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Felicidade-genuína-B.-Alan-Wallace

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pequenas listras em asas ou tentando escutar um canto de pássaro. Um chef<br />

trabalhando em seu fogão também observa de perto. Todos nós já tivemos<br />

vislumbres desses modos de atenção. Alguns de nós, por vocação, podem ter<br />

desenvolvido considerável habilidade para isso. O Buda sumarizou esse ideal:<br />

No que é visto, existe apenas o que é visto; no que é ouvido,<br />

existe apenas o que é ouvido; no que é sentido, existe apenas o<br />

que é sentido; no que é mentalmente percebido, existe apenas o<br />

que é mentalmente percebido.[15]<br />

Em outras palavras, basta apanhar o que é apresentado e não confundi-lo<br />

com as suas projeções. Não misture com “eu gosto, eu não gosto, estou<br />

desapontado, estou eufórico”, todas essas intermináveis associações compulsivas.<br />

Atravesse tudo isso. O que é visto apenas veja; o que é ouvido apenas ouça; ao<br />

escanear o corpo, apenas sinta; o que é percebido no sexto domínio de<br />

experiência, o domínio mental, apenas observe. Há momentos em que o<br />

pensamento, a imaginação, a análise e a memória são extremamente úteis. De<br />

fato, é uma parte importante de algumas meditações budistas. Mas não é útil<br />

quando o pensamento se torna compulsivo.<br />

O Buda nos ofereceu alternativas, práticas pertinentes à vida cotidiana. E elas<br />

não servem apenas para fugirmos rumo ao deserto e sentarmos sozinho em uma<br />

almofada, mas sim para termos uma vida ativa com a família, amigos e colegas<br />

– para estarmos no mundo. Essas práticas são especialmente valiosas para se<br />

engajar com os outros. A menos que já tenha passado por uma intensa<br />

purificação, é provável que, ao encontrar alguém desagradável, você fique<br />

chateado ou irritado. A mente parte de um estado de relativa calma, mas então<br />

algo nos deixa perturbados. Aquilo que perturba o equilíbrio interior da mente é<br />

chamado em sânscrito de klesha, uma aflição mental. Seria bom se pudéssemos<br />

simplesmente escolher nunca sermos perturbados por tais aflições, mas não<br />

temos a liberdade de suspender imediatamente a obsessão, o ciúme e a raiva.<br />

Entretanto, se estamos atentos a uma aflição no instante em que ela surge, não<br />

nos fundimos a ela. Podemos vê-la e identificá-la, e temos uma escolha, a<br />

possibilidade de responder de um modo não compulsivo. Na ausência de atenção<br />

plena, ficamos sem sorte e sem escolhas. Essas compulsões são os mesmos<br />

hábitos que nos levaram a confusão, angústia e ansiedade – sulcos na estrada que<br />

se tornam cada vez mais profundos.<br />

Um sistema filosófico budista especialmente compatível com as quatro<br />

aplicações da atenção plena é chamado de “visão Sautrantika”, uma das quatro<br />

escolas filosóficas no budismo indo-tibetano. Segundo a tradição tibetana, ela não<br />

é a posição definitiva dentro do budismo, mas, para a filosofia budista, ela é o que<br />

é a mecânica newtoniana para a física. Trata-se do primeiro sistema filosófico<br />

estudado em muitas das universidades monásticas do Tibete. Quando me tornei

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