35754-Revista FCDEF - Faculdade de Desporto da Universidade do ...
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vplopes@ipb.pt<br />
ACTIVIDADE FÍSICA E PRÁTICAS ALIMENTARES DA CRIANÇA DE<br />
LISBOA (RAPIL). CONSEQUÊNCIAS OBESOGÉNICAS.<br />
Fragoso, M. Isabel; Vieira, M. Filomena<br />
<strong>Facul<strong>da</strong><strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Motrici<strong>da</strong><strong>de</strong> Humana, Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Técnica <strong>de</strong> Lisboa,<br />
Portugal<br />
Introdução<br />
As causas <strong>de</strong> variação <strong>da</strong> composição corporal estão associa<strong>da</strong>s<br />
à exposição ao sol, ao crescimento, à activi<strong>da</strong><strong>de</strong> física, a programas<br />
específicos <strong>de</strong> treino, ao <strong>de</strong>senvolvimento músculo-esquelético,<br />
a hábitos alimentares, ao género e a padrões étnicos e<br />
culturais. Segun<strong>do</strong> Dietz (1994) existem três momentos consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s<br />
críticos para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> adiposi<strong>da</strong><strong>de</strong>: a gestação,<br />
a infância e a a<strong>do</strong>lescência. Porém, se aten<strong>de</strong>rmos às<br />
modificações <strong>do</strong> adipócito e à enorme activi<strong>da</strong><strong>de</strong> espontânea <strong>da</strong><br />
criança durante a segun<strong>da</strong> infância, seria <strong>de</strong> esperar que a<br />
quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gordura corporal diminuísse. Na infância o<br />
aumento <strong>de</strong> peso faz-se sobretu<strong>do</strong> à custa <strong>do</strong> aumento <strong>do</strong><br />
tamanho <strong>do</strong> adipócito, sen<strong>do</strong> por isso gravíssimo que, nestas<br />
i<strong>da</strong><strong>de</strong>s, ocorra um aumento <strong>de</strong> peso feito à custa <strong>da</strong> hiperplasia<br />
celular.<br />
Ao longo <strong>da</strong>s últimas déca<strong>da</strong>s tornámos o tempo <strong>da</strong> criança<br />
idêntico ao <strong>do</strong> adulto, ou seja, reduzimos drasticamente o seu<br />
tempo livre e aumentámos radicalmente o número <strong>de</strong> horas<br />
dispendi<strong>do</strong> em activi<strong>da</strong><strong>de</strong>s se<strong>de</strong>ntárias. Deste mo<strong>do</strong>, as crianças<br />
embora <strong>de</strong>monstrem uma mobili<strong>da</strong><strong>de</strong> invulgar poucas vezes a<br />
po<strong>de</strong>m expressar (a não ser durante curtos espaços <strong>de</strong> tempo,<br />
enquanto enquadra<strong>da</strong>s numa qualquer activi<strong>da</strong><strong>de</strong> organiza<strong>da</strong>).<br />
Este facto tem consequências irreparáveis pois estamos a con-<br />
GRUPOS DE INTERESSE<br />
tribuir, não só para o maior aumento <strong>da</strong> dimensão <strong>da</strong> célula<br />
adiposa como também, para que o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> menor hiperplasia<br />
<strong>do</strong> adipócito se torne lentamente num perío<strong>do</strong> crítico <strong>de</strong><br />
aumento <strong>da</strong> obesi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
A inactivi<strong>da</strong><strong>de</strong> física é assim, entre os factores <strong>de</strong> variação <strong>da</strong><br />
composição corporal, aquele que mais contribui para o aumento<br />
<strong>da</strong> obesi<strong>da</strong><strong>de</strong> (Kemper et al., 1999; Moore et al., 2003) e <strong>de</strong><br />
to<strong>da</strong>s as <strong>do</strong>enças a ela associa<strong>da</strong>s. Numa socie<strong>da</strong><strong>de</strong> em que os<br />
comportamentos se<strong>de</strong>ntários <strong>do</strong>s adultos contribuem substancialmente<br />
para esta epi<strong>de</strong>mia, é urgente que, no âmbito <strong>da</strong><br />
saú<strong>de</strong> pública, se combinem esforços no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> promover a<br />
activi<strong>da</strong><strong>de</strong> física em to<strong>da</strong>s as i<strong>da</strong><strong>de</strong>s e especialmente nas crianças<br />
(American Aca<strong>de</strong>my of Pediatrics, 2000; WHO, 2003). Só<br />
melhoran<strong>do</strong> o estilo <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s crianças, ensinan<strong>do</strong>-as a comer<br />
