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Felicidade-genuína-B.-Alan-Wallace

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um crânio, impenetrável por influências externas.<br />

Quando passamos a explorar os extraordinários fenômenos da mente, não há<br />

tecnologia que nos permita acesso direto. Se quisermos refinar e ampliar a nossa<br />

exploração sobre a natureza dos fenômenos mentais, a única ferramenta<br />

disponível para nós é a percepção mental. Diferentemente dos sentidos físicos, a<br />

percepção mental pode ser extraordinariamente melhorada com treinamento. O<br />

Dalai Lama usa óculos desde criança. Não existe meditação de aperfeiçoamento<br />

ocular que possa resolver o seu problema de visão. E há outros grandes lamas<br />

que precisam de aparelhos auditivos. Eles não dizem: “Esqueça o aparelho<br />

auditivo. Vou apenas recitar o mantra da audição.” Eu não conheço nenhuma<br />

meditação que torne os olhos ou os ouvidos melhores. Eles não são facilmente<br />

modificáveis por treinamentos. A percepção mental, o único modo de<br />

observação que não pode ser melhorado por meio da tecnologia, é um tipo de<br />

percepção que pode ser enormemente aperfeiçoado por meio de treinamento.<br />

Quando investigamos o maravilhoso reino da mente, podemos perceber de<br />

imediato que alguns eventos surgem exclusivamente nesse campo de<br />

experiência. Podemos ver diretamente, não por análise ou memória, que um<br />

dado evento está acontecendo aqui e agora na mente. No reino das atividades e<br />

processos mentais, você já notou algumas experiências que parecem acontecer<br />

espontaneamente, sem serem convidadas, e que, quando chegam, não parecem<br />

ser suas? Ou você sente que é dono de tudo o que entra no seu espaço? Se for<br />

assim, eu hesitaria muito em entrar na sua casa ou em voar sobre o seu país.<br />

Nós temos um forte hábito de nos apossarmos de qualquer coisa que entra<br />

em nosso espaço mental. Quantas emoções você teve, mas que sentiu não serem<br />

suas? O que faz com que uma emoção seja sua? Elas são realmente íntimas e<br />

pessoais. Em outras ocasiões, você também pode experimentar pensamentos<br />

como se fossem um bando de pássaros voando pela sua mente, como se estivesse<br />

ouvindo secretamente uma conversa da qual não está participando. Você pode ter<br />

percebido uma imagem que simplesmente surgiu, talvez uma memória, sem<br />

qualquer impressão de que seja sua. Você apenas a experimentou. No entanto, se<br />

aparecer um desejo do tipo “eu realmente preciso mexer a minha perna”, o<br />

mais provável é que você se fixe a isso como “meu”. Quando começa a se sentir<br />

desapontado ou perturbado, ou quando começa a se sentir feliz ou animado, você<br />

provavelmente tem a sensação de possuir esse sentimento. Há alguma coisa na<br />

própria natureza dessas atividades que diga “você precisa tomar posse de mim,<br />

sou sua”, como uma criancinha dizendo “eu sou seu filho, me leve para casa”?<br />

Alguns desses eventos acenam a partir de sua própria natureza, demandando que<br />

se aproprie deles, enquanto outros são meramente visitantes casuais? Seria<br />

possível que os eventos mentais, por sua própria natureza anterior às projeções<br />

conceituais, fossem apenas fenômenos, sendo que habitualmente nos fixemos e<br />

nos identifiquemos com alguns deles, enquanto com outros não?

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