Felicidade-genuína-B.-Alan-Wallace
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descontentamento. Com essa motivação, busca-se emergir definitivamente, de<br />
uma vez por todas, das verdadeiras causas do sofrimento e perceber a felicidade<br />
inata da consciência não contaminada pelas aflições da mente.<br />
No Ocidente, existem hoje duas tendências psicológicas principais. A mais<br />
antiga e até recentemente dominante é a psicologia negativa. Baseia-se em<br />
atacar um problema mental, como no caso de uma neurose ou psicose que tenha<br />
chamado a sua atenção. Você não iria ao psicólogo, a menos que tivesse ciência<br />
do problema – então, o terapeuta buscaria uma solução. Essa abordagem<br />
tradicional agora está sendo complementada com a psicologia positiva, que<br />
questiona: que qualidades saudáveis podemos cultivar a fim de alcançar uma<br />
saúde mental acima do normal? Como podemos acentuar o que é positivo?<br />
O budismo utiliza ambas as abordagens. Determinar a natureza da frustração,<br />
da insatisfação, da ansiedade, da irritação e de outros males pertence à primeira<br />
das quatro nobres verdades – a realidade do sofrimento. Aqui, o Buda disse:<br />
“Essa é a realidade do sofrimento. Reconheça-o!” Não se mantenha na negação,<br />
mova-se em direção à compreensão. O Buda começou a “girar a roda do<br />
Darma” com os seus ensinamentos sobre as quatro nobres verdades. Desde<br />
então, os professores budistas tradicionais muitas vezes começam a explicar o<br />
Budadarma com uma discussão sobre a realidade do sofrimento e do oceano do<br />
samsara – o ciclo de existência no qual compulsivamente renascemos sob a<br />
influência de nossas aflições mentais, especialmente da delusão. Uma vez que<br />
começamos a sondar a realidade do sofrimento, voltamo-nos para as outras<br />
nobres verdades: a origem do sofrimento, a possibilidade de sua cessação e o<br />
caminho que conduz ao fim do sofrimento. Esse é o ensinamento inicial do Buda.<br />
No entanto, muitos se perguntam se é prejudicial observar atentamente a<br />
realidade do sofrimento. Afinal, se você atentar para a realidade do sofrimento<br />
dentro de si mesmo e no mundo ao seu redor, logo isso pode parecer opressivo.<br />
Você começa a observar a si mesmo e começa a ver como a insatisfação, ou<br />
duhkha, permeia a sua vida. Mesmo quando tudo está temporariamente indo<br />
bem, é difícil escapar do fato de que isso não irá durar, e esse reconhecimento<br />
traz consigo ansiedade: “O que será de mim?” Desde o início, o budismo nos<br />
encoraja a olhar o sofrimento nos olhos, e há muito a ser dito sobre isso. Mas<br />
existe o perigo de fixação excessiva nos problemas da existência. Você quer<br />
correr o risco de levar uma vida onde o sofrimento preencha o seu mundo em<br />
razão de você observá-lo muito atentamente? Existe mais alguma coisa<br />
autenticamente budista que possa complementar essa abordagem?<br />
Existe. A realidade do sofrimento é equilibrada pela Grande Perfeição, o<br />
Dzogchen. A premissa básica da Grande Perfeição é que a nossa natureza<br />
fundamental sempre foi a perfeição primordial, a pureza e a bem-aventurança<br />
inatas que estão ali só à espera de serem descobertas. Cá está o mais simples<br />
(mas de forma alguma o mais fácil!) de todos os caminhos budistas: procure um