35754-Revista FCDEF - Faculdade de Desporto da Universidade do ...
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A localização, or<strong>de</strong>m e duração <strong>da</strong>s fixações reflectem a estratégia<br />
preceptiva usa<strong>da</strong> para extrair informações <strong>do</strong> envolvimento.<br />
De acor<strong>do</strong> com Neisser (1967, cit por Tenenbaum, 2003) duas<br />
estratégias <strong>de</strong> captação <strong>de</strong> informação po<strong>de</strong>m ser usa<strong>da</strong>s:<br />
1) Estratégia <strong>de</strong> controlo <strong>do</strong> alvo;<br />
2) Estratégia <strong>de</strong> controlo <strong>de</strong> envolvimento.<br />
A primeira consiste em procurar a informação pertinente no<br />
envolvimento até a encontrar, sen<strong>do</strong> esta compatível com a<br />
representação que o atleta possui em memória (longo termo).<br />
A segun<strong>da</strong> consiste na procura visual, <strong>de</strong> entre as numerosas<br />
informações disponíveis no contexto, <strong>de</strong> aquelas que po<strong>de</strong>rão<br />
correspon<strong>de</strong>r às necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>do</strong> momento e por isso é feita<br />
sob controlo <strong>da</strong>s representações em memória. Assim, na primeira,<br />
o atleta procura uma informação específica no meio<br />
envolvente, enquanto na segun<strong>da</strong> organiza a informação <strong>do</strong><br />
envolvimento em blocos significativos, para po<strong>de</strong>r retirar aquela<br />
<strong>de</strong> que necessita no momento. O atleta expert presta atenção<br />
a to<strong>do</strong> o tipo <strong>de</strong> informação que possa estar relaciona<strong>da</strong> com a<br />
resposta a <strong>da</strong>r, adquirin<strong>do</strong> esta capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> através <strong>da</strong> aprendizagem<br />
quer implícita quer explicita, durante a prática.<br />
Com a prática e à medi<strong>da</strong> que o número <strong>de</strong> representações e a<br />
lógica <strong>da</strong> sua relação aumenta, numa situação <strong>de</strong> envolvimento<br />
dinâmico o atleta mu<strong>da</strong> <strong>de</strong> controlo <strong>de</strong> alvo para o controlo <strong>do</strong><br />
contexto, <strong>de</strong> tal forma que: (a) reduz a carga <strong>de</strong> processamento<br />
<strong>de</strong> informação (complexi<strong>da</strong><strong>de</strong>); (b) aumenta e eficiência <strong>da</strong> procura<br />
visual; e (c) facilita o tratamento <strong>da</strong> memória <strong>de</strong> longo<br />
termo na selecção <strong>de</strong> resposta (Tenenbaum, 2003).<br />
A utilização <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>stas estratégias varia ao longo <strong>do</strong> processo<br />
<strong>de</strong> aprendizagem motora, utilizan<strong>do</strong> os experts preferencialmente<br />
uma estratégia basea<strong>da</strong> no controlo <strong>de</strong> contexto,<br />
nomea<strong>da</strong>mente, em <strong>de</strong>sportos regula<strong>do</strong>s externamente, como é<br />
por exemplo a vela (ver Rocha e Araújo, in press).<br />
O padrão <strong>da</strong> sequência na captação <strong>da</strong> informação em <strong>de</strong>sportos<br />
<strong>de</strong> raquete (ténis, squash, badminton) <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong> sequência<br />
<strong>do</strong> processo, começan<strong>do</strong> pelas gran<strong>de</strong>s características para terminar<br />
na raquete. Ripoll (1988, cit. por Tenenbaum, 2003)<br />
refere que os atletas experts se diferenciam <strong>do</strong>s principiantes<br />
pelo facto <strong>do</strong>s primeiros realizarem aquilo que se po<strong>de</strong> chamar<br />
“análise sintética”, isto é, dirigirem o olhar para um local no<br />
qual vários eventos possam ser percebi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> forma integra<strong>da</strong>,<br />
durante uma única fixação. Os segun<strong>do</strong>s, ao contrário, utilizam<br />
