35754-Revista FCDEF - Faculdade de Desporto da Universidade do ...

em diferentes modalidades. Tal decorre, particularmente do
facto de não ser consistente a ocorrência de progressos significativos
quando as condições de realização estão sujeitas a uma
interferência contextual elevada, apanágio dos envolvimentos
do jogo, na sua versão formal (Brady, 1997; Farrow e
Maschette, 1997; Hebert et al., 1996).
Mais recentemente, a realização de estudos nos quais a estruturação
das tarefas desportivas integra condições de realização
sujeitas a interferência contextual moderada, mostrou resultados
altamente satisfatórios. Num estudo aplicado por Landin e
Hebert (1997), no Basquetebol, os praticantes mostraram
níveis de evolução superiores quando praticaram tarefas de
interferência contextual moderada, o que reitera a necessidade
das tarefas de aprendizagem serem estruturadas de forma progressiva,
em referência ao jogo.
Do mesmo modo, Mesquita (1998) num estudo aplicado no
treino em Voleibol, no escalão de iniciados feminino, pretendeu
analisar o efeito diferenciador da prática de tarefas estruturadas
de forma progressiva em referência às exigências colocadas no
jogo 2x2 e da informação orientada para critérios de execução,
sobre os ganhos na aprendizagem das habilidades técnicas. Em
termos absolutos, a variável que mais influência exerceu sobre
os ganhos na aprendizagem foi o treino das habilidades em
situações de prática sujeitas a uma interferência contextual
moderada, patentes nas tarefas com estrutura funcional idêntica
à do jogo 2x2. Perante estes resultados, a autora realça a
necessidade do treino das habilidades técnicas ser realizado em
tarefas sujeitas a interferência contextual moderada, integrando
a lógica acontecimental do jogo e a sua estrutura funcional,
como é o caso do jogo 2x2 no Voleibol e tarefas motoras afins.
Parece assim encontrar suporte teórico a convicção de que a
utilização de situações variadas de prática, per se, não permite a
obtenção de níveis de desempenho superiores, se essas situações
não oferecerem algo de diferente e estimulante do ponto
de vista da aprendizagem (Lee et al.,1997; Wright e Coady,
1997; Wrisberg, 1991). Ou seja, para que exista consistência
no domínio de determinado comportamento motor é necessário
que as condições de prática integrem variabilidade reiterada
pelas exigências do jogo e sejam edificadas, de forma progressiva,
à medida da capacidade de resposta dos praticantes. Para
isso, a complexidade não pode ser manipulada pela diminuição
das exigências na aprendizagem dos fundamentos do jogo, mas
fundamentalmente pela manipulação das condições de prática
(Rink et al., 1996). Tal implica que se controle os envolvimentos
de aprendizagem, para que as condições de prática sejam
apropriadas à capacidade de resposta dos praticantes. Não
havendo esta preocupação, corre-se o risco das condições situacionais
de prática conduzirem à deturpação dos comportamentos
motores desejados (Rovegno, 1995). A adequação das condições
de prática à capacidade de resposta do praticante, constitui
a principal justificação da utilização dos jogos modificados e
das tarefas que visam a prática dos fundamentos, em referência
ao seu significado de aplicação no jogo (Griffin et al., 1997).
Em jeito de síntese interessa salientar que a selecção e a sistematização
das tarefas motoras, no âmbito dos jogos desportivos,
deve assentar prioritariamente nas exigências colocadas
pela competição, na medida em que esta é, por excelência, o
envolvimento situacional em que se aplicam os conteúdos táctico-técnicos
(Graça e Mesquita, 2002); a simplificação da
estrutura complexa do jogo passa pela criação de níveis de dificuldade
crescente, que embora mais simples não desvirtuam a
sua essencialidade, assente na asserção de que a lógica didácti-
GRUPOS DE INTERESSE
ca está subordinada à lógica do jogo.
Como conclusão essencial emerge a ideia de que a prática
sujeita à interferência contextual moderada deve estar associada
à necessidade de reconstrução de planos de acção (Graça &
Mesquita, 2002). A activação dos processos adaptativos possibilitará
a interpretação imediata do inesperado, proporcionando
a tomada de decisões atempadas e oportunas (Turner &
Martinek, 1995). Para tal, concorre a estruturação didáctica dos
conteúdos referenciada à concepção holística da aprendizagem,
complementada pela construção de determinados algoritmos,
reclamados pelas regularidades do jogo.
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