Anu-Pre e secao1 - Prefeitura Municipal de Belo Horizonte
Anu-Pre e secao1 - Prefeitura Municipal de Belo Horizonte
Anu-Pre e secao1 - Prefeitura Municipal de Belo Horizonte
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
_____ Demografia<br />
Distribuição espacial da população<br />
________ Dispersão e <strong>de</strong>sconcentração espacial da população<br />
em Minas Gerais*<br />
Ralfo Matos **<br />
Características Demográficas e Socioeconômicas<br />
2.2<br />
Introdução<br />
Um tema importante nos estudos econômicos e geográficos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 1950, tem<br />
sido a transmissão espacial dos efeitos do crescimento econômico. Mais recentemente, a<br />
redistribuição espacial <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s e população tem motivado o surgimento <strong>de</strong> novos trabalhos<br />
interpretativos, a exemplo <strong>de</strong> Richardson (1980), Lo e Salih (1981), Katzman (1986),<br />
Redwood (1988), entre outros.<br />
Evidências <strong>de</strong> novos padrões <strong>de</strong> redistribuição da população no Brasil foram ressaltadas por<br />
Katzman (1986:221), quando sugeria, com base em dados dos anos 70, que o crescimento urbano ten<strong>de</strong>ria,<br />
predominantemente, a ocorrer em centros médios e/ou naquelas pequenas cida<strong>de</strong>s localizadas não muito<br />
longe <strong>de</strong> uma metrópole. De forma semelhante, Redwood (1985) concluíra ter havido <strong>de</strong>sconcentração nos<br />
principais centros metropolitanos do País, a favor <strong>de</strong> áreas circunvizinhas e cida<strong>de</strong>s médias (gran<strong>de</strong> crescimento<br />
na faixa das cida<strong>de</strong>s com população entre 100 e 500 mil habitantes). 1<br />
Outras evidências sobre a ocorrência <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconcentração no Su<strong>de</strong>ste foram assinaladas nos<br />
anos 70 por Martine e Diniz (1989), Redwood (1984) e Townroe e Keen (1984), não obstante as posições<br />
divergentes <strong>de</strong> Azzoni (1986), Haddad (1989) e Diniz (1993), no tocante à generalização <strong>de</strong> um processo<br />
<strong>de</strong>ssa natureza no Brasil.<br />
É bem verda<strong>de</strong> que do ponto <strong>de</strong> vista econômico e <strong>de</strong>mográfico ainda há aspectos que requerem<br />
melhor <strong>de</strong>finição, como o âmbito geográfico do processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconcentração. Contudo, é altamente<br />
provável que o país venha experimentando um momento inédito <strong>de</strong> <strong>de</strong>scompressão econômico-espacial, no<br />
qual a população constitui uma variável chave, não necessariamente <strong>de</strong>terminada pelos fatores que explicam<br />
os processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconcentração da indústria, por exemplo.<br />
Importantes mudanças na distribuição e redistribuição da população no espaço brasileiro estão<br />
ocorrendo na atualida<strong>de</strong>, sem se conhecer bem seu alcance, profundida<strong>de</strong> e características mais marcantes.<br />
Em relação aos trabalhos já publicados tratando <strong>de</strong>ssa temática, cabe apontar a limitação da<br />
maioria <strong>de</strong>les: a ausência <strong>de</strong> análises baseadas em fluxos migratórios. Se levarmos em conta que a migração<br />
po<strong>de</strong> ser entendida como mobilida<strong>de</strong> da força <strong>de</strong> trabalho, associada à criação, expansão e articulação dos<br />
mercados <strong>de</strong> trabalho, a escassez <strong>de</strong> estudos <strong>de</strong>ssa natureza é uma séria lacuna na literatura.<br />
Certamente, as pessoas também reagem às contingências impostas pelos custos crescentes<br />
<strong>de</strong>rivados da hiperaglomeração nos gran<strong>de</strong>s centros urbanos. Ao buscarem alternativas resi<strong>de</strong>nciais, <strong>de</strong>vem<br />
ter em conta uma série <strong>de</strong> aspectos, como os que envolvem a distribuição <strong>de</strong> emprego e oportunida<strong>de</strong>s,<br />
assim como os fatores não econômicos, mais diretamente relacionados à melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e/ou<br />
busca <strong>de</strong> amenida<strong>de</strong>s.<br />
De qualquer forma, o conjunto <strong>de</strong> causas que explicam a mudança <strong>de</strong> padrões <strong>de</strong> concentração<br />
espacial, ainda que suscetível <strong>de</strong> alguma controvérsia, certamente associa-se à generalização, nos gran<strong>de</strong>s<br />
centros urbanos, <strong>de</strong> variados tipos <strong>de</strong> <strong>de</strong>seconomias que se refletem: no aumento dos custos imobiliários<br />
para as empresas e população, no comprometimento dos níveis <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, na dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> se<br />
oferecer infra-estrutura e serviços eficientes, em meio ao recru<strong>de</strong>scimento da violência urbana.<br />
* Este trabalho utiliza-se <strong>de</strong> conteúdos da tese <strong>de</strong> doutorado <strong>de</strong> Matos (1995), acrescidos <strong>de</strong> outras evidências <strong>de</strong>rivadas <strong>de</strong> pesquisa apoiada pelo CNPq<br />
em que se trabalha com os dados do Censo <strong>de</strong> 1991.<br />
**<br />
Professor do Departamento <strong>de</strong> Geografia do IGC/UFMG, doutor em Demografia pelo CEDEPLAR/UFMG.<br />
1<br />
Evidências sobre o início <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconcentração espacial têm se tornado numerosas. Mesmo em Minas Gerais, histórico per<strong>de</strong>dor <strong>de</strong><br />
população, são claros os sinais <strong>de</strong> alteração dos padrões migratórios <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 70, conforme indicam os trabalhos <strong>de</strong> Nunes Coelho et. al, (1986)<br />
e (Matos, 1994), quando <strong>de</strong>tectavam trajetórias <strong>de</strong> migrantes em cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> porte médio, nas quais o número <strong>de</strong> pessoas vindas <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong><br />
revelou-se significativo.