melhor e organizan<strong>do</strong> o seu tempo <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a oferecer-lhes<br />
tempo livre e espaços a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s a diferentes activi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, se<br />
po<strong>de</strong>rá evitar que as gerações futuras sejam mais pesa<strong>da</strong>s e<br />
menos activas.<br />
Objectivo <strong>do</strong> estu<strong>do</strong><br />
Neste trabalho comparámos <strong>do</strong>is grupos <strong>de</strong> indivíduos, os que<br />
gastam mais tempo semanal em activi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> baixo e eleva<strong>do</strong><br />
dispêndio energético, tentan<strong>do</strong> <strong>de</strong>screver e analisar as activi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
e práticas alimentares semanais e a morfologia <strong>da</strong>s crianças<br />
incluí<strong>da</strong>s em ca<strong>da</strong> grupo.<br />
Meto<strong>do</strong>logia<br />
A amostra <strong>de</strong>ste trabalho é constituí<strong>da</strong> por 3028 crianças (1530<br />
raparigas e 1498 rapazes) com i<strong>da</strong><strong>de</strong>s compreendi<strong>da</strong>s entre os 4<br />
anos e os 10 anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
As crianças foram distribuí<strong>da</strong>s em <strong>do</strong>is grupos: o grupo <strong>de</strong> eleva<strong>do</strong><br />
dispêndio energético (EDE), que integra as crianças que<br />
an<strong>da</strong>m mais tempo a pé (Casesc) no trajecto entre a casa e a<br />
escola e <strong>de</strong>dicam mais horas por semana à prática <strong>de</strong> educação<br />
física (Edf), <strong>de</strong> activi<strong>da</strong><strong>de</strong>s físicas regulares (Actr) e <strong>de</strong> activi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
físicas não regulares (Actnr); e o grupo <strong>de</strong> baixo dispêndio<br />
energético (BDE) que inclui as crianças que vêem mais televisão<br />
(Tv), jogam mais computa<strong>do</strong>r (Comp) e <strong>do</strong>rmem mais<br />
horas (Sono) por semana.<br />
Os <strong>da</strong><strong>do</strong>s relativos ao consumo energético foram recolhi<strong>do</strong>s<br />
através <strong>do</strong> Health Behaviour in School-Aged Children Questionnaire e<br />
agrupa<strong>do</strong>s em seis gran<strong>de</strong>s categorias: produtos vegetais<br />
(Pveg); produtos ricos em hidratos <strong>de</strong> carbono (Prhc); fast food<br />
(Ffood); produtos lácteos (Plact); produtos ricos em proteína<br />
animal (Prpa); bebi<strong>da</strong>s (Beb). Criámos uma variável representativa<br />
<strong>da</strong> frequência total <strong>de</strong> ingestão <strong>de</strong> alimentos (Ingestão).<br />
As variáveis antropométricas foram avalia<strong>da</strong>s segun<strong>do</strong> Fragoso<br />
e Vieira (1999): a massa corporal (Peso), a estatura (Alt), o<br />
índice <strong>de</strong> massa corporal (IMC), o somatório total <strong>de</strong> pregas<br />
(Spreg), o somatório <strong>de</strong> seis pregas <strong>do</strong> tronco (Sptr), o somatório<br />
<strong>de</strong> quatro pregas <strong>do</strong>s membros (Spmemb), os diâmetros<br />
bicôndilo-umeral (Dbcu) e bicôndilo-femoral (Dbcf), os perímetros<br />
bicipital (Pbrcc) e geminal (Pgmlc) corrigi<strong>do</strong>s e o índice<br />
pon<strong>de</strong>ral recíproco (IPR).<br />
O tratamento estatístico foi efectua<strong>do</strong> com recurso ao programa<br />
SPSS, versão 11.5 for Win<strong>do</strong>ws, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> separa<strong>da</strong>mente<br />
os rapazes e as raparigas nos <strong>do</strong>is grupos <strong>de</strong> eleva<strong>do</strong><br />
(EDE) e baixo dispêndio energético (BDE). Estes grupos foram<br />
ain<strong>da</strong> subdividi<strong>do</strong>s em três subgrupos: nível baixo (para valores<br />
inferiores ao <strong>do</strong> percentil 25); nível médio (para valores entre<br />
os <strong>do</strong>s percentis 45 e 55) e nível eleva<strong>do</strong> (para valores superiores<br />
ao <strong>do</strong> percentil 75). Contu<strong>do</strong>, só são apresenta<strong>do</strong>s os resul-<br />
<strong>Revista</strong> Portuguesa <strong>de</strong> Ciências <strong>do</strong> <strong>Desporto</strong>, 2004, vol. 4, nº 2 (suplemento) [15–102] 65