Anu-Pre e secao1 - Prefeitura Municipal de Belo Horizonte
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Vai se <strong>de</strong>stacar neste amplo processo <strong>de</strong> replanejamento da cida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>pois do plano básico <strong>de</strong><br />
Aarão Reis, o engenheiro Lincoln Continentino, que vai sintetizar suas concepções sobre urbanismo em um<br />
livro <strong>de</strong> 1937 – Saneamento e Urbanismo. Veja-se um resumo <strong>de</strong> sua atuação:<br />
“Suas idéias, embora nunca implantadas em seu conjunto, marcaram as administrações <strong>de</strong><br />
Octacilio Negrão Lima, Oswaldo Araújo e Juscelino Kubistchek, entre 1935 e 1951: a execução<br />
<strong>de</strong> algumas radiais propostas, como o prolongamento das avenidas Amazonas e Afonso<br />
Pena; alongamento da Tocantins, atual Assis Chateaubriand, abertura das avenidas sanitárias<br />
Pedro I, posteriormente Antônio Carlos, Pedro II, Silviano Brandão, Tereza Cristina e<br />
Francisco Sá, a canalização do ribeirão Arrudas em toda zona urbana, com a execução <strong>de</strong><br />
emissário <strong>de</strong> esgotos em trecho <strong>de</strong> uma das margens; e a urbanização da Cida<strong>de</strong> Jardim e<br />
da Pampulha, <strong>de</strong>ntro da concepção <strong>de</strong> ‘cida<strong>de</strong>-jardim’.” (GUSTIN; ARAÚJO; CAMPOS, 1996, p. 28)<br />
Trata-se da mais importante e ampla intervenção urbana em <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong> <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> sua<br />
construção, marcando um novo tempo <strong>de</strong> planejamento <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> longa dominância do laissez-faire que<br />
havia produzido um tal quadro <strong>de</strong> precarieda<strong>de</strong> urbana nas áreas externas à avenida do Contorno, que se<br />
impunha a volta do plano.<br />
Ao lado <strong>de</strong>ste retorno <strong>de</strong> planejamento urbano, duas outras realida<strong>de</strong>s vão se somar na re<strong>de</strong>finição<br />
do perfil da cida<strong>de</strong> – a verticalização e a industrialização. São <strong>de</strong> 1935, o primeiro arranha-céu da cida<strong>de</strong>, o<br />
Edifício Ibaté, com 10 andares, e a Feira <strong>de</strong> Amostras, também <strong>de</strong> 10 pavimentos, que dão início ao processo<br />
<strong>de</strong> verticalização da cida<strong>de</strong>.<br />
Contudo, nem este retorno do plano, nem o diagnóstico, antigo, quanto ao <strong>de</strong>sequilíbrio do<br />
<strong>de</strong>senvolvimento urbano <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>, expresso na precarieda<strong>de</strong> da infra-estrutura das áreas externas à<br />
avenida do Contorno, reverteram o processo <strong>de</strong> hipertrofia da centralização da cida<strong>de</strong>. Este hipercentralização<br />
ainda hoje dominante é a mais permanente manifestação da virtual segregação, que marcou a urbanização da<br />
cida<strong>de</strong> com o sistemático <strong>de</strong>sassistimento das áreas periféricas <strong>de</strong>sprovidas <strong>de</strong> equipamentos, que vão se concentrar<br />
apenas em certo trecho do anel interno à avenida do Contorno. Veja-se sobre isto um registro <strong>de</strong> 1967:<br />
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“...todos esses tipos <strong>de</strong> crescimento urbano, mais antigo ou mais recente, <strong>de</strong>ram a <strong>Belo</strong><br />
<strong>Horizonte</strong> uma forma <strong>de</strong> funcionamento não usual em cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>stas dimensões: o gran<strong>de</strong><br />
po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> centralização exercido pelo centro urbano em relação às áreas periféricas. Salvo<br />
algumas exceções, quase todos os bairros vivem em relações muito diretas com o centro<br />
comercial”. (BARBOSA, 1967, p. 28)<br />
Mais <strong>de</strong> trinta anos <strong>de</strong>pois, e muitas intervenções realizadas, e o quadro <strong>de</strong> hipercentralização<br />
<strong>de</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong> não foi superado.<br />
Em síntese po<strong>de</strong>-se dizer que a volta do planejamento, que os projetos <strong>de</strong> expansão para a<br />
região norte – complexo da Pampulha, Aeroporto, abertura das avenidas Antônio Carlos, e Pedro I – e para<br />
a região oeste – abertura da avenida Pedro II, expansão da avenida Amazonas, instalação da Cida<strong>de</strong> Industrial<br />
em Contagem, foram <strong>de</strong>cisivos para a efetiva consolidação do tecido urbano da cida<strong>de</strong>. Contudo, estas<br />
intervenções não foram capazes <strong>de</strong> reverter a hipercentralização, e, sobretudo, vão beneficiar os gran<strong>de</strong>s<br />
latifundiários urbanos da cida<strong>de</strong>. São estes os gran<strong>de</strong>s beneficiários do processo <strong>de</strong> expansão urbana aos<br />
saltos que se <strong>de</strong>u em <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>. Dito <strong>de</strong> outra forma e sinteticamente – o planejamento na cida<strong>de</strong>,<br />
mesmo em suas épocas <strong>de</strong> maior prestigio e atuação – 1935-54, 1964-80, - foi, sobretudo, instrumento<br />
auxiliar dos interesses do mercado, interesses estes que jamais foram afrontados pelos planos, mesmo quando<br />
assim o exigia o interesse coletivo.<br />
A expansão urbana aos saltos foi o mais importante instrumento da valorização das terras nos<br />
intervalos inter aglomerações <strong>de</strong> equipamentos urbanos, e ao longo dos eixos <strong>de</strong> expansão. Não por acaso os<br />
especuladores imobiliários e os oligopolistas do transporte urbano foram, até recentemente, os principais<br />
agentes do clientelismo político municipal.<br />
A década <strong>de</strong> 1930 assiste à retomada do plano em <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>. Assiste mais, assiste ao<br />
início da verticalização, à expansão da cida<strong>de</strong> para os eixos norte e o oeste, ao início da industrialização e<br />
da imposição mo<strong>de</strong>rnista com o complexo da Pampulha; assiste, sobretudo, à uma explosão populacional.<br />
Veja-se a Tabela 2.