 2004). Se acrescentarmos<br />
a isso o facto <strong>do</strong> músculo esquelético ser capaz <strong>de</strong> expressar<br />
constructos genéticos quan<strong>do</strong> introduzi<strong>do</strong>s por administração<br />
intramuscular, estamos perante um teci<strong>do</strong> que, para além <strong>da</strong> sua<br />
capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> a<strong>da</strong>ptação, tem também inúmeras possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> utilização <strong>da</strong> terapia genética (Léonard, 2003).<br />
A transferência <strong>de</strong> genes tem vin<strong>do</strong> a ser <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> e apresenta<br />
hoje inúmeras aplicações, <strong>da</strong>s quais se salientam a <strong>de</strong>ficiência<br />
na hormona <strong>do</strong> crescimento (MacColl et al., 1998), factores<br />
<strong>de</strong> crescimento muscular, especialmente IGF-I (Barton-<br />
Davies et al., 1998), insuficiência na produção <strong>de</strong> eritropoietina<br />
(McGary et al., 1996), neuropatia diabética (Rask et al., 1998)<br />
e <strong>do</strong>enças periféricas vasculares (Oyama et al., 1998).<br />
Para além <strong>de</strong>stas aplicações, a terapia genética está a iniciar o<br />
seu <strong>de</strong>senvolvimento para ampla aplicação clínica, particularmente<br />
no tratamento <strong>da</strong>s lesões <strong>de</strong>sportivas. Por <strong>de</strong>finição, a<br />
terapia genética tem por objectivo suprimir ou atenuar os efeitos<br />
<strong>de</strong> uma <strong>do</strong>ença, seja modifican<strong>do</strong> ou reparan<strong>do</strong> o gene<br />
<strong>de</strong>feituoso ou limitan<strong>do</strong> ou suprimin<strong>do</strong> os efeitos <strong>da</strong> sua<br />
expressão clínica. Especialmente no <strong>de</strong>sporto, o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> intervenções genéticas que permitam acelerar a reparação<br />
<strong>do</strong> teci<strong>do</strong> muscular após lesão, é um tópico <strong>de</strong> inegável<br />
interesse que está a começar a ser implementa<strong>do</strong> clinicamente,<br />
<strong>de</strong>pois <strong>da</strong>s primeiras experiências em células em cultura e no<br />
mo<strong>de</strong>lo animal (para refs. ver Martinek et al., 2003). No caso<br />
<strong>do</strong> músculo esquelético as técnicas habitualmente mais utiliza<strong>da</strong>s<br />
referem-se à terapia genética directa usan<strong>do</strong> retrovirus,<br />
a<strong>de</strong>novirus e virus herpes simplex tipo I. To<strong>da</strong>via, esta técnica<br />
impõe ain<strong>da</strong> algumas precauções <strong>da</strong><strong>do</strong>s os potenciais riscos <strong>da</strong><br />
toxici<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>do</strong> comprometimento imunológico e possíveis efeitos<br />
carcinogénicos e mutagénicos (Takahashi et al., 2003). Para<br />
obviar a estes problemas, Aihara e Miyazaki (1998) <strong>de</strong>monstraram,<br />
já no final <strong>do</strong>s anos 90, que é possível utilizar com o<br />
mesmo fim outras técnicas que se mostram amplamente mais<br />
GRUPOS DE INTERESSE<br />
seguras e efectivas, tal como a electroporação, mais recentemente<br />
utiliza<strong>da</strong> para transferir geneticamente o gene IGF-I<br />
(Takahashi et al., 2003).<br />
To<strong>da</strong>s estas novas terapêuticas têm como objectivo acelerar o<br />
processo <strong>de</strong> reparação muscular que se sabe ser lento e, não<br />
raras vezes, <strong>de</strong>ixar sequelas cicatriciais, diminuin<strong>do</strong> a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
funcional e aumentan<strong>do</strong> o risco <strong>de</strong> recidiva. A cicatrização é<br />
um passo normal <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> cura <strong>de</strong> lesão muscular, que<br />
inclui a <strong>de</strong>generação, a inflamação e a regeneração. Este processo<br />
inicia-se 1 semana após a lesão e atinge o seu pico durante a<br />
