Anu-Pre e secao1 - Prefeitura Municipal de Belo Horizonte
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<strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong> não aparece no primeiro volume: ela está no segundo, a partir <strong>de</strong> 1912, ano em<br />
que, com <strong>de</strong>z anos, o menino Pedro veio morar na cida<strong>de</strong>, no bairro da Floresta, e permeia a obra até o último,<br />
em 1931, ano em que, já formado em medicina, <strong>de</strong>ixou a cida<strong>de</strong> para sempre, espantado por uma <strong>de</strong>silusão<br />
amorosa. Nesse período ele foi e voltou várias vezes, morando, estudando e trabalhando em diversos pontos:<br />
Floresta, Centro, Serra, em diversas épocas, travando um conhecimento íntimo com a cida<strong>de</strong> e seus habitantes.<br />
Pois esse conhecimento nos é legado da forma já <strong>de</strong>scrita, que não é exageradamente entusiástica,<br />
mesmo que o pareça a quem não leu os livros. Quem já teve o prazer <strong>de</strong>ssa leitura há <strong>de</strong> concordar. Há<br />
passagens antológicas como as <strong>de</strong>scrições da rua da Bahia, dos crepúsculos, e tantas outras, sobejamente<br />
conhecidas. Citarei apenas uma, a que <strong>de</strong>screve o crescimento inexorável da cida<strong>de</strong> comparado ao <strong>de</strong> Paris:<br />
Características Históricas e Territoriais<br />
“... mas a cida<strong>de</strong> enjamba cada limite que se lhe dá e Paris continua... Assim também é<br />
<strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>. Quem caminha nas calçadas <strong>de</strong> Aimorés, Sergipe, João Pinheiro e Guajajaras,<br />
que se avizinham da Boa Viagem, está perlustrando, na Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Minas, o que foi a Cité<br />
para Paris. Está na Lutécia Sertaneja e, andando naqueles quarteirões e em mais alguns<br />
que os circundam (até um pouco do Parque, até Bernardo Guimarães, um pouco <strong>de</strong> Bahia,<br />
<strong>de</strong> Goiás, um pouco <strong>de</strong> Afonso Pena), está pondo os pés nas marcas dos passos do Pai<br />
Nosso João Leite da Silva Ortiz, o primeiro que amou a serra das Congonhas, que viraria a<br />
serra do Curral, o mesmo que fez o Cercado, don<strong>de</strong> sairia o Curral d’El Rey, a Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Minas e por fim <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong> __ <strong>Belo</strong>rizonte belo. Está pisando o asfalto que capeia os<br />
pedregulhos carregados e as terras <strong>de</strong>nsas da Rua do Sabará, da Rua Congonhas, da <strong>de</strong><br />
Trás, dos Becos da Fonte Gran<strong>de</strong>, do Pimpão, do Gervásio, do Largo da Matriz, do Largo do<br />
Rosário. Está andando pelos caminhos daqueles Santos Brochado... cujos nomes e <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes<br />
mantêm, no <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>, a presença do arraial da fundação, do Curral das igrejas<br />
douradas e do Cercado dos ban<strong>de</strong>irantes”.<br />
E continua <strong>de</strong>screvendo a expansão <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong> até concluir:<br />
1.12<br />
“... mas não vai parar! Porque a cida<strong>de</strong> sem limites continuará, passará a Baleia, as<br />
Mangabeiras, o Curral, o Rola-Moça, o Pindorama, a Providência, Santo Agostinho, a Severa...<br />
Está livre dos velhos complexos sexuais do tempo <strong>de</strong> Totônio Pacheco, é a mais linda<br />
do sertão, a terceira do Brasil, passou aos pileques <strong>de</strong> uísque, tem inferninhos, instalou a<br />
livre-fodança, mas jamais, ah! Jamais sacudirá o jugo do velho crespúsculo, daquela tristeza<br />
da tar<strong>de</strong> morrendo varrida <strong>de</strong> ventos, da lembrança submarina dos fícus e dos moços que<br />
subiam e <strong>de</strong>sciam a Rua da Bahia. Não a Rua da Bahia <strong>de</strong> hoje. A <strong>de</strong> ontem. A dos anos<br />
vinte. A <strong>de</strong> todos os tempos, a sem fim no espaço, a inconclusa nos amanhãs. Nela andarão<br />
sempre as sombras <strong>de</strong> Carlos Drummond <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, <strong>de</strong> seus sequazes, cúmplices, amigos,<br />
acólitos, satélites...”. 37<br />
Ao publicar seu último livro em 1983, Pedro Nava encerra um ciclo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s autores que se<br />
formaram em <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong> e foram habitantes/habitados da/pela cida<strong>de</strong>. Entre Avelino Fóscolo, o já<br />
mencionado autor d’A Capital até O Círio Perfeito, <strong>de</strong> 1983, há, porém, uma série <strong>de</strong> novelas, poemas e<br />
contos que são, também, documentos urbanos dignos <strong>de</strong> nota.<br />
X<br />
Essas obras são numerosas, por isso mencionarei apenas as mais significativas <strong>de</strong> cada período,<br />
aquelas que já passaram pela prova do tempo. A primeira é a do escritor naturalista Avelino Fóscolo,<br />
publicada originalmente em 1903, e que através dos amores infelizes <strong>de</strong> uma jovem obrigada a casar-se com<br />
um noivo <strong>de</strong> condição inferior, narra os acontecimentos relativos à transição do arraial à capital. Segue o<br />
gosto da época, sendo sensível uma gran<strong>de</strong> influência <strong>de</strong> Zola. Livro curioso, com seus méritos, documento<br />
precioso <strong>de</strong> época, escrito por quem esteve trabalhando na <strong>de</strong>molição do arraial e construção da capital.<br />
Depois <strong>de</strong> Fóscolo, o primeiro autor a ser consi<strong>de</strong>rado é Eduardo Frieiro, que em uma série <strong>de</strong><br />
romances <strong>de</strong>screve a vida na capital nas décadas <strong>de</strong> 1920 e 1930. No entanto, sua contribuição não se<br />
resume somente à ficção. Ele nos <strong>de</strong>ixou também um Novo Diário 38 , em que anota os acontecimentos dos<br />
37<br />
NAVA, Pedro. Balão cativo. São Paulo: Ateliê Editorial, 2000. p. 119-121.<br />
38<br />
FRIEIRO, Eduardo. Novo diário. <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>: Itatiaia, 1986.