Felicidade-genuína-B.-Alan-Wallace
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Dzogchen é a joia da coroa de todos os níveis e modalidades de prática budista.<br />
Por muitos séculos, o Dzogchen foi ensinado apenas para as pessoas que haviam<br />
recebido uma série de iniciações e que já haviam concluído extensas práticas<br />
preliminares. De maneira geral, esse ainda é um bom conselho. Ao mesmo<br />
tempo, também é verdade que a tradição Ny ingma preservou uma série de<br />
profecias que supostamente se relacionam com a nossa era, após o Tibete ter<br />
sido subjugado e a liberdade de preservar a sua herança espiritual ter sido negada<br />
aos tibetanos. Foi profetizado que haveria um florescimento do budismo fora do<br />
Tibete. Isso está começando a acontecer. A nossa época é considerada uma era<br />
de degenerescência em vários aspectos, o que é óbvio para muitos de nós.<br />
Paradoxalmente, a previsão era de que nesta era degenerada o Dzogchen iria<br />
florescer. Poderia se pensar que em eras degeneradas, em que as pessoas são<br />
brutas, materialistas e cheias de agressividade e egoísmo, o Dzogchen seria sutil<br />
demais para ser praticado. Mas, ao contrário, as profecias dizem que agora o<br />
Dzogchen está maduro.<br />
Mais e mais professores, incluindo muitos mestres tradicionais, como os<br />
meus reverenciados lamas Gy atrul Rinpoche e Sua Santidade o Dalai Lama,<br />
estão tornando esses ensinamentos disponíveis para o público e não apenas para<br />
aqueles que foram iniciados no Vajray ana. O Dzogchen está sendo apresentado<br />
para as pessoas que nem sequer são praticantes budistas. Assim, o Dzogchen é<br />
algo que parece muito contemporâneo, embora se mantenha absolutamente<br />
primordial.<br />
Um dos aspectos mais interessantes e promissores da teoria e da prática do<br />
Dzogchen é a ideia de que, quando se libera a mente, soltando as fixações, as<br />
qualidades inatas do próprio Buda surgem à superfície. Costuma-se dizer na<br />
literatura Dzogchen que, se você realizar rigpa, nenhuma outra prática precisará<br />
ser feita para cultivar bodicita. A grande compaixão, bondade e empatia – todas<br />
essas virtudes surgirão espontaneamente de sua própria consciência primordial.<br />
Essas qualidades da consciência emergem naturalmente quando simplesmente<br />
paramos de impedir, constringir e estrangular a consciência – se apenas não<br />
fazemos e fazemos o não fazer luminosamente. Se não fazemos em um estado<br />
de luminosidade, a mente se desembaraça, e surge uma fonte de alegria e de<br />
todas as qualidades da iluminação.<br />
Gy atrul Rinpoche repreendeu seus alunos diversas vezes enquanto dava<br />
ensinamentos Dzogchen, dizendo: “Vocês sabem por que não realizaram as suas<br />
aspirações espirituais? Porque vocês não acreditam em si mesmos. Não que não<br />
acreditem no budismo ou na tradição Ny ingma, mas porque vocês não<br />
acreditam em si mesmos.” E assim é. O desafio diante de nós é primordial:<br />
descobrir quem realmente somos, conhecer a nós mesmos. Isso nos libertará.