28.08.2013 Views

35754-Revista FCDEF - Faculdade de Desporto da Universidade do ...

35754-Revista FCDEF - Faculdade de Desporto da Universidade do ...

35754-Revista FCDEF - Faculdade de Desporto da Universidade do ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

16<br />

ORADORES CONVIDADOS<br />

Assim a educação, no seguimento <strong>do</strong>s movimentos que conduziram<br />

à sua obrigatorie<strong>da</strong><strong>de</strong> e universali<strong>da</strong><strong>de</strong>, não é já só para<br />

alunos com condições <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência encontra<strong>da</strong>s numa lógica<br />

médico-psicológica, mas para alunos com qualquer necessi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

especial, conceito que engloba, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o relatório <strong>de</strong> Warnock,<br />

to<strong>do</strong>s os tipos e graus <strong>de</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s que se verificam em<br />

seguir o currículo escolar.<br />

Em síntese, a questão coloca-se na forma como a escola interage<br />

com a diferença. Na escola tradicional, a diferença é proscrita<br />

e remeti<strong>da</strong> para as “escolas especiais”. A escola integrativa<br />

procura respon<strong>de</strong>r à diferença <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que ela seja legitima<strong>da</strong> por<br />

um parecer médico-psicológico, ou seja, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que essa diferença<br />

seja uma <strong>de</strong>ficiência. A escola inclusiva procura respon<strong>de</strong>r,<br />

<strong>de</strong> forma apropria<strong>da</strong> e com alta quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, não só à <strong>de</strong>ficiência<br />

mas a to<strong>da</strong>s as formas <strong>de</strong> diferença <strong>do</strong>s alunos (culturais,<br />

étnicas, etc.). Desta forma, a educação inclusiva recusa a<br />

segregação e preten<strong>de</strong> que a escola não seja só universal no<br />

acesso mas também no sucesso.<br />

2. A educação física perante a educação inclusiva<br />

A Educação Física (EF) como disciplina curricular não po<strong>de</strong><br />

ficar indiferente ou neutra face a este movimento <strong>de</strong> educação<br />

inclusiva. Fazen<strong>do</strong> parte integrante <strong>do</strong> currículo ofereci<strong>do</strong> pela<br />

escola, esta disciplina po<strong>de</strong>-se constituir como um adjuvante<br />

ou um obstáculo adicional a que a escola seja (ou se torne)<br />

mais inclusiva. O tema <strong>da</strong> educação inclusiva em EF tem si<strong>do</strong><br />

insuficientemente trata<strong>do</strong> no nosso país, talvez <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao facto<br />

<strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>rar que a EF não é essencial para o processo <strong>de</strong><br />

inclusão social ou escolar. Este assunto, quan<strong>do</strong> é abor<strong>da</strong><strong>do</strong>, é<br />

consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> face a um conjunto <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias feitas e <strong>de</strong> lugares<br />

comuns que não correspon<strong>de</strong>m aos ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iros problemas senti<strong>do</strong>s.<br />

É como se houvesse uma dimensão <strong>de</strong> aparências e uma<br />

dimensão <strong>de</strong> constatações.<br />

2.1. As aparências<br />

Existem várias razões pelas quais a EF tem possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

ser um adjuvante para a construção <strong>da</strong> educação inclusiva.<br />

Em primeiro lugar em EF os conteú<strong>do</strong>s ministra<strong>do</strong>s apresentam<br />

um grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminação e rigi<strong>de</strong>z menor <strong>do</strong> que outras<br />

disciplinas. O professor <strong>de</strong> EF dispõe <strong>de</strong> uma maior liber<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

para organizar os conteú<strong>do</strong>s que preten<strong>de</strong> que os alunos vivenciem<br />

ou apren<strong>da</strong>m nas suas aulas. Este menor <strong>de</strong>terminismo<br />

conteudístico é comummente julga<strong>do</strong> como positivo face a alunos<br />

que têm dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> em correspon<strong>de</strong>r a solicitações muito<br />

estritas e <strong>da</strong>s quais os professores têm dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> em abdicar,<br />

<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a eles próprios se sentirem constrangi<strong>do</strong>s pelos ditames<br />

<strong>do</strong>s programas. Assim, aparentemente, a EF seria uma área<br />

curricular mais facilmente inclusiva <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à flexibili<strong>da</strong><strong>de</strong> inerente<br />

aos seus conteú<strong>do</strong>s, o que conduziria a uma maior facili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> diferenciação curricular.<br />

Em segun<strong>do</strong> lugar, os professores <strong>de</strong> EF são vistos como profissionais<br />

que <strong>de</strong>senvolvem atitu<strong>de</strong>s mais positivas face aos alunos<br />

que os restantes professores. Talvez <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> aos aspectos<br />

fortemente expressivos <strong>da</strong> disciplina, os professores são conota<strong>do</strong>s<br />

com profissionais com atitu<strong>de</strong>s mais favoráveis à inclusão<br />

e que, consequentemente, levantam menos problemas e encontram<br />

soluções mais facilmente para casos difíceis. Esta imagem<br />

positiva e dinâmica <strong>do</strong>s professores <strong>de</strong> EF é um elemento<br />

importante <strong>da</strong> sua i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> profissional, sen<strong>do</strong> por isso frequentemente<br />

solicita<strong>do</strong>s para participar em projectos <strong>de</strong> inovação<br />

na escola.<br />

<strong>Revista</strong> Portuguesa <strong>de</strong> Ciências <strong>do</strong> <strong>Desporto</strong>, 2004, vol. 4, nº 2 (suplemento) [15–102]<br />

Em terceiro lugar a EF é julga<strong>da</strong> uma área importante <strong>de</strong> inclusão,<br />

