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35754-Revista FCDEF - Faculdade de Desporto da Universidade do ...

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vação <strong>do</strong> exercício, auto-estima, ansie<strong>da</strong><strong>de</strong> e reactivi<strong>da</strong><strong>de</strong> ao<br />

stresse, <strong>de</strong>pressão não-clínica, e a relação entre o exercício e a<br />

quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sono. Importa <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já <strong>de</strong>stacar o facto <strong>de</strong> que a<br />

satisfação corporal é um aspecto que ten<strong>de</strong> a ser negligencia<strong>do</strong><br />

pelos estudiosos neste <strong>do</strong>mínio <strong>da</strong> investigação científica. Cash<br />

(2004, p.1) recor<strong>da</strong>-nos que já Platão afirmou que “we are<br />

bound to our bodies like a oyster is to its shell.” A prática contemporânea<br />

<strong>da</strong> psicologia, maioritariamente, alicerça-se na filosofia<br />

<strong>de</strong> Platão, porém a escassez <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s sobre o impacto<br />

que a percepção <strong>do</strong> corpo tem no bem-estar psicológico <strong>da</strong>s<br />

pessoas sugere que este é ignora<strong>do</strong> pela psicologia, em virtu<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> manter uma tradição marca<strong>da</strong>mente dualista.<br />

O exercício como meio para a promoção <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> é um princípio<br />

aceite e, <strong>de</strong> algum tempo a esta parte, integra a noção <strong>de</strong><br />

que o bem-estar psicológico está associa<strong>do</strong> aos índices <strong>de</strong> participação<br />

em activi<strong>da</strong><strong>de</strong>s físicas por parte <strong>do</strong>s indivíduos (Biddle<br />

& Mutrie, 2001).<br />

De entre as variáveis utiliza<strong>da</strong>s para avaliar o bem-estar psicológico,<br />

a auto-estima parece ser aquela que maior consenso<br />

reúne (Sonstroem, 1984, 1997; Fox, 2000). Biddle e Mutrie<br />

(2001, p. 184) afirmam que esta é a variável mais importante<br />

para avaliarmos o bem-estar. Na opinião <strong>de</strong> Lucas, Diener e<br />

Suh (1996) a auto-estima está fortemente associa<strong>da</strong> ao bemestar<br />

psicológico.<br />

A felici<strong>da</strong><strong>de</strong> tem si<strong>do</strong> uma preocupação constante, ao longo <strong>do</strong>s<br />

tempos. Novo (2003, pp. 33-34), fazen<strong>do</strong> referência ao trabalho<br />

<strong>de</strong> W. Wilson realçou que o bem-estar assenta em <strong>do</strong>is<br />

pressupostos:<br />

1. A pronta satisfação <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s gera felici<strong>da</strong><strong>de</strong>, ao<br />

passo que necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s persistentes, não satisfeitas, geram<br />

infelici<strong>da</strong><strong>de</strong>;<br />

2. O grau <strong>de</strong> realização <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, requeri<strong>do</strong> para produzir<br />

satisfação, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>do</strong> nível <strong>de</strong> a<strong>da</strong>ptação <strong>da</strong>s aspirações, as<br />

quais são influencia<strong>da</strong>s pela experiência passa<strong>da</strong>, pela comparação<br />

com os outros, pelos valores pessoais e por outros factores.<br />

Ain<strong>da</strong> <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a <strong>de</strong>scrição que Novo (2003, p. 34) faz,<br />

os indivíduos felizes são tipicamente jovens, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente<br />

<strong>do</strong> sexo, educa<strong>do</strong>s, com empregos on<strong>de</strong> auferem bons rendimentos,<br />

são extroverti<strong>do</strong>s, apresentam-se optimistas, são religiosos,<br />

casa<strong>do</strong>s, com eleva<strong>da</strong> auto-estima e apresentam-se<br />

entusiasma<strong>do</strong>s com o trabalho que <strong>de</strong>senvolvem, têm aspirações<br />

mo<strong>de</strong>stas e com níveis <strong>de</strong> inteligência varia<strong>do</strong>s.<br />