uma sequência <strong>de</strong> olhar <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a or<strong>de</strong>m cronológica<br />
<strong>do</strong>s eventos (avaliação analítica). À luz <strong>do</strong> funcionamento <strong>do</strong><br />
sistema nervoso central, diríamos que o expert funciona com o<br />
hemisfério direito (síntese) e o principiante com o hemisfério<br />
esquer<strong>do</strong> (análise).<br />
A acumulação <strong>de</strong> conhecimento, tanto <strong>de</strong>clarativo como procedimental,<br />
está associa<strong>da</strong> com a mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> atenção visual <strong>do</strong><br />
controlo <strong>de</strong> alvo para o controlo <strong>do</strong> envolvimento<br />
(Tenenbaum, 2003).<br />
O processo <strong>de</strong> selecção <strong>do</strong>s experts opera ao nível <strong>da</strong>s representações<br />
simbólicas <strong>do</strong>s objectos, organiza<strong>da</strong>s <strong>de</strong> forma abstracta<br />
(Poplu e Baratgin, 2003; Tenenbaum, 2003). Os principiantes<br />
operam ao nível visual, organiza<strong>do</strong> espacialmente e não trata<strong>do</strong>,<br />
isto é, a informação é capta<strong>da</strong> sob a forma <strong>de</strong> natureza física tal<br />
qual se apresenta no meio envolvente, o que torna a procura<br />
ineficaz e limita a <strong>de</strong>dução <strong>da</strong> selecção <strong>da</strong> resposta a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>.<br />
O tratamento <strong>de</strong> informação, entre a percepção visual e a representação<br />
na memória <strong>de</strong> longo termo, leva o atleta a especular<br />
sobre os acontecimentos que se seguem antes <strong>de</strong> ocorrerem<br />
(antecipação). A estratégia visual <strong>de</strong> controlo <strong>de</strong> envolvimento<br />
permite ao atleta expert prestar atenção aos estímulos próximos<br />
GRUPOS DE INTERESSE<br />
e distantes (em termos temporais) o que facilita a antecipação<br />
<strong>do</strong>s acontecimentos seguintes. Estes resulta<strong>do</strong>s são soli<strong>da</strong>mente<br />
confirma<strong>do</strong>s pela literatura (Albernethy, 2002; Araújo e<br />
Serpa, 1999).<br />
No entanto, Albernethy (2002) refere que há que distinguir<br />
<strong>do</strong>is tipos <strong>de</strong> fontes <strong>de</strong> informação: (1) imediata e (2) retrospectiva.<br />
No primeiro a diferença entre experts e principiantes<br />
não é muito consistente, não ten<strong>do</strong> a investigação apresenta<strong>da</strong><br />
resulta<strong>do</strong>s consistentes sobre as vantagens <strong>do</strong>s experts. Já no<br />
segun<strong>do</strong> tipo <strong>de</strong> fontes, a investigação tem apresenta<strong>do</strong> resulta<strong>do</strong>s<br />
sóli<strong>do</strong>s que apontam para a vantagem <strong>do</strong>s experts sobre os<br />
principiantes, nomea<strong>da</strong>mente em acções com constrangimentos<br />
temporais, como é o caso <strong>da</strong> vela e <strong>do</strong>s <strong>de</strong>sportos colectivos,<br />
por exemplo.<br />
Para além <strong>de</strong> captarem <strong>de</strong> forma mais eficaz as informações<br />
pertinentes para a acção, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com Williams (2002) os<br />
experts são, também, mais precisos na predição <strong>do</strong> que vai ocorrer,<br />
ou seja, conseguem antecipar os acontecimentos <strong>de</strong> forma<br />
mais correcta.<br />
Um outro tipo <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s põe, igualmente, em evidência a vantagem<br />
<strong>do</strong>s experts na captação <strong>de</strong> informação em relação aos<br />
principiantes. Go<strong>de</strong>t e Simon (1996, cit in Williams, 2002) ao<br />
estu<strong>da</strong>rem o comportamento perceptivo, (recor<strong>da</strong>ção e i<strong>de</strong>ntificação<br />
<strong>de</strong> situações) <strong>de</strong> atletas face a situações “estrutura<strong>da</strong>s’”<br />
