Felicidade-genuína-B.-Alan-Wallace
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Os lamas da ordem Nyingmapa veem o Dzogchen como o pináculo da teoria<br />
e da prática budista, e declaram que ele é especialmente relevante e eficaz em<br />
tempos de degenerescência moral como a era atual. Portanto, há um paradoxo<br />
intrigante aqui: o Dzogchen é apresentado como a mais sutil e profunda de todas<br />
as teorias e práticas budistas, mas também se diz que é adequado principalmente<br />
para pessoas cujas mentes são grosseiras e não refinadas.<br />
Muitos ensinamentos budistas que apresentam a abordagem de<br />
desenvolvimento enfatizam a importância da árdua purificação e transformação<br />
da mente, sobre a qual pesam as aflições e os obscurecimentos. Essa perspectiva<br />
vê a natureza búdica como a nossa capacidade de atingir a iluminação, mas<br />
adverte que, a menos que nos apliquemos diligentemente à prática disciplinada<br />
por um tempo muito longo, essa capacidade permanecerá sendo apenas uma<br />
promessa. A partir dessa perspectiva, o caminho para a iluminação parece longo<br />
e árduo. Por outro lado, de acordo com a abordagem de descoberta ensinada no<br />
Dzogchen, a nossa natureza búdica é a natureza essencial de nossa mente. É<br />
primordialmente pura e repleta de todas as qualidades de um buda neste<br />
momento. Tudo o que temos a fazer é remover os véus. E a maneira de fazer<br />
isso não é desenvolvendo virtudes e combatendo os vícios assiduamente, mas sim<br />
deixando que a consciência repouse em seu próprio estado natural sem esforço.<br />
Desse modo, as qualidades da iluminação surgem espontaneamente. Há até<br />
mesmo um texto clássico sobre Dzogchen, do mestre do século XIX Düdjom<br />
Lingpa, chamado “Buddhahood without meditation” [“O estado de buda sem<br />
meditação”]. Isso soa maravilhosamente bem, quase bom demais para ser<br />
verdade. Mas muitas pessoas no Ocidente estão migrando para esses<br />
ensinamentos e retiros de meditação reagindo a essa abordagem com uma<br />
sensação de alívio, em contraste ao desânimo que sentem quando encaram as<br />
árduas disciplinas ensinadas em muitas tradições contemplativas, incluindo o<br />
budismo. No entanto, ainda que os ensinamentos da Grande Perfeição sejam<br />
muito atraentes para pessoas aprisionadas na correria do mundo moderno e que<br />
simplesmente não conseguem encontrar tempo para meditar, eles não fornecem<br />
uma solução rápida para atingir a iluminação.<br />
O grande perigo é que o Dzogchen seja, assim como o Zen e o Vipassana,<br />
tirado de seu contexto para ser aplicado ao mundo moderno. Os ensinamentos do<br />
Zen, únicos e ricos, podem ser tomados de forma simplista e reduzidos a “apenas<br />
sentar”, e as práticas profundas do Buda ensinadas nas quatro aplicações da<br />
atenção plena podem também ser reduzidas a apenas estar plenamente atento.<br />
Da mesma forma, a teoria, a meditação, e o modo de vida ensinados no<br />
Dzogchen podem ser simplificados e reduzidos a apenas estar presente e ser<br />
espontâneo, sem rejeitar nada e sem praticar nada.<br />
Quando os ensinamentos da Grande Perfeição são estudados a fundo, fica<br />
claro que esse caminho não é simplesmente uma descoberta passiva de sua