Felicidade-genuína-B.-Alan-Wallace
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de inter-relacionamento causal – influenciam e são influenciadas. A ciência tem<br />
uma noção similar da realidade. Se você acha que descobriu uma partícula<br />
elementar, precisa ter certeza de que ela pode, por exemplo, influenciar outras<br />
entidades medidas em uma câmara de bolhas, tais como outras partículas<br />
elementares. Se ela não exerce nenhuma influência e não pode ser influenciada<br />
por coisa alguma, não será considerada real.<br />
A partir dessa perspectiva, a crença em coisas imaginárias, ou nas questões<br />
convencionais, é “real”, pois a crença surge na dependência de causas e<br />
condições, e por sua vez influencia outras coisas, tais como o nosso<br />
comportamento. Considere, por exemplo, a crença de que “esse papel é meu”. O<br />
fato de esse papel ser meu não tem eficácia causal própria. Não é como um<br />
martelo ou como uma emoção, capazes, por seu próprio poder, de influenciar<br />
outras coisas. Mas a minha crença de que ele é meu pode influenciar muitas<br />
coisas. Por exemplo, pode fazer com que eu fique chateado se alguém levá-lo<br />
sem minha permissão. Ou eu poderia me sentir gratificado se alguém elogiasse a<br />
qualidade do papel.<br />
Compare essa visão à visão do materialismo científico de que apenas os<br />
fenômenos físicos são reais. O seu cérebro é real. Os seus hormônios, a química<br />
do corpo e as glândulas são reais. Doenças com base neles são reais. Mas os<br />
acontecimentos subjetivos, tais como imagens mentais e sentimentos que<br />
evidentemente não têm qualquer massa ou dimensões espaciais, são de alguma<br />
forma menos reais, porque estão “apenas na sua mente”. A suposição subjacente<br />
aqui é de que os fenômenos objetivos, como massa e energia, são reais, mas<br />
processos mentais subjetivos são reais apenas quando são idênticos a, ou<br />
derivados de, fenômenos físicos.<br />
Os físicos estão preocupados com a compreensão da natureza do mundo<br />
objetivo e real, que existe independentemente da mente, enquanto que os<br />
contemplativos budistas estão preocupados em compreender o mundo da<br />
experiência, que existe apenas em relação à mente dos seres sencientes,<br />
humanos ou não. Essa é uma grande diferença nas orientações básicas dessas<br />
duas tradições. Segundo o budismo, eventos mentais influenciam eventos físicos,<br />
assim como outros fenômenos mentais, e eventos físicos influenciam outros<br />
eventos físicos e eventos mentais imateriais. Se observarmos atentamente o<br />
mundo das experiências, isso se torna perfeitamente óbvio, ainda que não<br />
possamos identificar qualquer mecanismo pelo qual ocorram essas interações<br />
entre processos materiais e imateriais. Elas simplesmente ocorrem. E, se não se<br />
pode encontrar nenhum mecanismo para explicá-las – da mesma forma que não<br />
foi encontrado nenhum mecanismo que explique as interações entre campos<br />
eletromagnéticos e partículas elementares –, talvez essa seja apenas uma<br />
limitação das explicações mecânicas.