(sequências reais <strong>de</strong> jogo) e “não estrutura<strong>da</strong>s” (aquecimento)<br />
verificaram que os experts apresentavam resulta<strong>do</strong>s superiores<br />
nas duas situações, embora as diferenças fossem maiores nas<br />
situações “estrutura<strong>da</strong>s”.<br />
Estes resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong>rivam <strong>do</strong> facto <strong>do</strong>s atletas experts possuírem<br />
um conhecimento <strong>do</strong>s padrões <strong>do</strong> jogo superiores aos principiantes<br />
(Berry & Farrow, 1999), o que po<strong>de</strong> implicar um po<strong>de</strong>r<br />
<strong>de</strong> antecipação que os torna mais eficazes. A antecipação é ti<strong>da</strong><br />
com uma <strong>da</strong>s características mais diferencia<strong>do</strong>ras <strong>do</strong> comportamento<br />
<strong>do</strong>s experts relativamente ao não experts. Apesar <strong>de</strong> em<br />
algumas investigações não ter si<strong>do</strong> possível diferenciar experts<br />
<strong>de</strong> principiantes em termos <strong>de</strong> estratégias visuais (por ex.:<br />
Williams & Davids, 1998) é possível diferenciá-los nos comportamentos<br />
antecipativos. Este facto po<strong>de</strong> ser explica<strong>do</strong> pela<br />
aprendizagem implícita. Hagemann e Stantze (2003) concluem,<br />
num estu<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> com voleibolistas que a informação relevante<br />
para a antecipação é processa<strong>da</strong> inconscientemente e<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>do</strong> nível <strong>de</strong> mestria. A capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> extrair informações<br />
<strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> superior por fixação e <strong>de</strong> captar informações<br />
mais eficazmente, perifericamente, leva a que os atletas experts<br />
sejam melhores a antecipar as suas acções.<br />
A investigação feita em diversos <strong>de</strong>sportos, utilizan<strong>do</strong> técnicas<br />
como por exemplo a oclusão, tem <strong>de</strong>monstra<strong>do</strong> que os atletas<br />
experts prevêem com mais eficácia o <strong>de</strong>correr <strong>da</strong> acção, acentuan<strong>do</strong>-se<br />
quan<strong>do</strong> a oclusão ocorre exactamente antes <strong>do</strong> ponto<br />
fulcral <strong>da</strong> acção (no caso <strong>do</strong> guar<strong>da</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> futebol, o pontapé<br />
na bola) (ver Williams e al., 1999). A informação, obti<strong>da</strong> centésimos<br />
<strong>de</strong> segun<strong>do</strong>s antes <strong>de</strong> a bola partir, é <strong>de</strong>terminante para<br />
iniciar a preparação <strong>da</strong> resposta, o que leva a uma redução <strong>de</strong><br />
tempo <strong>de</strong> reacção (Alves, 2003; Proteau e Girouard, 1987).<br />
Ward e Williams, (2003), ao analisarem o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong>s<br />
habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s perceptivas e cognitivas no futebol concluíram que<br />
a antecipação estava entre as características que melhor <strong>de</strong>scriminaram<br />
os diferentes níveis <strong>de</strong> habili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Concluem, ain<strong>da</strong>,<br />
que já na i<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong>s 9 anos os atletas (futebol) consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />
elite <strong>de</strong>monstram habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s perceptivas e cognitivas superiores<br />
aos colegas <strong>da</strong> mesma i<strong>da</strong><strong>de</strong>, mas com menos capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
para o futebol, sustentan<strong>do</strong> esta afirmação no facto <strong>de</strong> terem<br />
<strong>Revista</strong> Portuguesa <strong>de</strong> Ciências <strong>do</strong> <strong>Desporto</strong>, 2004, vol. 4, nº 2 (suplemento) [15–102] 39