Anu-Pre e secao1 - Prefeitura Municipal de Belo Horizonte
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do futuro próximo. As antigas periferias, múltiplas e diferenciadas, ten<strong>de</strong>m cada vez mais a constituírem<br />
novas centralida<strong>de</strong>s sócio-espaciais, com i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s e autonomias relativas, à medida que o tecio urbanoindustrial<br />
se equipa para receber as ativida<strong>de</strong>s econômicas em franco processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização. A extensão<br />
das condições <strong>de</strong> produção ao espaço micro-regional e as novas oportunida<strong>de</strong>s tecnológicas <strong>de</strong> comunicação<br />
e transportes ampliam e diversificam a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> lugares centrais, superpondo centralida<strong>de</strong>s, periferias<br />
e áreas <strong>de</strong> mercado, complementares e/ou competitivas, criando novos nexos <strong>de</strong> articulação inter-escalares,<br />
do nível local ao mundial.<br />
Entretanto, a centralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>, historicamente exacerbada no próprio município,<br />
fica ainda mais marcada quando consi<strong>de</strong>ramos o espaço micro-regional que a capital do estado polariza. As<br />
novas relações centro-periferia, já evi<strong>de</strong>ntes na transformação funcional no interior do município, se agudizam<br />
quando pensamos no processo extensivo <strong>de</strong> urbanização. Por outro lado, a centralida<strong>de</strong> funcional não mais<br />
se coaduna com a estrutura urbanística do espaço construído na cida<strong>de</strong>la e suas extensões, diante <strong>de</strong> um<br />
espaço hiper-a<strong>de</strong>nsado e subordinado à lógica do transporte, se mostra incapaz <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r às <strong>de</strong>mandas<br />
que a gran<strong>de</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong> vem crescentemente colocando.<br />
O espaço urbano-industrial <strong>de</strong> Contagem, Betim ou, e hoje cada vez mais, Santa Luzia, <strong>de</strong>finiria<br />
centralida<strong>de</strong>s articuladoras, locais e metropolitanas, não fora a completa hegemonia da(s) cida<strong>de</strong>la(s) da<br />
capital estadual sobre sua região imediata <strong>de</strong> influência. Entretanto, a multiplicida<strong>de</strong> virtual <strong>de</strong> centralida<strong>de</strong>s<br />
– e assim, <strong>de</strong> periferias – parece ser tendência inelutável, à medida que se expan<strong>de</strong> o tecido urbano. O<br />
espaço <strong>de</strong> pontos, isto é, o não-espaço, como <strong>de</strong>nomina Milton Santos o espaço da globalização e da integração<br />
mundial mercantil e financeira (e linguística, diria Santos), se organiza também na fragmentação e pulverização<br />
da organicida<strong>de</strong> regional e nacional 10 . Restaria a unicida<strong>de</strong> local, se possível fosse.<br />
Entretanto, como se manifesta o espaço mundial em <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>? O que inclui e o que<br />
exclui, entre lugares, ativida<strong>de</strong>s, populações? Certamente inclui os aeroportos, a gran<strong>de</strong>s fábricas<br />
multinacionais, o centro nacional <strong>de</strong> moda, a universida<strong>de</strong>; enfim uma coletânea <strong>de</strong> pontos não mais situados<br />
na cida<strong>de</strong>la, mas dispersos pelo espaço urbano, municipal e metropolitano. O espaço <strong>de</strong> pontos se<br />
articula diversa e fragmentariamente na <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong> expandida e não há como recriar o isolamento da<br />
cida<strong>de</strong>. Pelo contrário, a área urbana toma conta da lógica sócio-espacial e estilhaça a antiga unida<strong>de</strong><br />
urbana em mil fragmentos, real e virtualmente integrados. A espacialida<strong>de</strong> dos processos urbanos (e industriais,<br />
hoje àqueles subjacentes) se esten<strong>de</strong> e amplia sua integração e capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comando. Qual a<br />
espacialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma greve na Fiat? Qual a espacialida<strong>de</strong> das lutas populares envolvendo as condições <strong>de</strong><br />
vida e reprodução dos trabalhadores articulados ao espaço geo-econômico da Fiat?<br />
Por outro lado, novas e antigas centralida<strong>de</strong>s locais já se tornaram metropolitanas, em <strong>Belo</strong><br />
<strong>Horizonte</strong>. A Savassi, nova velha centralida<strong>de</strong> das elites belohorizontinas dos anos 70, é hoje ponto <strong>de</strong><br />
encontro da juventu<strong>de</strong> da periferia metropolitana nos fins <strong>de</strong> semana. Por outro lado, Macacos em Nova<br />
Lima, Lagoa Santa, Moeda e tantos outros espaços em municípios próximos são lugares <strong>de</strong> refúgio e lazer da<br />
classe média belohorizontina e, cada vez mais, alternativa habitacional para profissionais autônomos, jovens<br />
empresários, entre outros grupos médios para não mecnionar os muitos trabalhadores e estudantes que<br />
se <strong>de</strong>slocam pendularmente para a capital.<br />
A multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nexos sócio-espaciais que assim se constituem exigem visões mais<br />
totalizantes e integradoras do que as meras políticas setoriais e/ou locais e municipais. Se os níveis mais<br />
altos da gestão pública se mostram comprometidos apenas, ou pelo menos primordialmente, com a integração<br />
capitalista mundial, cabe ao po<strong>de</strong>r local – e aos seus possíveis múltiplos parceiros - promover e <strong>de</strong>senvolver,<br />
no espaço do quotidiano, esses nexos também econômicos e territoriais, referenciados ao urbano, ao espaço<br />
da reproduçâo, da cooperação e da solidarieda<strong>de</strong> que sempre marcaram a cida<strong>de</strong>. Há que (re)pensar a cida<strong>de</strong><br />
em sua totalida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ntro e fora da(s) cida<strong>de</strong>la(s), para além do município, para além do a<strong>de</strong>nsamento do<br />
espaço urbanizado, dando-lhe as muitas dimensões que se insinuam no urbano contemporâneo, não apenas<br />
no espaço gerado pelos fluxos e articulações do capital globalizado mas também, e principalmente, no<br />
espaço social da vida quotidiana.<br />
10<br />
Para SANTOS (2000, p.16) tais espaços, criados pela “universalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um único sistema técnico” e <strong>de</strong> sua língua universalizante e hegemônica, “são<br />
espaços <strong>de</strong> organização, e não espaços orgânicos.” Mas, já se diz vulgarmente, inglês não é mais uma língua, é instrumento <strong>de</strong> trabalho.