Felicidade-genuína-B.-Alan-Wallace
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desenvolva uma apreciação mais profunda pela simplicidade dessa prática –<br />
uma simplicidade que de forma alguma é fácil de se dominar. A tradição<br />
Theravada, que enfatiza os fundamentos do Darma budista, visa à libertação<br />
individual (pratimoksha). Essa é a busca do nirvana, a busca pela liberação do<br />
samsara – do sofrimento e das causas do sofrimento. O tema geral que atravessa<br />
esses ensinamentos e práticas fundamentais é reconhecer as aflições ou<br />
distorções da mente: apego, hostilidade, delusão e assim por diante. À medida<br />
que essas aflições surgem, você as reconhece e aprende a neutralizá-las. Você<br />
mesmo irá se curar, aplicando os antídotos. É uma abordagem profundamente<br />
sensata.<br />
Um relato muito inspirador do Buda e de muitos outros praticantes<br />
contemplativos que vieram depois dele é de que a mente não é irreversivelmente<br />
propensa a essas aflições mentais. Ela pode ser curada de forma permanente. O<br />
foco é a própria existência, um ponto de partida razoável, e a prática requer<br />
muito esforço. Nesses primeiros ensinamentos do Buda, muitas vezes se<br />
encontram exortações para se esforçar com afinco, para resistir quando está<br />
prestes a se render à raiva, à agressão ou a qualquer tipo de comportamento não<br />
virtuoso, seja de corpo, fala ou mente. A prática envolve elaborações conceituais<br />
(prapañcha), ou seja, há muito a ser compreendido e a ser feito em termos de<br />
purificação e transformação da mente.<br />
Uma segunda escola do budismo é conhecida como Mahayana, o Grande<br />
Veículo. Aqui, a motivação para a prática espiritual não é apenas a libertação<br />
pessoal, mas a liberação de todos os seres sencientes. E o objetivo não é<br />
simplesmente a liberação do sofrimento e de suas causas internas – as aflições<br />
mentais –, mas a eliminação de todas as obscuridades mentais, para que a nossa<br />
capacidade plena de sabedoria, compaixão e poder da consciência possa se<br />
manifestar. Esse caminho não nega a busca pela liberação individual, mas a<br />
amplia e inclui todos os seres. Todos os aspectos de nossa existência, desde que<br />
fomos concebidos (sem contar a questão de nossas encarnações anteriores),<br />
ocorrem na dependência de outros – da bondade de nossos pais, professores,<br />
amigos da escola e todos ao nosso redor. Geshe Rabten compartilhou a sua<br />
própria experiência comigo, há muitos anos:<br />
Ao refletir sobre o desenvolvimento do espírito do despertar, em<br />
que a preocupação consigo mesmo é transformada em<br />
preocupação com os outros, percebi que somos dependentes da<br />
bondade dos outros para todas as nossas atividades e em todos os<br />
estágios de desenvolvimento espiritual, como uma criança que<br />
precisa contar com os outros para todas as suas necessidades. Se<br />
não podemos contar com os outros seres, não temos poder<br />
algum.[59]