Anu-Pre e secao1 - Prefeitura Municipal de Belo Horizonte
Anu-Pre e secao1 - Prefeitura Municipal de Belo Horizonte
Anu-Pre e secao1 - Prefeitura Municipal de Belo Horizonte
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
pós-graduação da UFMG, adaptadas para uma leitura não acadêmica. Nelas são discutidos temas como o<br />
papel <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong> como capital da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> mineira, a Catedral da Boa Viagem, os monumentos<br />
aos inconfi<strong>de</strong>ntes existentes na capital etc.<br />
A segunda é o número especial da revista do Departamento <strong>de</strong> História da UFMG, Varia História<br />
25 , <strong>de</strong>dicado ao centenário da capital mineira. Nesse periódico estão publicados vinte e quatro estudos e<br />
quatro resenhas <strong>de</strong> livros sobre temas variados da história da capital, que vão da mentalida<strong>de</strong> religiosa do<br />
século XVIII às perspectivas da cida<strong>de</strong> no século XXI, passando pela história dos cinemas, da música, da<br />
educação, pelos cronistas etc. Textos que pela varieda<strong>de</strong> e qualida<strong>de</strong> individual e do conjunto compõem o<br />
que <strong>de</strong> mais significativo se publicou naquele centenário, tornando-se instrumento útil para qualquer pesquisa<br />
ou leitura sobre os temas tratados.<br />
VII<br />
A história <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> não é composta somente <strong>de</strong> tratados, ensaios, teses e obras <strong>de</strong><br />
caráter acadêmico, historiográfico, crítico e científico. Ela é formada por tudo que se escrever sobre qualquer<br />
um <strong>de</strong> seus habitantes, eventos, logradouros, momentos, monumentos e elementos constituintes. Po<strong>de</strong>se<br />
dizer ainda, que tudo o que se produzir no campo da ficção, poesia, música, artes plásticas, memórias,<br />
diários, reminiscências, crônicas ou qualquer forma <strong>de</strong> arte, seja literatura ou não, faz parte <strong>de</strong> sua memória<br />
estética, poética, literária. O caso <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong> não é diferente: ela não inspirou somente os relatórios,<br />
tratados, teses, ensaios, e <strong>de</strong>mais obras mencionadas e por mencionar. Ela foi vivida, sonhada, escrita,<br />
<strong>de</strong>scrita, cantada, lamentada, lembrada, relembrada em uma enorme série <strong>de</strong> memórias, crônicas, poemas,<br />
canções, contos, novelas, evocações e tantas outras possibilida<strong>de</strong>s, que não po<strong>de</strong>mos preten<strong>de</strong>r tratar senão<br />
<strong>de</strong> pequena parte. Vamos por isso abordar apenas a nata, o que <strong>de</strong> melhor se produziu em matéria <strong>de</strong><br />
literatura belo-horizontina nesses cem anos iniciais da cida<strong>de</strong> como capital.<br />
Essa seleção não é apenas referência local. Trata-se <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> autores cujas obras<br />
estão no cume da produção literária <strong>de</strong> língua portuguesa <strong>de</strong>ssa época. São nomes como Eduardo Frieiro,<br />
João Alphonsus, Carlos Drummond <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, Cyro dos Anjos, Pedro Nava, Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, Paulo Men<strong>de</strong>s<br />
Campos e tantos outros, que sua relação mais parece um dicionário <strong>de</strong> autores célebres. Eles construíram um<br />
múltiplo corpo literário em prosa e verso, em que a urbe é <strong>de</strong>scrita, evocada, lamentada, amada, odiada, <strong>de</strong><br />
todas as formas possíveis. Não há amor cego nesses autores: sua relação com a cida<strong>de</strong> é sempre conflituosa<br />
e ambígua, característica dos amores difíceis, conquistados com luta, e por isso mais prezados.<br />
Dos cronistas, além dos já mencionados Martins Dias e Alfredo Camarate, um dos primeiros a<br />
escrever sobre a cida<strong>de</strong>, já se<strong>de</strong> do governo, foi Arthur Azevedo, que a visitou em 1901 e escreveu doze<br />
crônicas para o jornal O Paíz, reeditadas na Revista do Arquivo Público Mineiro 26 . A visão do autor é a que<br />
predominaria na primeira fase da sua evolução:<br />
Características Históricas<br />
1.9<br />
“Nessa primeira visão rápida e fugaz, <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong> me <strong>de</strong>u uma bela impressão <strong>de</strong> opulência<br />
e gran<strong>de</strong>za. Nem uma rua: tudo avenidas! Nem uma habitação mo<strong>de</strong>sta: tudo palácios,<br />
palacetes ou casa assobradadas, <strong>de</strong> aparência nobre, sacrificando ao jardim uma boa<br />
parte do terreno”. 27<br />
Está aí a <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong> da primeira década, em que as árvores ainda não haviam crescido, mas<br />
que nem por isso <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> impressionar quem a visitava pela grandiosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu traçado. Mais tar<strong>de</strong><br />
seria a cida<strong>de</strong> vergel. O mesmo número da revista traz algumas crônicas <strong>de</strong> Moacyr Andra<strong>de</strong>, cronista que<br />
morou na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1912 e publicou no jornal Estado <strong>de</strong> Minas durante muitos anos sua coluna História<br />
Alegre <strong>de</strong><strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>, em que, em verso e prosa narrava sua história e <strong>de</strong>bochava do seu dia a dia. Os<br />
textos transcritos nesse número da Revista... versam sobre a prática da medicina ao longo do tempo na<br />
capital e sobre aspectos curiosos da evolução dos seus hábitos diários.<br />
VIII<br />
Mas para quem viveu aqui nos primeiros anos, principalmente aqueles dotados <strong>de</strong> maior se<strong>de</strong><br />
intelectual e emocional, a cida<strong>de</strong> tinha uma imagem monótona, fria, pouco acolhedora, dura mesmo, que<br />
obrigava seu morador a se revelar, a renascer <strong>de</strong>sarmado. Era inevitável: o fruto da geometria positivista,<br />
25<br />
MELO, Ciro Ban<strong>de</strong>ira <strong>de</strong>; PAULA; João Antonio <strong>de</strong> (org.). <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong> cem anos em cem. Varia Historia. <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>: FAFICH/ UFMG, v.18, nov. 1997.<br />
26<br />
AZEVEDO, Arthur. Um passeio a Minas. R. do Arquivo Público Mineiro. <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>, v.33, 1982.<br />
27<br />
ibid., p. 184.