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Anu-Pre e secao1 - Prefeitura Municipal de Belo Horizonte

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Desalento esse que se tornaria ira e rompimento <strong>de</strong>finitivo em Triste horizonte:<br />

“Por que não vais a <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>? A sauda<strong>de</strong> cicia<br />

e continua, branda: Volta lá.<br />

Tudo é belo e cantante na coleção <strong>de</strong> perfumes<br />

das avenidas que levam ao amor,<br />

nos espelhos <strong>de</strong> luz e penumbra on<strong>de</strong> se projetam<br />

os puros jogos <strong>de</strong> viver.<br />

Anda! Volta lá, volta já!<br />

E eu respondo carrancudo: Não.<br />

Não voltarei para ver o que não merece ser visto,<br />

O que merece ser esquecido, se revogado não po<strong>de</strong> ser.<br />

........................................................................................<br />

Não quero mais, não quero ver-te,<br />

Meu Triste <strong>Horizonte</strong> e <strong>de</strong>stroçado amor”. 34<br />

Esse sentimento ambíguo <strong>de</strong> amante rejeitado não foi privilégio <strong>de</strong> Drummond. Paulo Men<strong>de</strong>s<br />

Campos também o carrega em seus textos, espalhados pelos periódicos em que trabalhou e recentemente<br />

republicados parcialmente em livro:<br />

“Não é fácil nem simples amar <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>. É natural amar Ouro <strong>Pre</strong>to, Recife, Salvador,<br />

Rio... Nessas cida<strong>de</strong>s há um estilo <strong>de</strong> amá-las, que se transmite. Mas em <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong><br />

cada habitante tem <strong>de</strong> inventar o seu amor (eu chamo <strong>de</strong> amor uma complicação <strong>de</strong> sentimentos),<br />

como quem inventa uma lenda ou um poema. Nela não temos nem mesmo o rio e<br />

o mar, elementos através dos quais as crianças se põem em contato com o mundo imaginário,<br />

em que preferem viver. Menino <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>, <strong>de</strong> um lado, tem o programa traçado<br />

pelos adultos: estudo, educação, or<strong>de</strong>ns; <strong>de</strong> outro lado uma cida<strong>de</strong> riscada a régua, sem<br />

ida<strong>de</strong> e sem mitologia, sem muitos estímulos para a aventura lírica <strong>de</strong> todo dia. Os mitos<br />

fazem o espírito funcionar e o alimentam <strong>de</strong> amor. De repente uma pessoa se surpreen<strong>de</strong><br />

adulta e sente a compressão do tempo: esta pessoa amará o seu passado pelos inci<strong>de</strong>ntes<br />

que fizerem <strong>de</strong>le um acontecimento romanesco, uma fábula, uma promessa <strong>de</strong> mistério”. 35<br />

Características Históricas<br />

1.11<br />

Sentimento que não foi exclusivo dos cronistas e poetas. Seria também o dos memorialistas e<br />

romancistas que escreveram sobre a cida<strong>de</strong>.<br />

IX<br />

É claro que nesse tempo <strong>de</strong> existência <strong>Belo</strong> horizonte inspirou inúmeros livros <strong>de</strong> memórias.<br />

Além das já mencionadas, há as <strong>de</strong> Afonso Arinos, as <strong>de</strong> Cyro dos Anjos, e tantas outras que seria tedioso<br />

listar todas. Muitas <strong>de</strong> alta qualida<strong>de</strong>. Mas há A MEMÓRIA, a obra maior que se publicou no gênero no Brasil,<br />

a que transcen<strong>de</strong> o espírito <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> trabalho para se tornar um dos pontos culminantes <strong>de</strong> nossa<br />

literatura: Baú <strong>de</strong> Ossos, Balão Cativo, Chão <strong>de</strong> Ferro, Beira Mar, Galo Das Trevas e O Círio Perfeito 36 , a<br />

sucessão <strong>de</strong> seis volumes escritos em pura prosa poético-musical, em que Pedro Nava, através <strong>de</strong> um minucioso<br />

trabalho <strong>de</strong> reconstrução <strong>de</strong> imagens, sensações, sentimentos, visões, observações, aliado a uma<br />

prodigiosa imaginação, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>scritiva e transcen<strong>de</strong>nte domínio da língua, recria um mundo vigoroso,<br />

vital, que absorve, apreen<strong>de</strong> o leitor, para fazê-lo viver uma experiência inesquecível, a viagem pelo mundo<br />

como só um criador <strong>de</strong> gênio po<strong>de</strong> proporcionar. Não são memórias no sentido tradicional da palavra.<br />

Embora o autor justifique cada uma <strong>de</strong> suas recriações por meio <strong>de</strong> documentos <strong>de</strong> toda espécie, fotos,<br />

cartas, mapas etc, o que dá vigor único a essas obras são as suas qualida<strong>de</strong>s intangíveis. Feliz a cida<strong>de</strong> que<br />

possui tal monumento. Ou melhor, as cida<strong>de</strong>s, porque Nava viveu em muitas: Juiz <strong>de</strong> Fora, Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

<strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>, e a cada uma legou muito <strong>de</strong> seu dom.<br />

34<br />

ANDRADE, Carlos Drummond <strong>de</strong>. Triste <strong>Horizonte</strong>. In: Discurso <strong>de</strong> primavera e algumas sombras. 2. ed. aum. Rio <strong>de</strong> Janeiro: José Olympio, 1978, p 11-14.<br />

35<br />

CAMPOS, Paulo Men<strong>de</strong>s. Azul da montanha, p. 83.<br />

36<br />

NAVA, Pedro. Baú <strong>de</strong> ossos (Memórias/1). 5. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: José Olympio, 1978. Balão cativo (memórias 2). São Paulo: Ateliê Editorial, 2000.<br />

Chão <strong>de</strong> ferro (memórias/3). Rio <strong>de</strong> Janeiro: José Olympio, 1976. Beira mar (memórias/4). Rio <strong>de</strong> Janeiro: José Olympio, 1978. Galo das trevas: as<br />

doze velas imperfeitas: memórias/5. 2. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: José Olympio, 1981. O Círio perfeito: memórias VI. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1983.

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