Anu-Pre e secao1 - Prefeitura Municipal de Belo Horizonte
Anu-Pre e secao1 - Prefeitura Municipal de Belo Horizonte
Anu-Pre e secao1 - Prefeitura Municipal de Belo Horizonte
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
II<br />
Se o impacto foi tão gran<strong>de</strong>, por que a mudança? Além das razões já mencionadas, há outras <strong>de</strong><br />
peso. No capítulo VII da primeira parte do seu já clássico “Um Estadista Da República”, Afonso Arinos, ao<br />
narrar a instalação do pai, Afrânio <strong>de</strong> Melo Franco, em 1898, na então jovem capital, faz interessante análise<br />
das causas e do processo da transferência da se<strong>de</strong> do governo <strong>de</strong> Ouro <strong>Pre</strong>to para <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>. Nesse<br />
estudo, que se fundamenta tanto na obra <strong>de</strong> Abílio Barreto quanto na tradição familiar dos Melo Franco __<br />
não po<strong>de</strong>mos nos esquecer <strong>de</strong> que o avô <strong>de</strong> Afonso Arinos, Virgílio <strong>de</strong> Melo Franco, participou, na qualida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> parlamentar, das tormentosas discussões que culminaram com o processo <strong>de</strong> mudança __ o autor adverte:<br />
“A criação <strong>de</strong> um novo centro urbano e administrativo, <strong>de</strong>cidida ao apagar das luzes da<br />
centúria, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> violento entrechoque <strong>de</strong> paixões e interesses, não foi episódio superficial<br />
na vida mineira, e a sua causa <strong>de</strong>ve ser pesquisada mais abaixo do nível raso da luta<br />
entre a vaida<strong>de</strong> progressista e o sentimentalismo tradicionalista.<br />
O problema sofria a influência <strong>de</strong> fatores mais concretos, <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m econômica,<br />
tendo sido a sua solução facilitada por outros, <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m financeira. Evi<strong>de</strong>ntemente,<br />
aqueles fatores econômicos não eram exclusivamente os <strong>de</strong>terminantes, mas eles<br />
condicionaram em gran<strong>de</strong> parte a formação do ambiente psicológico favorável ao fortalecimento<br />
e à idéia <strong>de</strong> mudança”. 2<br />
Para o autor, as tais causas econômicas foram a ina<strong>de</strong>quação da localização e da estrutura<br />
urbana das cida<strong>de</strong>s da mineração aliadas ao crescimento econômico das zonas sul, oeste, sudoeste e da<br />
mata, que com sua pujante cultura agrícola e pecuarista <strong>de</strong>ixavam para trás a <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte zona mineradora,<br />
núcleo inicial das Minas. Essa localização da capital em Ouro <strong>Pre</strong>to, <strong>de</strong>terminada pela presença das minas <strong>de</strong><br />
ouro, <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> se justificar após o esgotamento das mesmas e do conseqüente <strong>de</strong>slocamento do eixo<br />
econômico do estado, e se tornava mesmo um empecilho pelas dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comunicação com as regiões<br />
ascen<strong>de</strong>ntes. O fator financeiro facilitador do empreendimento foi o superávit do caixa do governo estadual<br />
<strong>de</strong>vido ao bom <strong>de</strong>sempenho da cultura cafeeira no período imediatamente anterior à mudança. Afonso<br />
Arinos situa a Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Minas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse contexto como o arauto <strong>de</strong> nova era:<br />
Características Históricas<br />
“Minas Gerais fechava o século XIX, que representara para a província uma era mais <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>cadência que <strong>de</strong> prosperida<strong>de</strong>, com um admirável esforço, uma verda<strong>de</strong>ira batalha em<br />
que o i<strong>de</strong>al republicano, posto a serviço <strong>de</strong> novos interesses econômicos, se afirmava vitoriosamente<br />
no plano técnico e administrativo. A criação <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>, encerramento<br />
do século passado, romântico e oratório, marca a presença <strong>de</strong> uma nova mentalida<strong>de</strong> política,<br />
mais <strong>de</strong> acordo com a nova era técnica característica do século XX.<br />
Foi uma espécie <strong>de</strong> novo ban<strong>de</strong>irismo, o impulso que então dominou o governo<br />
mineiro e as camadas mais influentes da opinião popular. Ban<strong>de</strong>irismo nada primitivo,<br />
mas racionalista, científico, cujos capitães <strong>de</strong> tropa eram jovens ou já famosos engenheiros,<br />
higienistas, construtores, calculistas, <strong>de</strong>senhistas, técnicos <strong>de</strong> todo gênero. As<br />
fotografias daquele tempo tomadas na cida<strong>de</strong> em construção, mostram-nos homens graves,<br />
<strong>de</strong> bigo<strong>de</strong>, fraque e chapéu duro, pisando com as botas empoeiradas o carrascal daquele<br />
sertão. Eles não a<strong>de</strong>riram à natureza, não se plasmaram <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la como seus avós, os<br />
ban<strong>de</strong>irantes setecentistas que, por falta <strong>de</strong> instrumentos materiais, só venciam submetendo-se<br />
ao meio natural, conquistando ardilosamente a vida precária como os índios ou como<br />
os brutos. Os novos ban<strong>de</strong>irantes, ao revés, dominavam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo a natureza pelo trabalho<br />
e pela máquina. <strong>Anu</strong>lavam as distâncias construindo meios <strong>de</strong> transporte <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />
capacida<strong>de</strong>. Evitavam as doenças pondo em prática recursos médicos e higiênicos mo<strong>de</strong>rnos.<br />
Não temiam a penúria, pois traziam <strong>de</strong> longe os seus abastecimentos. A gente mineira<br />
mostrava possuir um espírito viril <strong>de</strong> luta e <strong>de</strong> confiança no futuro. Era uma espécie <strong>de</strong><br />
i<strong>de</strong>alismo prático, servido pela energia técnica”. 3<br />
1.3<br />
2<br />
FRANCO, Afonso Arinos <strong>de</strong> Melo. Um estadista da República. 2.ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Aguilar; MEC, 1976, p. 258 e seguintes.<br />
3<br />
ibid., p. 262-263.