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Anu-Pre e secao1 - Prefeitura Municipal de Belo Horizonte

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<strong>de</strong>struição do Arraial e construção da Nova Capital, chamou-se Minas. Em 1901 se lhe dá o nome que<br />

conserva até hoje.<br />

Se estes foram seus nomes oficiais foi chamada <strong>de</strong> muitos outros nomes: “cida<strong>de</strong> cartesiana”<br />

(João Camilo <strong>de</strong> Oliveira Torres); “cida<strong>de</strong> vergel” (Coelho Neto); “cida<strong>de</strong> cogumelo” (Pimentel Gomes), “miradouro<br />

do céu” (João do Rio); “cida<strong>de</strong> nacional”(G. Alves Pereira); “acrópole das rosas” (Carlos Fernan<strong>de</strong>s<br />

Dias); “capital da inteligência” (Anor Maciel); “cida<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo” (Beno Toledo); “cida<strong>de</strong> do amor” (Maria<br />

Tereza Senise); “cida<strong>de</strong> do barulho” (Franklin Sales); “uma das cida<strong>de</strong>s mais horrendas do mundo” (Flávio<br />

Macedo Soares) ... (GRAVATÁ, 1982).<br />

Estes vários nomes, estas várias cida<strong>de</strong>s que se quis ver aqui, no <strong>de</strong>sencontrado <strong>de</strong> seus termos,<br />

são a melhor tradução da cida<strong>de</strong> – <strong>de</strong> qualquer cida<strong>de</strong>: a diversida<strong>de</strong>, a inumerável coleção <strong>de</strong> aspectos,<br />

fisionomias, volumes, texturas, sentimentos, que preenchem a cida<strong>de</strong> tanto com o material impalpável dos<br />

sonhos quanto com o mais ordinário dos <strong>de</strong>jetos.<br />

Toda cida<strong>de</strong> é múltipla, é transformação permanente. A singularida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong> é que<br />

sua história, todas as suas nuances e miragens, estão documentadas, po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>scritas e entendidas.<br />

Neste sentido se tem razão Giulio Carlo Argan quando diz que a história da arte é também história da cida<strong>de</strong>,<br />

razão também terá quem disser, que a história da cida<strong>de</strong> é história total: história no amplo sentido <strong>de</strong> Mac<br />

Bloch o estudo dos homens no tempo - o estudo da cida<strong>de</strong> como a eleição <strong>de</strong> tudo quanto ela foi, é, pensou<br />

ser; <strong>de</strong> suas classes sociais e <strong>de</strong> seus conflitos.<br />

Nascida com a República, com o cinematógrafo e o automóvel, com as vanguardas e com a<br />

revolução científica e tecnológica, <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong> inscreveu, à sua maneira em seu corpo, em sua história,<br />

todas as gran<strong>de</strong>s questões <strong>de</strong>ste século que se encerra. Evocar a cida<strong>de</strong> é, neste sentido, evocar também um<br />

pouco o nosso tempo, é buscar enten<strong>de</strong>r uma época que parece dar razão a Carlos Drummond <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> –<br />

Toda história é remorso.<br />

28<br />

1. Invenção Política (1897 – 1914)<br />

O que vai se sustentar aqui é que <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong> é inicialmente, uma invenção política. Isto é,<br />

que a sua criação, que a sua escolha como capital do estado, são episódios da história política, tem<br />

motivação sobretudo na política, é explicitação da vitória <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada corrente política.<br />

A mudança da capital <strong>de</strong> Minas Gerais foi vista como ato simbólico, <strong>de</strong>marcador da superação<br />

da condição colonial pelos Inconfi<strong>de</strong>ntes. Depois, no período provincial, mais <strong>de</strong> uma vez, cogitou-se da<br />

mudança que ganhou forma <strong>de</strong> lei, em 1867, com a aprovação do projeto do Padre Agostinho Francisco<br />

Paraíso, vetado pelo <strong>Pre</strong>si<strong>de</strong>nte da Província – José da Costa Machado <strong>de</strong> Souza Ribeiro.<br />

No contexto das repercussões da implantação da República, a questão volta a ser <strong>de</strong>batida<br />

resultando na lei adicional nº 3 à constituição mineira, <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1893, que manda transferir a<br />

capital para uma nova cida<strong>de</strong>, que seria construída no planalto <strong>de</strong>nominado <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>. Deste modo,<br />

rigorosamente, a história <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>, capital do estado <strong>de</strong> Minas Gerais, sem risco <strong>de</strong> anacronismo,<br />

<strong>de</strong>ve ser datada, como tendo início em 1893. De 1893 até 1914, ano <strong>de</strong> encerramento das ativida<strong>de</strong>s da<br />

Comissão <strong>de</strong> Melhoramentos Municipais, criada pela lei nº 546 <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1910, e por outros<br />

episódios igualmente significativos – a privatização dos serviços <strong>de</strong> energia elétrica e transportes urbanos –<br />

tem-se o período que vai ser consi<strong>de</strong>rado aqui como o da invenção política <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>.<br />

1.1. Mudar para não transformar<br />

Trata-se aqui <strong>de</strong> lembrar processo clássico, que foi exemplarmente <strong>de</strong>scrito no romance Il<br />

Gattopardo, <strong>de</strong> Lampesusa, e que po<strong>de</strong>ria ser chamado <strong>de</strong> estratégia <strong>de</strong> Salina – o procedimento em questão<br />

foi exposto pelo Príncipe <strong>de</strong> Salina, personagem central do romance, quando diz – se queremos que tudo<br />

continue como está, é preciso que tudo mu<strong>de</strong>.<br />

E mudar aqui significa fazer da República, que se estava criando, a <strong>de</strong>stinatária <strong>de</strong> todas as<br />

<strong>de</strong>mandas <strong>de</strong> três séculos <strong>de</strong> interdição <strong>de</strong> direitos sociais e precarieda<strong>de</strong> material. Daí que em seu projeto<br />

legitimador a República buscasse construir símbolos da nova or<strong>de</strong>m. Nesta operação i<strong>de</strong>ológica, a fundação<br />

da República teve na entronização <strong>de</strong> Tira<strong>de</strong>ntes como herói nacional seu momento central. Outros momentos<br />

<strong>de</strong>cisivos <strong>de</strong>sta imposição i<strong>de</strong>ológica foram os episódios antitéticos e complementares da <strong>de</strong>struição <strong>de</strong><br />

Canudos, em 5 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1897, e a inauguração da Nova Capital <strong>de</strong> Minas Gerais, em 12 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong><br />

1897. Nestes dois atos - a <strong>de</strong>struição do que parecia a última encarnação da resistência do atraso, do<br />

arcaísmo, representado por Antônio Conselheiro; e a construção da nova capital – a síntese dos novos<br />

tempos que a República queria simbolizar: a vitória do plano, da racionalida<strong>de</strong> instrumental, da técnica e da<br />

máquina – or<strong>de</strong>m e progresso.

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