Felicidade-genuína-B.-Alan-Wallace
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A tradição budista reconhece três níveis de compaixão:<br />
1. compaixão por aqueles que experimentam sofrimento e dor;<br />
2. compaixão por aqueles presos em preocupações mundanas na busca pela<br />
felicidade;<br />
3. compaixão por aqueles fixados a uma falsa sensação de “eu” e “meu”.<br />
Um ponto que todos nós temos em comum é a experiência de dor e<br />
sofrimento, e reconhecer isso pode nos aproximar, nos levar a preocuparmo-nos<br />
com as dificuldades dos outros como fazemos com as nossas próprias. O Dalai<br />
Lama comenta:<br />
Da mesma forma que a dor física nos une em torno da noção de<br />
termos um corpo, podemos conceber que a experiência geral do<br />
sofrimento funciona como uma força unificadora que nos conecta<br />
uns com os outros. Talvez seja esse o sentido último por trás do<br />
nosso sofrimento. O nosso sofrimento é o elemento mais básico<br />
que compartilhamos com os outros, o fator que nos une a todas as<br />
criaturas vivas.[36]<br />
A noção de que há algo que unifica todos os seres é um tema presente em<br />
todas as grandes tradições espirituais do mundo. Shantideva expressa isso por<br />
meio de uma metáfora de um corpo composto por todos os seres:<br />
Embora tenha muitas divisões, como braços e assim por diante, o<br />
corpo é protegido como um todo. Da mesma forma, os diferentes<br />
seres, com as suas alegrias e tristezas, são todos iguais, como eu<br />
próprio, em seus anseios de felicidade.[37]<br />
No entanto, é muito difícil abrir o nosso coração para o sofrimento dos outros,<br />
pois podemos facilmente nos sentir oprimidos e desamparados, especialmente<br />
com a exposição ao sofrimento do mundo proporcionada pela mídia. Mas<br />
Shantideva lutou com esse mesmo problema há mais de um milênio e chegou a<br />
essa conclusão:<br />
Devo eliminar o sofrimento dos outros, assim como o meu<br />
próprio, porque é sofrimento. Eu deveria cuidar dos outros<br />
porque são seres sencientes, assim como eu.[38]<br />
Como não existe um dono dos sofrimentos, não há distinções<br />
entre todos eles. Eles devem ser dissipados, porque estão<br />
causando dor. Nesse caso, para que servem as restrições?[39]<br />
Um segundo nível de compaixão surge com pessoas que podem não estar<br />
sofrendo neste momento, mas que, por delusão, estão levando suas vidas de uma<br />
forma que não poderá resultar em verdadeira felicidade, que só levará a mais<br />
insatisfação, tristeza e medo. Essas são as pessoas que ainda acreditam que a