Felicidade-genuína-B.-Alan-Wallace
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enfatizadas na tradição budista tibetana. Então, qual é a relação entre elas? É dito<br />
por muitos dos grandes praticantes, incluindo o atual Dalai Lama, que, a fim de<br />
penetrar rigpa, você deve realizar a vacuidade. O que isso significa?<br />
Segundo os ensinamentos do Madhy amaka – ou Caminho do Meio – sobre a<br />
vacuidade, ensinamentos que são fundamentais e completamente compatíveis<br />
com o Dzogchen, o mundo em que vivemos, aqui e agora, é semelhante a um<br />
sonho. Mas a noção de que os fenômenos que vivenciamos no estado de vigília<br />
não têm uma existência mais real, objetiva e inerente do que a de um sonho<br />
parece ser contrária à nossa experiência. Na verdade, os mestres Madhyamaka<br />
dizem que há uma profunda incongruência ou incompatibilidade entre a maneira<br />
como os fenômenos parecem ser para nós e a forma como eles são. Se você<br />
estivesse em uma mesa de restaurante comendo com os amigos e observasse a<br />
pessoa ao seu lado, ela pareceria ter uma existência objetiva, independentemente<br />
da sua própria consciência ou da consciência de qualquer outra pessoa. Para<br />
confirmar isso, você poderia se aproximar e cutucá-la, e, para tornar isso mais<br />
“científico”, poderia pedir que as outras pessoas à mesa também a cutucassem.<br />
Com esse contato físico em primeira pessoa e com a corroboração de sua<br />
própria experiência por uma terceira pessoa, você poderia concluir que essa<br />
pessoa é objetivamente real, independentemente das percepções ou concepções<br />
de quem quer que seja. Mas lembre-se de que você pode fazer a mesma coisa<br />
quando está sonhando. As aparências, incluindo as sensações táteis, podem ser<br />
enganosas. Assim, a filosofia budista do Caminho do Meio ensina que os<br />
fenômenos, que parecem existir independentemente, não existem desse modo.<br />
Para que passem a existir, eles devem ser conceitualmente designados. Os<br />
fenômenos que experimentamos não existem independentemente de nossos<br />
modos de percepção ou concepção – portanto, dizemos que eles são vazios de<br />
existência inerente e objetiva, como os eventos em um sonho.<br />
Essa realização pode ser caracterizada como “estar em um estado de vigília<br />
lúcido”. Para investigar a relação entre a realização da vacuidade e da<br />
consciência prístina, imagine que você esteja sonhando. Nesse sonho, você<br />
decide que as preocupações mundanas não estão trazendo a satisfação que<br />
procura, e então você decide procurar outras coisas. Você faz uma varredura na<br />
lista telefônica, verifica com os amigos e, finalmente, encontra um professor<br />
budista qualificado, digamos, um lama tibetano. Em seu sonho, você se encontra<br />
com o lama e pede orientação. Depois de lhe dar muitos dos ensinamentos<br />
básicos do budismo, o lama sente que chegou o momento de lhe dar instruções<br />
sobre a meditação da vacuidade. Explicando que nada existe de forma inerente,<br />
independente da designação conceitual, ele revela a você a natureza de sonho de<br />
todos os fenômenos. Ao investigar a natureza dos fenômenos por si mesmos,<br />
quanto mais você examina a natureza de sua própria identidade, de sua mente e<br />
de tudo ao seu redor, mais você percebe que não há natureza inerente em coisa