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Anu-Pre e secao1 - Prefeitura Municipal de Belo Horizonte

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epercutem sobre o preço da terra, <strong>de</strong>terminando diferenciais que vão resultar na rápida ocupação das áreas<br />

<strong>de</strong>sassistidas da cida<strong>de</strong>. Veja-se o que diz Gough:<br />

“...temos os seguintes dados para a distribuição da população por zonas resi<strong>de</strong>nciais no<br />

ano <strong>de</strong> 1912. De um total <strong>de</strong> 38.822 habitantes, a zona resi<strong>de</strong>ncial urbana respondia por<br />

apenas 32% da população, a saber 12.033. O restante da população estava distribuído pela<br />

zona suburbana, 14.842 equivalentes a 38% do total e na zona rural o número era 11.947,<br />

equivalentes a 30% do total. O crescimento que havia sido planejado para ocorrer <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro<br />

para fora acabou por tomar sentido inverso”. (GOUGH, 1994, p. 19)<br />

36<br />

Este processo tem pelo menos duas implicações importantes sobre as finanças públicas – 1) <strong>de</strong><br />

um lado isto significava que os gastos com a infraestrutura montada na área central só seriam amortizados<br />

num prazo muito maior; 2) <strong>de</strong> outro lado o crescimento populacional nas áreas periféricas significava, na<br />

prática, uma menor capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> arrecadação tributária.<br />

Se a estes fatores somar-se o relativo ao endividamento <strong>de</strong>corrente da construção e instalação da<br />

cida<strong>de</strong>, não há surpresa na existência <strong>de</strong> um significativo déficit fiscal <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong> naquele contexto.<br />

Se eram importantes os problemas fiscais da cida<strong>de</strong> não menos problemáticos eram as tensões<br />

<strong>de</strong>correntes do crescimento acelerado da cida<strong>de</strong> e seu impacto sobre uma infraestrutura não planejada para<br />

absorvê-lo. Assim no início da década <strong>de</strong> 1910 a cida<strong>de</strong> enfrentava tanto uma crise fiscal, quanto a precarieda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> sua infraestrutura urbana fora da avenida do Contorno.<br />

Diante <strong>de</strong>ste quadro apresentavam-se duas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> enfrentamento das questões: 1) a<br />

primeira seria o aprofundamento da intervenção do governo do estado na linha do que Aarão Reis propugnou<br />

<strong>de</strong>ste seu primeiro estudo sobre a cida<strong>de</strong>; 2) a segunda possibilida<strong>de</strong>, a que efetivamente foi implantada, foi<br />

o abandono do Plano <strong>de</strong> Aarão Reis e a privatização da cida<strong>de</strong>.<br />

Não se queira ver no anterior uma <strong>de</strong>fesa do Plano <strong>de</strong> Aarão Reis, que ele também era problemático<br />

por seu explícito caráter segregacionista. O que se coloca aqui é apontar uma guinada na política<br />

para a cida<strong>de</strong>, com o predomínio do mercado em sua concepção e dinâmica, predomínio este que matizado<br />

a partir da década <strong>de</strong> 1930, pela volta <strong>de</strong> certa intervenção estatal, manteve-se no essencial até a década <strong>de</strong><br />

1980, quando em função da crise geral da economia brasileira, da crise específica do estado, do avanço das<br />

lutas sociais, a cida<strong>de</strong> passará a ter novos parâmetros para seu <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

O relatório do <strong>Pre</strong>feito Olyntho Meireles, <strong>de</strong> 1912, dá conta da situação financeira da prefeitura:<br />

“o Estado continuava a provê-la (a cida<strong>de</strong>) <strong>de</strong> recursos periodicamente, levando, entretanto, ao débito da<br />

<strong>Pre</strong>feitura as importâncias fornecidas”.<br />

“O resultado <strong>de</strong> tal política era o acumulo por parte da municipalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma dívida total<br />

<strong>de</strong> 8.791:0006$415 em 1910 para uma receita arrecadada <strong>de</strong> 1.134:932$411 naquele ano<br />

e numa <strong>de</strong>spesa <strong>de</strong> 2.534:346$858 em 1911”. (GOUGH, 1994, p. 38)<br />

É este endividamento crescente e o agravamento das condições <strong>de</strong> infraestrutura da cida<strong>de</strong>,<br />

que estão na base da <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> privatizar, em 1912, os serviços <strong>de</strong> energia elétrica e <strong>de</strong> transporte urbano<br />

(bon<strong>de</strong>s) da cida<strong>de</strong>.<br />

A lógica, naquela época, como hoje, na <strong>de</strong>fesa da privatização, era a incapacida<strong>de</strong> do po<strong>de</strong>r<br />

público <strong>de</strong> arcar com os investimentos necessários para aten<strong>de</strong>r à <strong>de</strong>manda crescente <strong>de</strong> infraestrutura urbana.<br />

Uma análise do processo <strong>de</strong> privatização <strong>de</strong>stes serviços, que perdurou <strong>de</strong> 1912 a 1926, e que<br />

<strong>de</strong>pois foi retomado em 1929, prolongando-se até a década <strong>de</strong> 40, o referente ao sistema viário, e até a<br />

década <strong>de</strong> 1960, referente ao sistema <strong>de</strong> energia elétrica, é reveladora.<br />

Os déficits orçamentários e o endividamento crescente do município em relação ao governo<br />

estadual são aspectos permanentes da vida da cida<strong>de</strong> em suas primeiras décadas. Se é dramático o quadro em<br />

1912, como se vê pelo Relatório <strong>de</strong> Olyntho Meireles, não é menos grave a situação em 1937; veja-se sobre<br />

isto o Relatório <strong>de</strong> Otacílio Negrão <strong>de</strong> Lima. (GOUGH, 1994, p. 39)<br />

Na verda<strong>de</strong> este quadro é o resultado <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sequilíbrio estrutural e <strong>de</strong> um equívoco na<br />

condução da política <strong>de</strong> constituição do espaço da cida<strong>de</strong>. O <strong>de</strong>sequilíbrio estrutural <strong>de</strong>corre <strong>de</strong> duas fontes:<br />

a) a atribuição ao município do atendimento <strong>de</strong> certas necessida<strong>de</strong>s que <strong>de</strong>mandam vultosos investimentos,<br />

como o fornecimento <strong>de</strong> energia elétrica; b) a ausência <strong>de</strong> autonomia financeira do município, atrelado que

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