35754-Revista FCDEF - Faculdade de Desporto da Universidade do ...

desejado e o manifesto, possibilitado pelo feedback negativo.
Sendo assim, tanto a teoria de esquema como a abordagem da
interferência contextual caracterizam-se como modelos de equilíbrio,
os quais são incapazes de explicar a aquisição de habilidades
motoras além da estabilização, isto é, a aprendizagem
motora como um processo contínuo em direção a estados crescentemente
complexos de organização (Tani, 1982, 1995).
Diante disso, nos últimos anos, o efeito da prática variada na
aquisição de habilidades motoras vem sendo investigado sob
um novo modelo teórico conhecido como de não-equilíbrio
(Choshi & Tani, 1983; Tani, 1982). Esse modelo caracteriza o
processo de aprendizagem motora como um ciclo contínuo de
instabilidade-estabilidade-instabilidade em direção a complexidade
crescente, que se desenvolve mediante dois processos:
estabilização e adaptação. O processo de estabilização diz respeito
à padronização espacial e temporal do movimento, ao
passo que o processo de adaptação refere-se à modificação e à
reorganização das habilidades já adquiridas em novas habilidades.
Dessa forma, os fatores que afetam a aquisição de habilidades
motoras necessitam ser reestudados à luz dessa nova
visão de aprendizagem motora.
Dentro dessa perspectiva, os estudos sobre a estrutura da prática
têm focalizado os efeitos das práticas constante, aleatória,
contante-aleatória e aleatória-constante no processo de aquisição
de habilidades motoras (Corrêa, 2001; Corrêa, Benda &
Tani, 2001; Corrêa, Benda, Meira Júnior & Tani, 2003), e os
seus achados têm apontado para a superioridade da prática
constante e constante-aleatória em relação às demais. Em
outras palavras, as evidências apontam para a necessidade da
prática constante anteriormente à prática aleatória no processo
de aquisição de habilidades motoras. Esses resultados são contrários
às proposições da teoria de esquema (Schmidt, 1975) e
da abordagem de interferência contextual (Battig, 1979), necessitando,
portanto, de outras explicações.
Summers (1989) e Lai, Shea, Wulf & Wright (2000) têm feito
algumas sugestões sobre a necessidade da prática constante
anteriormente a prática variada no processo de aquisição de
habilidades motoras. Especificamente, esses autores têm sugerido
que a prática constante possibilitaria a formação do programa
motor generalizado e que a prática aleatória facilitaria a
aprendizagem dos parâmetros. Entretanto, esses tipos de prática
foram propostos dentro de um modelo de equilíbrio, focalizando
a aquisição de habilidades apenas como um processo de
estabilização.
No que se refere ao processo adaptativo, a superioridade da prática
constante seguida de variada tem sido atribuída ao fato da
prática constante facilitar a formação de padrão - uma estrutura
a partir da interação entre os componentes da habilidade - e a
prática variada possibilitar a diversificação desse padrão mediante
a variação nos componentes. Como resultado, o padrão ou
programa de ação adquire uma estrutura hierarquicamente
organizada em dois níveis: uma macroestrutura, orientada à
ordem e responsável pela consistência da habilidade e uma
microestrutura, orientada à desordem e responsável pela sua flexibilidade
(Tani, 1982, 1995; Manoel & Connolly, 1995, 1997).
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gotani@usp.br
COMO PERSPECTIVAR A APRENDIZAGEM MOTORA?
GRUPOS DE INTERESSE
Barreiros, João
Faculdade de Motricidade Humana, Universidade Técnica de Lisboa,
Portugal.
A aprendizagem de movimentos emergiu como área disciplinar
Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 2004, vol. 4, nº 2 (suplemento) [15–102] 71