<strong>da</strong><strong>do</strong> que permite uma ampla participação mesmo <strong>de</strong> alunos<br />

que evi<strong>de</strong>nciam dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Este facto po<strong>de</strong> ser ilustra<strong>do</strong><br />

com a omnipresença <strong>da</strong> EF em planos curriculares parciais elabora<strong>do</strong>s<br />

para alunos com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s especiais. Ain<strong>da</strong> que<br />

conscientes <strong>da</strong>s diferentes aptidões específicas <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> um,<br />

enten<strong>de</strong>-se que a EF é capaz <strong>de</strong> suscitar uma participação e um<br />

grau <strong>de</strong> satisfação eleva<strong>do</strong> <strong>de</strong> alunos com níveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho<br />

muito diferentes.<br />

2.2. As constatações<br />

As constatações sobre a efectiva contribuição <strong>da</strong> EF para a<br />

inclusão <strong>de</strong> alunos com dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s é, no entanto, e quan<strong>do</strong><br />

analisa<strong>da</strong> com mais <strong>de</strong>talhe, mais problemática. Também por<br />

várias razões. Antes <strong>de</strong> mais, no que respeita às atitu<strong>de</strong>s mais<br />

ou menos positivas <strong>do</strong>s professores <strong>de</strong> Educação Física (PEF)<br />

face à inclusão <strong>de</strong> alunos com dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s, não encontramos a<br />

homogenei<strong>da</strong><strong>de</strong> que as aparências sugerem. Os estu<strong>do</strong>s feitos<br />

sobre esta matéria indiciam importantes diferenças nestas atitu<strong>de</strong>s,<br />

que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> vários factores entre os quais realçaríamos<br />

os seguintes: o género <strong>do</strong> professor (as mulheres evi<strong>de</strong>nciaram<br />

atitu<strong>de</strong>s mais positivas que os homens), a experiência<br />

anterior (os professores com mais experiência <strong>de</strong>monstraram<br />

atitu<strong>de</strong>s mais positivas) (Jansma e Schultz, 1982), o<br />

conhecimento <strong>da</strong> <strong>de</strong>ficiência <strong>do</strong> aluno (os professores que<br />

conheciam melhor a <strong>de</strong>ficiência evi<strong>de</strong>nciavam atitu<strong>de</strong>s mais<br />

positivas) (Marston & Leslie, 1983). Estas atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m<br />

<strong>do</strong> tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência que o aluno apresenta (suscitan<strong>do</strong> os alunos<br />

com <strong>de</strong>ficiências físicas atitu<strong>de</strong>s menos positivas) (Aloia et<br />

al., 1980) e <strong>de</strong> qual o nível <strong>de</strong> ensino em que o aluno com dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

se encontra (encontran<strong>do</strong>-se atitu<strong>de</strong>s mais positivas<br />

face a alunos que frequentam níveis mais básicos <strong>de</strong> escolari<strong>da</strong><strong>de</strong>)<br />

(Rizzo, 1984). Por último as atitu<strong>de</strong>s positivas sobre a<br />

inclusão <strong>do</strong>s PEF, encontram-se positivamente correlaciona<strong>da</strong>s<br />

com o número <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> ensino a alunos com <strong>de</strong>ficiência e,<br />

curiosamente, negativamente relaciona<strong>da</strong>s com o número <strong>de</strong><br />

anos <strong>de</strong> ensino, sugerin<strong>do</strong> que, para a construção <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s<br />

positivas, é mais importante uma experiência específica <strong>do</strong> que<br />

um simples acumular <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> serviço (Rizzo e Vispoel,<br />

1991).<br />

Verificamos, assim, que as atitu<strong>de</strong>s mais ou menos positivas<br />

não po<strong>de</strong>m ser relaciona<strong>da</strong>s com a disciplina <strong>de</strong> EF, mas sim<br />

com diversos tipos <strong>de</strong> variáveis que é necessário levar em<br />

conta.<br />

Em segun<strong>do</strong> lugar, os aspectos <strong>da</strong> formação <strong>do</strong>s professores <strong>de</strong> EF<br />

em Necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s Educativas Especiais <strong>de</strong>ixam, em Portugal, muito a<br />

<strong>de</strong>sejar.<br />

Enviámos recentemente a to<strong>da</strong>s as instituições <strong>de</strong> formação <strong>de</strong><br />

professores <strong>de</strong> EF priva<strong>da</strong>s e públicas em Portugal, um questionário<br />

(integra<strong>do</strong> nas activi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>do</strong> programa europeu Re<strong>de</strong><br />

Temática <strong>de</strong> Activi<strong>da</strong><strong>de</strong> Física A<strong>da</strong>pta<strong>da</strong> (THENAPA -<br />

“Thematic Network in A<strong>da</strong>pted Physical Activity”). O objectivo<br />

<strong>de</strong>ste questionário é o <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar quem é responsável pela<br />

formação em NEE em cursos <strong>de</strong> EF, caracterização <strong>da</strong>s disciplinas<br />

ministra<strong>da</strong>s e <strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>de</strong> opinião sobre aspectos positivos e<br />

menos positivos <strong>de</strong>sta formação.<br />

Recebemos seis respostas <strong>de</strong> escolas <strong>de</strong> formação juntamente<br />

com os programas que eram lecciona<strong>do</strong>s.<br />

Sem prejuízo <strong>de</strong> um tratamento mais especializa<strong>do</strong> e aprofun<strong>da</strong><strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s recebi<strong>do</strong>s que ficará para um artigo a publicar<br />

futuramente, po<strong>de</strong>mos chegar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já a algumas pistas <strong>de</strong>scritivas:

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!