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Felicidade-genuína-B.-Alan-Wallace

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No contexto mais amplo da ciência e do conhecimento acadêmico, no<br />

Ocidente, nós somos propensos à visão muito restrita, preconceituosa e<br />

essencialmente não científica do potencial da mente para observações objetivas.<br />

Consideramos que os cinco sentidos externos, com as suas extensões por meio de<br />

instrumentos de tecnologia, nos fornecem informações “objetivas”, enquanto a<br />

mente, voltada para dentro, é considerada “subjetiva” demais para fornecer<br />

dados confiáveis sobre o que quer que se esteja observando. De acordo com esse<br />

ponto de vista, o empirismo – a exploração da realidade por meio da observação<br />

e da experiência (em oposição à confiança no dogmatismo ou racionalismo<br />

puro) – deve ser focado no mundo físico e não pode ser aplicado à mente, que é<br />

responsável apenas por pensar e lembrar. Mas a mente faz muito mais. Ao<br />

observar a sua mente em meditação, você não está simplesmente se lembrando<br />

de algo do passado – você está observando eventos mentais no presente. Além<br />

disso, você é capaz de dizer, a cada momento, se a sua mente está agitada ou<br />

calma, se está interessada ou entediada, feliz, triste ou indiferente. Você sabe<br />

disso por meio de observação direta, não indiretamente através de seus cinco<br />

sentidos físicos. Mas, infelizmente, na tradição ocidental moderna, tal<br />

introspecção tem sido marginalizada, limitando a exploração científica.<br />

O budismo sustenta que temos seis modos de observação, e apenas um deles,<br />

a percepção mental, possibilita acesso direto a eventos mentais. Os cientistas do<br />

cérebro podem acessá-los indiretamente, encontrando correlações neurais com<br />

estados e processos mentais, e os psicólogos comportamentais podem estudá-los<br />

indiretamente pela observação das relações entre mente e comportamento. Mas<br />

o único acesso direto aos eventos mentais se dá por meio da percepção mental.<br />

Esse é um ponto crucial, embora geralmente ignorado em nossa civilização – a<br />

percepção mental também tem validade empírica.<br />

É claro que o ideal de objetividade é central para as ciências humanas e para<br />

a ciência em geral. Aquele que falha nesse teste é considerado um cientista fraco<br />

e um estudioso fraco. Mas será que a objetividade é possível em uma área que<br />

parece ser um domínio inteiramente subjetivo: o reino privado e interno de<br />

pensamentos, lembranças, sentimentos, desejos, imagens mentais e sonhos? Isso,<br />

é claro, depende de como se define “objetivo”. Permita-me oferecer duas<br />

definições de objetividade. Uma é a objetividade como uma forma de<br />

engajamento com a realidade, buscando o entendimento, tão livre quanto<br />

possível de qualquer tendência individual. Nela, as preferências pessoais devem<br />

ser postas de lado. Contudo, uma mente aberta e uma disposição para ouvir vozes<br />

diferentes, opostas ou desconhecidas, para reconsiderar ideias e dar-lhes uma<br />

nova chance também é um modelo de objetividade. Não vejo nenhum aspecto<br />

negativo nisso. No budismo, há três critérios para se considerar um aluno como<br />

adequado, um deles sendo a objetividade: apurar o que está sendo percebido, o<br />

que é oferecido a você pela realidade, por assim dizer, sem distorcer, sobrepor

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