Felicidade-genuína-B.-Alan-Wallace
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os componentes materiais do corpo se dissolvem em energia pura da consciência<br />
primordial, mas, nesses casos, a transmutação alquímica não foi completa.<br />
Penor Rinpoche, antigo chefe da ordem Ny ingma, a quem traduzi em junho<br />
de 2000 em Los Angeles, afirmou naquela época (ele tinha então 60 anos) que<br />
sabia pessoalmente de seis casos de contemplativos tibetanos que haviam atingido<br />
completamente o corpo do arco-íris. Isso ocorre quando uma pessoa passa pelo<br />
processo da morte, entra na clara luz da morte, libera a experiência e, ao fazer<br />
isso, o corpo simplesmente desaparece, restando geralmente apenas as partes<br />
que não estão mais vivas: os cabelos e as unhas. Esse processo implica uma<br />
profunda transmutação e extinção dos componentes materiais do corpo. Assim,<br />
de acordo com relatos tibetanos, manifestar o corpo de arco-íris é um evento<br />
raro – que no passado recente ocorreu cerca de uma vez a cada década –, o que<br />
é notável, considerando que, ao longo dos últimos 50 anos, a civilização tibetana<br />
tem sofrido um genocídio de grande escala nas mãos dos comunistas chineses,<br />
que também destruíram praticamente todos os monastérios tibetanos e centros de<br />
retiro contemplativos.<br />
David Steindl-Rast, monge beneditino, ficou curioso a respeito do corpo de<br />
arco-íris depois de ouvir relatos sobre vários mestres tibetanos, conhecidos por<br />
sua sabedoria e compaixão, que tinham mostrado sinais dessa realização no<br />
processo de morte. Segundo os relatos, arco-íris surgiram repentinamente no céu<br />
na ocasião da morte desses mestres e depois de vários dias seus corpos<br />
desapareceram. Em alguns casos, restaram unhas e cabelos. Em outros casos,<br />
nada restou. Isso o fez refletir sobre a ressurreição de Jesus Cristo, ponto central<br />
de sua própria fé. Ele comentou: “Se pudermos demonstrar como um fato<br />
antropológico que o que está descrito na ressurreição de Jesus não apenas<br />
ocorreu com outros, mas ainda está acontecendo nos dias de hoje, a nossa visão<br />
do potencial humano será colocada sob uma luz completamente diferente.”[63]<br />
O padre Steindl-Rast entrou em contato com o padre Francisco Tiso, um<br />
sacerdote católico romano ordenado que havia estudado a língua e a cultura<br />
tibetana, pedindo-lhe para investigar o assunto. O padre Tiso foi aluno de Khenpo<br />
Achö, um monge Gelukpa que viveu no leste do Tibete e cujo corpo desapareceu<br />
depois de sua morte em 1998. Ele conseguiu localizar a aldeia no Tibete onde<br />
Khenpo Achö havia morrido e conduziu entrevistas gravadas com testemunhas<br />
oculares da morte de Khempo Achö. O padre Tiso relatou: “Todos os<br />
entrevistados mencionaram a fidelidade a seus votos, a sua pureza de vida e que<br />
ele muitas vezes falou da importância de se cultivar a compaixão. Ele tinha a<br />
capacidade de ensinar, mesmo às pessoas mais brutas e mais violentas, como ser<br />
um pouco mais suave, um pouco mais consciente. Estar na presença desse<br />
homem transformava as pessoas.”[64]<br />
De acordo com as testemunhas oculares que ele entrevistou, quando Khenpo<br />
Achö estava morrendo, a sua respiração parou e a sua carne se tornou um pouco