Felicidade-genuína-B.-Alan-Wallace
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um capítulo anterior, coloquei a seguinte questão: como podemos sentir o que<br />
outras pessoas estão sentindo? É um processo racional de ler e interpretar a<br />
linguagem corporal, comparar com a nossa própria experiência e então fazer<br />
uma sobreposição? Não parece ser assim. Parece ser de maneira direta. A<br />
intuição pode ser errada, mas isso não exclui a possibilidade de que seja um outro<br />
modo de conhecimento.<br />
Por exemplo, como um americano nativo ouve uma planta falar? Ou como<br />
um budista tibetano ouve o Buda da Medicina dizendo como tratar determinada<br />
doença durante a meditação? Esse é um tipo de percepção mental, quer venha<br />
por meio dos sentidos físicos, quer venha do domínio mental das experiências.<br />
Como mencionado anteriormente, a percepção mental é o único dos nossos seis<br />
modos de percepção que pode ser aperfeiçoado com a prática. Entre eles, é o<br />
único modo que podemos melhorar conforme envelhecemos, enquanto os outros<br />
sentidos enfraquecem. Para fazermos isso, precisamos cultivar uma quietude<br />
interior e uma receptividade clara ao que nos está sendo apresentado a cada<br />
momento. E, para alcançarmos isso, temos que reduzir o hábito de nos fixarmos.<br />
“Fixação” é um termo frequentemente ouvido em todas as escolas do<br />
budismo. Por um lado, temos o modo como a realidade é apresentada aos nossos<br />
sentidos. Algumas coisas que a realidade nos oferece são dolorosas e<br />
perturbadoras. Outras são prazerosas ou neutras. Mas a maioria de nós não está<br />
simplesmente fluindo com as aparências que surgem. Em vez disso, estamos<br />
ativamente interpretando-as. Algumas coisas nos irritam. Quando queremos ficar<br />
em silêncio, a realidade se torna barulhenta. Essa interpretação e preferência são<br />
chamadas de “fixação”. Quando isso acontece, um som não é apenas um som.<br />
Se a sua meditação é perturbada por um som, não é o som que está causando a<br />
perturbação, mas sim a fixação ao fluxo das aparências. A fixação<br />
frequentemente implica aversão ou atração. Queremos nos livrar de algo ou<br />
queremos que fique como está ou se torne mais forte. Tudo isso é fixação – ir<br />
além das aparências daquilo que se imagina ser a fonte dos fenômenos.<br />
Um modo delusório e mais grosseiro de fixação objetifica as coisas,<br />
imbuindo-as de uma existência mais independente e tangível do que realmente<br />
têm. Nada existe de modo independente. Todos os fenômenos condicionados<br />
estão surgindo a cada momento como eventos dependentemente relacionados.<br />
Portanto, a fixação às coisas nos coloca em desacordo com a realidade.Ela<br />
também nos sujeita a inúmeras aflições mentais de anseio, hostilidade, inveja,<br />
orgulho e assim por diante. É aí que a fixação, sob a forma de delusão, nos<br />
mostra o quanto ela pode ser prejudicial. Quando estava aprendendo a andar de<br />
motocicleta, o meu instrutor disse na aula: em qualquer colisão entre você e<br />
qualquer outra pessoa ou outra coisa, você perde. Da mesma forma, em<br />
qualquer colisão entre nós e a realidade, nós perdemos. A realidade nunca perde.<br />
A realidade não sofre. Nós é que sofremos. Há três formas comuns pelas quais