2ª semana, diminuin<strong>do</strong> rapi<strong>da</strong>mente (para refs. ver Huard, Li e<br />
Fu, 2002). O processo <strong>de</strong> cura tem vin<strong>do</strong> a ser acelera<strong>do</strong> e maximiza<strong>do</strong><br />
através <strong>da</strong> utilização <strong>de</strong> factores <strong>de</strong> crescimento, especialmente<br />
os tipo insulínico (IGF-I), factores <strong>de</strong> crescimento<br />
fibroblásticos (FGF) e factores <strong>de</strong> crescimento nervoso (NGF).<br />
Apesar <strong>do</strong> IGF-I ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> o meio mais eficaz <strong>de</strong> cura<br />
(Sato et al., 2003), não tem si<strong>do</strong> <strong>de</strong>monstra<strong>da</strong> inibição <strong>de</strong> fibrose.<br />
A fibrose muscular inicia-se 2 semanas após a lesão e permanece<br />
ao longo <strong>do</strong> tempo, processo esse que está liga<strong>do</strong> à incompleta<br />
recuperação <strong>da</strong> força muscular. Para tentar obviar a este<br />
problema, têm si<strong>do</strong> tenta<strong>do</strong>s diferentes mo<strong>de</strong>los terapêuticos<br />
<strong>do</strong>s quais se salientam a utilização <strong>de</strong> agentes anti-fibróticos<br />
isola<strong>da</strong>mente, tal como a <strong>de</strong>corina (Fukushima et al., 2001), a<br />
<strong>de</strong>corina juntamente com factores <strong>de</strong> crescimento (Sato et al.,<br />
2003) ou ain<strong>da</strong> o γ−interferão (Foster et al., 2003).<br />
Ain<strong>da</strong> que muitos <strong>de</strong>stes mo<strong>de</strong>los tenham vin<strong>do</strong> a ser testa<strong>do</strong>s<br />
experimentalmente, a sua aplicação clínica em larga escala está<br />
ain<strong>da</strong> muito condiciona<strong>da</strong> a evidências mais robustas e a uma<br />
maior replicabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s. Fica, no entanto, claro<br />
que as lesões <strong>de</strong>sportivas têm permiti<strong>do</strong> criar um campo “artificial”<br />
<strong>de</strong> experimentação <strong>de</strong> novos méto<strong>do</strong>s e técnicas terapêuticas<br />
com uma aplicação promissora em <strong>do</strong>enças, sejam <strong>de</strong><br />
carácter mais local, sejam <strong>de</strong> abrangência mais sistémica.<br />
Assim, a transferência <strong>do</strong>s conhecimentos <strong>da</strong> investigação básica<br />
para a prática clínica afigura-se actualmente como uma área<br />
<strong>de</strong> inegável importância na maximização <strong>da</strong> funcionali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
muscular esquelética.<br />
Referências<br />
AIHARA H, MIYAZAKI J (1998): Gene transfer into muscle by<br />
electroporation in vivo. Nat Biotechnol 16: 867-870<br />
BARTON-DAVIES ER, SHOTURMA DI, MUSARO A (1998):<br />
Viral mediated expression of insulin-like growth factor I<br />
blocks the aging-related loss of skeletal muscle funcition. Proc<br />
Nat Acad Sci USA 95: 603-615<br />
FOSTER W, LI Y, USAS A (2003): Gamma interferon as an<br />
antifibrosis agent in skeletal muscle. J Orthop Res 21: 798-804<br />
FUKUSHIMA K, BADLANI N, USAS A (2001): The use of<br />
antifibrosis agent to improve muscle recovery after laceration.<br />
Am J Sports Med 29: 394-402<br />
GOLDSPINK G (2002): Gene expression in skeletal muscle.<br />
Biochem Soc Trans 30: 285-290<br />
HUARD J, LI Y, FU F (2002): Muscle injury and repair: current<br />
trends in research. J Bone Joint Surg Am 84: 822-832<br />
LÉONARD J-C (2003): Gene therapy in sport injuries: prospects<br />
or realities? Science & Sports 18: 267-271<br />
MACCOLL G, NOVO J, MARSHALL N (1998): A method for<br />
producing biologically active growth hormone in muscle cells.<br />
Cell Molec Neurobiol 18: 101-123<br />
MARTIKEK V, UEBLACKER P, IMHOFF AB (2003): Current<br />
concepts of gene therapy and cartilage repair. J Bone Joint Surg<br />
Br: 85: 782-788<br />
<strong>Revista</strong> Portuguesa <strong>de</strong> Ciências <strong>do</strong> <strong>Desporto</strong>, 2004, vol. 4, nº 2 (suplemento) [15–102] 37