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Anu-Pre e secao1 - Prefeitura Municipal de Belo Horizonte

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Se não há, <strong>de</strong> fato, lugar para transformações sociais, a República precisa <strong>de</strong> símbolos e<br />

marcos para legitimar-se. A mudança <strong>de</strong> capital <strong>de</strong> Minas Gerais foi um dos eventos centrais da instauração<br />

da i<strong>de</strong>ologia republicana entre nós, a construção da nova capital mineira, a espetacularização <strong>de</strong> seus<br />

propósitos. Nos Debates do Congresso Constituinte mineiro em 1891, sobre a mudança da capital aparece o<br />

principal das questões e interesses uma disputa no contexto da instauração republicana no Brasil. Eis uma<br />

súmula do processo e suas implicações. O tema da mudança contribuiu para reforçar toda numa lógica que já<br />

vimos esboçando ao longo do texto: há um confronto latente entre os setores progressistas que encarnavam<br />

um i<strong>de</strong>al republicano; os setores liberais que, representado um outro mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> república, pregavam a<br />

manutenção do “status quo”, no sentido <strong>de</strong> uma mo<strong>de</strong>rnização conservadora; e por fim, os setores conservadores,<br />

ainda arraigados a um i<strong>de</strong>al no monárquico, somente conformados com a situação implicava.<br />

“Mostraremos, ainda, através do discurso <strong>de</strong> interlocutores privilegiados, como esses dois<br />

primeiros grupos se conformaram, ao final, num projeto único, mo<strong>de</strong>rno no projeto<br />

arquitetônico da capital e conservador na composição política da cida<strong>de</strong>. No confronto <strong>de</strong><br />

interesses há uma nítida <strong>de</strong>rrota <strong>de</strong> projeto político dos primeiros republicanos, com a<br />

consequente cooptação <strong>de</strong> seus i<strong>de</strong>ais, por parte dos setores liberais, empenhados em resguardar<br />

sua parcela <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r”. (IGLÉSIAS et al., 1990, p. 212-213)<br />

Esta imbricação <strong>de</strong> interesses que permite a aprovação da emenda mudancista à Constituição<br />

está exemplarmente posta nas vicissitu<strong>de</strong>s das relações entre Afonso Pena, Aarão Reis e Crispim Jacques<br />

Bias Fortes.<br />

Afonso Pena, monarquista convicto, aceitou a República e moldou-a ao perfil da oligarquia<br />

liberal <strong>de</strong> que era representante importante. Diz Iglésias:<br />

“A direção imposta habilmente por Afonso Pena busca em todos os temas apresentar-se<br />

como conciliação <strong>de</strong> extremos, como construtora da República possível. Conciliação que, no<br />

entanto, sempre se dará no terreno da tradição”. (IGLÉSIAS et al., 1999, p. 193)<br />

30<br />

Apenas num aspecto, <strong>de</strong> resto <strong>de</strong> ampla repercussão política e simbólica, a República em Minas<br />

Gerais ousará contrariar o cânone da tradição: no referente à mudança da capital e, sobretudo, no projeto<br />

arquitetônico da cida<strong>de</strong>. Aqui o velho monarquista, que chegará à <strong>Pre</strong>sidência da República, buscará o mais<br />

puro da i<strong>de</strong>ologia positivista republicana convidando o engenheiro Aarão Reis para traçar a nova cida<strong>de</strong>. Diz<br />

Iglésias:<br />

“A mudança da capital mineira, portanto, espelha corretamente num projeto político. I<strong>de</strong>alizada,<br />

querida e discutida ardorosamente pelos segmentos mais autênticos <strong>de</strong> um<br />

republicanismo assumido nos tempos da propaganda, só pô<strong>de</strong> <strong>de</strong>r concretizada quando do<br />

Governo Floriano Peixoto, estando à frente do Estado o ex-conselheiro Afonso Pena, que<br />

chama o jovem e talentoso Aarão Reis para a escolha do local e execução da obra”. (IGLÉSIAS<br />

et al., 1990, p. 215)<br />

Encarregado do projeto e da obra Aarão Reis, o engenheiro radicalmente positivista e republicano,<br />

enten<strong>de</strong>-se em tudo com o velho político monarquista, lembrando outro episódio, também iniciado em<br />

<strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>, a estreita colaboração, entre o político conservador e mo<strong>de</strong>rnizador e o arquiteto comunista.<br />

Aarão Reis e Afonso Pena, o novo e o velho, a República e a Monarquia, a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> e a<br />

tradição, são os termos <strong>de</strong> uma equação clássica da trajetória histórica brasileira e que tem como resultado<br />

a conciliação que tem sido, entre nós, a senha para o bloqueio das transformações que ameaçam os privilégios.<br />

Esta tese <strong>de</strong> José Honório Rodrigues (RODRIGUES, 1965) tem aplicação precisa no caso da instauração<br />

republicana no Brasil à luz da mudança da capital mineira – a construção <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong> é o resultado <strong>de</strong><br />

uma conciliação que realiza a aglutinação <strong>de</strong> monarquistas liberais e dos republicanos, que terá como<br />

resultado político maior numa hipostasia: a apresentação da nova capital mineira, seu traçado geométrico<br />

sua mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> arquitetônica, como o máximo do projeto republicano.<br />

É como se a ortogonalida<strong>de</strong> dos eixos das avenidas, como se a angulação precisa das ruas, a<br />

disposição simétrica dos quarteirões, a distribuição funcional e social dos espaços, esgotassem todo o<br />

i<strong>de</strong>ário transformador, que a República parecia implicar.

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