O bem-estar psicológico po<strong>de</strong> ser entendi<strong>do</strong> em pelo menos<br />

duas dimensões: a cognitiva (satisfação) e a afectiva (felici<strong>da</strong><strong>de</strong>).<br />

A produção científica leva<strong>da</strong> a cabo neste <strong>do</strong>mínio tem<br />

negligencia<strong>do</strong> muitos aspectos, nomea<strong>da</strong>mente os que se centram<br />

nas diferentes dimensões que o corpo assume na socie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

actual. Por outras palavras, as várias disciplinas <strong>da</strong> psicologia,<br />

incluin<strong>do</strong> a <strong>do</strong> <strong>de</strong>sporto, têm-se manti<strong>do</strong> fiéis a uma tradição<br />

mentalista. No presente estu<strong>do</strong>, partimos <strong>do</strong> pressuposto<br />

que a mente por si só na<strong>da</strong> cria e que não é possível enten<strong>de</strong>r<br />

os processos mentais sem que estes estejam intimamente associa<strong>do</strong>s<br />

à corporali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong>s sujeitos estu<strong>da</strong><strong>do</strong>s.<br />

Diariamente, to<strong>do</strong>s nós somos “bombar<strong>de</strong>a<strong>do</strong>s” com a promoção<br />

<strong>de</strong> um i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> corpo. De uma forma muito particular, a<br />

promoção <strong>de</strong>ssa imagem i<strong>de</strong>aliza<strong>da</strong> <strong>do</strong> corpo tem si<strong>do</strong> mais<br />

direcciona<strong>da</strong> para o sexo feminino. Durkin e Paxton (2002, p.<br />

995) afirmaram “The propagation of thin i<strong>de</strong>alized female images<br />

in media has been proposed to contribute to wi<strong>de</strong>spread<br />

body image and weight concerns in women in western society.”<br />

Para alguns, problemas alimentares como a anorexia e a bulimia<br />

estão associa<strong>do</strong>s a este tipo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>alização.<br />

GRUPOS DE INTERESSE<br />

Porém, um estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> meta-análise realiza<strong>do</strong> por Groesz, Levine<br />

e Murnen (1994) evi<strong>de</strong>nciou que essa relação não é tão acentua<strong>da</strong><br />

quanto po<strong>de</strong>rá parecer à primeira vista, uma vez que<br />

existem outras variáveis media<strong>do</strong>ras a serem toma<strong>da</strong>s em consi<strong>de</strong>ração.<br />

De entre elas, gostaríamos <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar as que se<br />

associam ao corpo e à herança sócio-cultural, que condicionam<br />

e <strong>de</strong>terminam o comportamento <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s nós: a primeira refere-se<br />

à satisfação corporal e a segun<strong>da</strong> à prática religiosa, como<br />

expressão <strong>da</strong> espirituali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong>s indivíduos.<br />

Um estu<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> por Durkin e Paxton (2002) procurou<br />

saber como é que a televisão e as revistas populares para a<strong>do</strong>lescentes<br />

influenciavam os jovens ao nível <strong>da</strong> sua satisfação<br />

corporal, <strong>de</strong>pressão, ansie<strong>da</strong><strong>de</strong> e “zanga”, após serem sujeitos<br />

ao visionamento <strong>de</strong> imagens promotoras <strong>de</strong> beleza i<strong>de</strong>al. Para o<br />

efeito, foram estu<strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>do</strong>is grupos <strong>de</strong> jovens: um entre os 12<br />

e os 14 e o outro grupo entre os 15 e os 17 anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>. Um<br />

grupo foi exposto a um conjunto <strong>de</strong> imagens que promoviam o<br />

corpo i<strong>de</strong>aliza<strong>do</strong> <strong>da</strong> mulher, enquanto o outro serviu <strong>de</strong> grupo<br />

