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Felicidade-genuína-B.-Alan-Wallace

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está intrinsecamente sob o controle de um ego autônomo, um eu, um mestre, um<br />

homúnculo ou um “senhor da mente”. Quando se inspeciona com cuidado,<br />

mesmo emoções, pensamentos e desejos que você realmente sente como se<br />

fossem seus, e sobre os quais você sente ter algum controle, acabam se<br />

mostrando como não o sendo. Quando se verifica atentamente, vê-se que a<br />

aparência de haver uma posse intrínseca é enganosa. Essa sensação de que<br />

emoções e pensamentos são seus, e até mesmo a sensação de “eu realmente<br />

estou no controle deste corpo”, é falsa.<br />

A possibilidade de alguém controlar sua própria mente quando de fato não<br />

existe um “eu” autônomo é um paradoxo intrigante no budismo e um de seus<br />

temas centrais. Há um provérbio budista que diz: “Para aquele que dominou a<br />

sua mente, existe felicidade; para aquele que não, não existe a felicidade.” E o<br />

Dalai Lama frequentemente comenta: “Você é o seu próprio mestre.” Seja o<br />

mestre de sua própria mente. Você tem uma mente que é maleável, e pode usála<br />

para o seu próprio benefício e de outros. Mas uma mente que está fora de<br />

controle, obsessiva, distorcida, embotada ou desequilibrada dá origem ao<br />

sofrimento.<br />

Nessa aplicação cuidadosa da atenção plena às atividades mentais, estamos<br />

trazendo inteligência à nossa observação. Lembre-se de que, quando praticamos<br />

quiescência meditativa, apenas observamos calmamente tudo o que surgia e<br />

desaparecia sem intervenção, julgamento ou reação, sem identificação. Tudo<br />

era doce e simples. Mas, aqui, temos que dar um passo adiante e investigar a<br />

natureza da nossa existência, porque infelizmente a ignorância que repousa na<br />

raiz do sofrimento e das aflições mentais não é apenas uma ignorância por<br />

desconhecimento ou por não se ter ciência. Se fosse esse o caso, o antídoto seria<br />

o conhecimento e, tendo-se conhecimento, tudo estaria resolvido.<br />

A ignorância que influencia a forma como nos comportamos e nos<br />

engajamos com o mundo é ativa. Nós ativamente damos um sentido falso e<br />

distorcemos a nossa experiência do mundo tanto interna quanto externamente.<br />

Isso é claramente verdadeiro quanto ao nosso engajamento com outras pessoas.<br />

Muitas vezes, percebemos que as nossas avaliações não correspondem à<br />

realidade e agimos com base no que acreditamos ser verdadeiro, o que leva a<br />

conflitos e sofrimentos desnecessários. Contudo, o antídoto não é apenas a<br />

simples atenção. O antídoto é a atenção plena discriminativa e inteligente. É<br />

reconhecer o ponto em que estamos nos desviando da realidade, sobrepondo algo<br />

falso. Um tema comum ao longo das quatro aplicações da atenção plena é<br />

observar as projeções conceituais que estão sobre o que de fato está sendo<br />

apresentado a nós pela percepção. Nós sobrepomos muitas premissas, desejos e<br />

expectativas não apenas sobre outras pessoas – sobre o que elas pensam ou<br />

sentem, ou sobre o que estão imaginando ou planejando –, mas também sendo<br />

muito vulneráveis a falsas sobreposições acerca de nós mesmos.

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