Anu-Pre e secao1 - Prefeitura Municipal de Belo Horizonte
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É interessante observarmos que, quando da visita <strong>de</strong> Bilac, o arraial já havia encolhido consi<strong>de</strong>ravelmente,<br />
pois se o poeta o <strong>de</strong>screve com cem fogos, ou moradias, o inglês contou trezentos e cinqüenta<br />
e nove. Em menos <strong>de</strong> trinta anos, <strong>de</strong> 1867 a 1894, o arraial diminuiu, portanto, quase quatro vezes.<br />
Os <strong>de</strong>mais registros do Curral d’El Rey, ou do Bello <strong>Horizonte</strong>, são frutos já do período em que<br />
se <strong>de</strong>senvolviam os trabalhos da Comissão Construtora da Nova Capital. Os mais extensos e precisos do<br />
ponto <strong>de</strong> vista das medições topográficas e da conseqüente construção cartográfica são os documentos<br />
oficiais da Comissão, <strong>de</strong>ntre os quais se <strong>de</strong>stacam as ca<strong>de</strong>rnetas <strong>de</strong> campo dos trabalhos topográficos, os<br />
mapas, incluindo a Planta Cadastral do arraial, mais tar<strong>de</strong> reproduzida no já referido atlas histórico, os<br />
relatórios <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s, as listas das <strong>de</strong>sapropriações e a prestação <strong>de</strong> contas das in<strong>de</strong>nizações aos moradores,<br />
a Revista da Comissão Construtora, a Planta da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Minas, também reproduzida no atlas, plantas<br />
dos prédios públicos e das casas, além dos <strong>de</strong>mais documentos produzidos por pessoas encarregadas <strong>de</strong><br />
empreendimentos <strong>de</strong>ssa natureza.<br />
Para o estudo da mentalida<strong>de</strong> dominante no arraial nesse período, as mais interessantes são,<br />
porém, duas pequenas jóias produzidas à margem da comissão: a obra Traços Históricos e Descriptivos <strong>de</strong><br />
Bello <strong>Horizonte</strong> 7 , do Padre Francisco Martins Dias, vigário do arraial quando <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>saparecimento, e as<br />
crônicas <strong>de</strong> Alfredo Camarate 8 , português, arquiteto da Comissão Construtora, reproduzidas em 1985 na<br />
Revista do Arquivo Público Mineiro, ano XXXVI. Na primeira obra, que também po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada uma série<br />
<strong>de</strong> crônicas, temos a visão autóctone: um pequeno apanhado da história do arraial, com especulações sobre<br />
sua origem e as causas <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>cadência, <strong>de</strong>scrição dos hábitos e festas populares, além da narrativa dos<br />
trabalhos da Comissão Construtora até meados <strong>de</strong> 1897, bem perto da inauguração da nova capital. Já o<br />
“invasor“ Camarate, homem letrado, que além <strong>de</strong> arquiteto era também músico, flautista <strong>de</strong> mérito, um dos<br />
fundadores da crítica musical no Brasil e conhecedor <strong>de</strong> vários países, publicou no então jovem Minas Gerais,<br />
entre março e <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1894, sob o pseudônimo <strong>de</strong> Alfredo Riancho, uma série <strong>de</strong> cinqüenta e quatro<br />
crônicas intituladas Por Montes e vales, em que <strong>de</strong>screve com visão aguda, dotada <strong>de</strong> humor e afeto, a gente<br />
do arraial com seus costumes, sua paisagem e os fatos por ele presenciados. Essas duas séries, fundamentais<br />
para o estudo da transição do arraial para a capital, inauguram uma tradição que prosseguiria no século<br />
seguinte com autores como Carlos Drummond <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, Paulo Men<strong>de</strong>s Campos e tantos outros. Martins<br />
Dias dá ainda uma versão da origem do arraial que foi mais tar<strong>de</strong> esposada e <strong>de</strong>fendida por Abílio Barreto.<br />
Outro interessantíssimo <strong>de</strong>poimento sobre os últimos dias do arraial é o do escritor Avelino<br />
Fóscolo, que em seu romance A Capital 9 narra, com a precisão dos escritores naturalistas da época, as<br />
esperanças dos habitantes do vilarejo com a vinda da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Minas, sua frustração quando ficou claro que<br />
as vantagens da nova or<strong>de</strong>m eram para quem chegava, e não para os velhos habitantes, e sua conseqüente<br />
parte mudança voluntária, parte expulsão, para Venda Nova, então situada no “fim do mundo”. Mas a obra<br />
que sintetiza tanto a história do arraial quanto o processo <strong>de</strong> escolha do local como se<strong>de</strong> da futura capital,<br />
procurando compor, mesmo que intuitivamente, uma História organizada, e não apenas reminiscências e<br />
recordações pitorescas, é <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>, Memória Histórica e Descritiva, volume I, História Antiga 10 , <strong>de</strong><br />
Abílio Barreto, <strong>de</strong> que falarei mais adiante.<br />
Características Históricas<br />
1.5<br />
IV<br />
Tantas mudanças e disputas não po<strong>de</strong>riam ocorrer sem trazer seqüelas para a nova cida<strong>de</strong>. Uma<br />
<strong>de</strong>las foi o fato <strong>de</strong> os prefeitos da capital, ao invés <strong>de</strong> eleitos, serem sistematicamente nomeados pelo<br />
presi<strong>de</strong>nte ou governador do estado, ao sabor <strong>de</strong> interesses políticos, do que resultou a presença <strong>de</strong> administradores<br />
exógenos, sem compromisso com seus eleitores, mais preocupados em agradar o chefe que os<br />
nomeara e que po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>miti-los a seu bel prazer, do em que cuidar do bom <strong>de</strong>senvolvimento da cida<strong>de</strong> e do<br />
bem estar <strong>de</strong> seus habitantes. De 1897, ano da transferência da capital <strong>de</strong> Ouro <strong>Pre</strong>to para cá, até 1947, em<br />
cinqüenta anos, portanto, todos os trinta prefeitos foram nomeados. Desse ano até 1965 tivemos seis<br />
prefeitos eleitos, ou seus vices. De 1965 até 1987, mais oito nomeados. Daí para cá, tivemos mais cinco<br />
eleitos 11 . Portanto, <strong>de</strong> quarenta e nove prefeitos que a cida<strong>de</strong> teve até o atual ano <strong>de</strong> 2000, apenas onze<br />
7<br />
DIAS, Padre Francisco Martins. Traços historicos e <strong>de</strong>scriptivos <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>. <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>: Associação Cultural do Arquivo Público Mineiro, s.d.<br />
Edição fac-simile.<br />
8<br />
CAMARATE, Alfredo. Por montes e vales. R. do Arquivo Público Mineiro. <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>, v.36, 1985.<br />
9<br />
FÓSCOLO, Avelino. A capital. <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>: Imprensa oficial, 1979.<br />
10<br />
BARRETO, Abílio. Bello <strong>Horizonte</strong>: memoria histórica e <strong>de</strong>scriptiva-historia antiga. 2. ed. rev. e aum. Bello <strong>Horizonte</strong>: Livraria Rex, 1936.<br />
11<br />
GRAVATÁ, Hélio. Relação dos <strong>Pre</strong>feitos <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>. R. do Arquivo Público Mineiro. <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>, v.30, 1979.