Felicidade-genuína-B.-Alan-Wallace
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extraordinariamente alta que não são felizes. E que, quanto a todas as outras<br />
fontes de felicidade mundana que mencionei, há pessoas que possuem algumas<br />
ou todas elas e ainda assim não alcançam a felicidade <strong>genuína</strong>. Se<br />
inspecionarmos cuidadosamente esses meios de buscar a felicidade, veremos<br />
que nenhum deles é necessário nem suficiente. Ao longo dos anos, conheci<br />
muitas pessoas que não têm segurança financeira, que têm pouca saúde e não<br />
possuem nenhuma dessas outras armadilhas da “boa vida”, e que ainda assim<br />
encontraram felicidade e significado em suas vidas.<br />
Se todas essas coisas mundanas não são necessárias nem suficientes para<br />
alcançar a felicidade, o que resta então? O que seria necessário e suficiente? A<br />
resposta budista é o Darma, que pode ser definido como uma forma de ver a<br />
realidade e de levar a vida que resulta em felicidade <strong>genuína</strong>. Isso significa que<br />
nenhuma preocupação mundana vale a pena e que tudo o que não seja cultivar a<br />
sabedoria e a compaixão é irrelevante? Se estivermos buscando a felicidade de<br />
formas que não estejam relacionadas à virtude, à felicidade <strong>genuína</strong> e à<br />
compreensão, eu responderia que sim. Mesmo quando nos voltamos à prática<br />
espiritual, isso também pode ser usado na busca por preocupações mundanas.<br />
Podemos meditar, por exemplo, simplesmente pela sensação imediata de<br />
relaxamento, paz interior e felicidade que a meditação pode trazer. Dessa forma,<br />
a meditação serve como pouco mais do que um substituto para a coleção de<br />
drogas que a indústria farmacêutica criou para alterar quimicamente o cérebro.<br />
Também podemos nos colocar a serviço dos outros para receber elogios, amor e<br />
respeito, o que significa que estamos buscando satisfazer preocupações<br />
mundanas com um fino verniz de Darma. Durante a primavera e o verão de<br />
1980, eu morava sozinho nas montanhas acima de Dharamsala, Índia, próximo a<br />
uma pequena comunidade de iogues tibetanos. Foi quando conheci Gen<br />
Lamrimpa, que havia meditado em solidão por cerca de 20 anos na época. Ele<br />
me disse que mesmo reclusos experientes podem cair na armadilha de tentar<br />
impressionar seus benfeitores mostrando o quanto são austeros e puros como<br />
meditadores. Esse desejo de conquistar a admiração dos outros, ele disse, é uma<br />
das preocupações mundanas mais persistentes.<br />
Alguns lamas tibetanos chegam ao ponto de declarar que, se algum aspecto<br />
de sua prática espiritual for maculado por preocupações mundanas, você está<br />
perdendo seu tempo. Mas é importante não se sentir oprimido por esse ideal. Um<br />
amigo meu, ao ouvir recentemente essa declaração, me telefonou e disse que<br />
estava se sentindo arrasado: “Sinto que toda a minha prática espiritual não vale<br />
nada, porque eu ainda gosto de cinema, eu ainda gosto de sair com mulheres e eu<br />
ainda gosto de muitos prazeres mundanos.” Mas, então, ele levou essas questões<br />
ao seu lama e a gentil resposta foi: “Mais devagar, mais devagar.”<br />
Para que servem essas coisas mundanas? Elas servem para apoiar a prática<br />
espiritual, atendendo às nossas necessidades e nos oferecendo os prazeres simples