<strong>de</strong> controlo. Os resulta<strong>do</strong>s evi<strong>de</strong>nciaram, tal como previsto,<br />

que após a exposição às imagens <strong>de</strong> “corpos i<strong>de</strong>ais”, as a<strong>do</strong>lescentes<br />

apresentaram índices <strong>de</strong> satisfação corporal mais baixos,<br />

sen<strong>do</strong> esta diferença mais acentua<strong>da</strong> no grupo mais velho.<br />

Também foram os mais velhos que apresentaram maiores<br />

níveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão. Estes resulta<strong>do</strong>s sugerem que a exposição<br />

<strong>do</strong>s jovens a imagens que promovem um corpo i<strong>de</strong>aliza<strong>do</strong> tem<br />

repercussões no seu bem-estar, em especial nos que estão na<br />

fase média <strong>da</strong> a<strong>do</strong>lescência. Os autores sugerem que combater<br />

a internalização <strong>do</strong>s padrões i<strong>de</strong>aliza<strong>do</strong>s é uma forma <strong>de</strong> promover<br />

o bem-estar psicológico <strong>do</strong>s jovens.<br />

Um estu<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> por Tiggemann e Williamson (2000), com<br />

252 indivíduos com i<strong>da</strong><strong>de</strong>s compreendi<strong>da</strong>s entre os 16 e os 60<br />

anos, <strong>de</strong>monstrou uma relação negativa entre o exercício físico,<br />

satisfação corporal e auto-estima. Estes resulta<strong>do</strong>s contrariam<br />

o que vem na literatura, <strong>da</strong>í a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se controlar as<br />

razões que levam as pessoas a a<strong>de</strong>rir à activi<strong>da</strong><strong>de</strong> física. Assim,<br />

aqueles que se envolveram por razões <strong>de</strong> per<strong>da</strong> <strong>de</strong> peso ou para<br />

melhorarem a sua disposição afectiva foram aquelas que não<br />

encontraram melhorias. Os que a<strong>de</strong>riram por uma questão <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> e condição física encontraram melhorias tanto ao nível<br />

<strong>da</strong> satisfação corporal como <strong>da</strong> auto-estima.<br />

Steptoe e Butler (1996), num estu<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> com 2 223 rapazes<br />

e 2 838 raparigas, concluíram que a activi<strong>da</strong><strong>de</strong> física, se for<br />

<strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente planea<strong>da</strong> e implementa<strong>da</strong> para ter impacto nos<br />

ritmos metabólicos (níveis mo<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s a vigorosos), tem um<br />

efeito positivo no bem-estar emocional <strong>do</strong>s jovens.<br />

Satisfação corporal/Imagem corporal<br />

Para os efeitos <strong>do</strong> presente estu<strong>do</strong> assumimos a satisfação corporal<br />

como a quantificação <strong>da</strong> percepção positiva <strong>da</strong> imagem<br />

corporal que os indivíduos constroem ao longo <strong>da</strong>s suas vivências<br />

pessoais e <strong>da</strong> interacção que mantêm com o meio envolvente.<br />

Cruz (1998) <strong>de</strong>screveu a imagem corporal como um conceito<br />

dinâmico, na medi<strong>da</strong> em que é uma representação mental ou<br />

uma constelação <strong>de</strong> representações <strong>do</strong> próprio corpo, mutáveis<br />

em virtu<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e <strong>da</strong>s transformações que o<br />

corpo vai sofren<strong>do</strong> ao longo <strong>do</strong> ciclo <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>. Esta i<strong>de</strong>ia foi corrobora<strong>da</strong><br />

por Lopez e Fuertes (1999) que acrescentaram, ain<strong>da</strong>,<br />

as atitu<strong>de</strong>s e os sentimentos que o corpo <strong>de</strong>spertou e que<br />

foram resultantes <strong>de</strong> experiências sensoriais e <strong>da</strong>s relações que<br />

o indivíduo manteve com o meio envolvente.<br />

Duke-Duncan (1991) <strong>de</strong>finiu imagem corporal como a auto-<br />

<strong>Revista</strong> Portuguesa <strong>de</strong> Ciências <strong>do</strong> <strong>Desporto</strong>, 2004, vol. 4, nº 2 (suplemento) [15–102] 45

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